O Ministério Público de Mato Grosso (MP-MT) denunciou, na terça-feira (23), o motorista Edmirson Pereira Campos, responsável por dirigir o ônibus que tranportava 45 passageiros, pelo acidente com uma carreta na BR-163 em Sorriso, ao médio-norte do estado, que terminou na morte de oito pessoas.
A defesa dele informou, em nota, que não teve acesso ao teor da denúncia, apesar de ter se reunido com o Ministério Público para tentar um acordo.
A empresa responsável pelo veículo, Itamarati, disse que não há qualquer decisão final a respeito do caso, inclusive sobre eventual irregularidade na carga horária do motorista.
Na denúncia, o promotor de Justiça, Daniel Luiz dos Santos ressaltou que o motorista ainda deveria indenizar os sobreviventes e familiares das vítimas.
"A fixação de valor mínimo de danos morais em favor da família das vítimas falecidas, em valor não inferior a 100 salários-mínimos, cada, bem ainda, em favor das vítimas sobreviventes, no valor de 50 salários-mínimos, bem ainda, danos sociais coletivos em 100 salários-mínimos, para o Conselho Municipal de Segurança Pública de Vera", destacou, no documento.
Conforme a denúncia, um despacho da Procuradoria Regional do Trabalho ainda apontou que o motorista passava por jornada excessiva, com cerca de 12 horas de trabalho com intervalos de apenas 30 minutos.
Relembre o caso
Imagens exclusivas mostram o resgate dos envolvidos. O veículo transportava 45 passageiros.
Entre partes do veículo retorcidas e algumas pessoas soterradas por grãos de soja, socorristas do Corpo de Bombeiros tentavam acalmar o desespero dos sobreviventes.
As frases "Socorro" e "me ajuda" são ditas por passageiros durante o resgate. O esforço para tirar as vítimas do veículo durou horas e desafiou a capacidade dos bombeiros voluntários que ajudavam.
De acordo com a perícia, o ônibus teria invadido a pista contrária da via e bateu de frente com uma carreta que vinha no sentido oposto.
A viagem
Tudo começou com a partida do ônibus de Cuiabá no dia 16 de maio de 2022, às 22h, com destino a Sinop. Durante o trajeto, o veículo quebrou na madrugada do dia 17, às 2h30, antes de chegar a Lucas do Rio Verde.
"Ficou de 2h30 até 7h30 da manhã na pista, até um motorista consertar. E a empresa alegando para gente que estava vindo um carro suporte", disse a sobrevivente Kely Eronides da Silva da Cruz.
E, 35 km antes de chegar ao destino, o ônibus se acidentou com a carreta.
Socorro das vítimas
A pista ficou totalmente interditada por cerca de cinco horas, enquanto as vítimas estavam sendo socorridas por equipes de resgate da concessionária Rota do Oeste e Corpo de Bombeiros. Um helicóptero do Centro Integrado de Operações Aéreas (CIOPAer) também foi encaminhado para o local para ajudar no resgate dos sobreviventes.
Os passageiros com ferimentos leves eram tratados ainda na rodovia. Já as pessoas que estavam em estado grave eram levadas para o estacionamento da Catedral de Sinop, pelo helicóptero e, depois para o hospital regional.
"Naquele dia, tivemos que contar às famílias que um pai, uma mãe, um filho veio a óbito. É sempre muito triste", descreve Camila Carvalho, médica do Corpo de Bombeiros de Sinop.
Perícias opostas
Segundo o perito da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), Leandro Valendorf, o ônibus foi o causador do acidente. "Por algum motivo, ele veio invadir a faixa que a carreta trafegava e, por conta disso, se deu causa ao acidente", explicou.
A defesa do motorista da empresa do ônibus da Itamaraty contestou e contratou um perícia particular. "O ônibus, na verdade, foi desviar do caminhão, que vinha na contramão, só que ele tentou voltar para a sua faixa, só que em sua alta velocidade e devido ao peso do veículo, o caminhão fez o chicote, tanto é que não houve uma colisão [toda] frontal", disse o advogado Edlênio Barreto.
Por meio de nota, a empresa responsável pela carreta nega a versão da perícia particular. O motorista da carreta sobreviveu e segue afastado da função. Ele perdeu a visão do olho esquerdo.
O motorista do ônibus não foi ouvido pela polícia, pois a equipe não teve sucesso no contato com ele. Segundo a esposa dele, que foi ouvida pela reportagem, ele não se lembra bem do caso. "Sempre quando vê uma reportagem, ele pergunta: Mas foi eu que matei?".
O inquérito foi concluído pela Polícia Civil. No documento, o motorista do ônibus é apontado como único responsável pelo acidente. O Ministério Público deve avaliar o resultado e apresentar, ou não, à Justiça.