Desde o início deste ano, o abate de fêmeas vem aumentando e pode atingir o pico neste mês. Segundo pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em diversas regiões acompanhadas, verifica-se que a oferta de vacas tem superado a de boi, tornando os preços da fêmea mais competitivos que os do macho.
Segundo pesquisadores do Cepea, a maior participação das fêmeas no abate total ocorre geralmente em anos de queda no preço do bezerro e da arroba, cenário que vem sendo verificado neste início de 2017. Considerando-se as médias de fevereiro de 2016 (real) e a da parcial deste mês, o Indicador do bezerro ESALQ/BM&FBovespa (Mato Grosso do Sul, nelore de 8 a 12 meses) registra queda de 15,3% e o Indicador do boi gordo ESALQ/BM&FBovespa (estado de São Paulo), de 10,3% – os dados foram atualizados pelo IGP-DI de janeiro/17.
Além disso, outros fatores também influenciam o aumento no abate de vacas. De acordo com pesquisadores do Cepea, após o período reprodutivo, que começa depois do início das chuvas, nos primeiros meses do ano, pecuaristas conseguem verificar quais fêmeas terão bezerros. Aquelas que não confirmaram a prenhez são destinadas ao abate, já que produtores precisam liberar áreas de pastagem e melhorar o fluxo de caixa.
Considerando-se os últimos 20 anos, em 12 deles, a maior participação de fêmeas no abate mensal foi verificado em fevereiro, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Nos outros oito anos, a maior participação foi observada em março. Em 2005 e em 2013, as fêmeas representaram 46% e 48%, respectivamente, do total abatido em fevereiro. Entre fevereiro de 2004 e de 2005, o bezerro teve desvalorização real de 11% e o boi gordo, de 10%. De 2012 para 2013, a queda foi de 7% tanto para a reposição quanto para a arroba.
De acordo com pesquisadores do Cepea, o maior abate de fêmeas neste momento, por sua vez, tende a reduzir a oferta de bezerros a partir de 2018 e, consequentemente, a disponibilidade de boi gordo no ano seguinte. Esse cenário também resultaria em diminuição na oferta de carne no mercado atacadista.
No curto prazo, medidas protecionistas do presidente norte-americano, Donald Trump, podem ampliar as exportações brasileiras a mercados que antes dependiam dos Estados Unidos, o que elevaria a demanda pela carne bovina nacional. O México, com 120 milhões de habitantes e um potencial mercado consumidor, é uma das possibilidades, já que as relações com os EUA estão abaladas – vale ressaltar, no entanto, que o Brasil ainda dependeria de uma abertura de mercado para embarcar carne bovina ao país mexicano.
Assessoria