Aqui me tens inerme e a ti exposta
olhos nos olhos, sem defesa alguma,
entregue ao teu olhar que em si se abruma
por entre véus, sem dar-me uma resposta.
Teimosamente o meu olhar te arrosta
– te espreita como espreita a caça a puma –
contudo o teu me escapa mudo e, em suma,
tua presença ausente me está posta.
Inerme, sem ferrões, porém não morta,
a minha placidez em si comporta
veneno sem antídoto, sem cura.
Na minha mansidão moram serpentes
que têm veneno em presas inclementes
que quanto mais retido mais depura.
Edir Pina de Barros é membro da Academia Brasileira de Sonetistas e da Academia Virtual de Poetas de Língua Portuguesa. Seus poemas estão disponíveis em vários livros, antologias, revistas eletrônicas e nas mídias sociais. É doutora e pós-doutora em Antropologia pela USP, professora aposentada (UFMT). Nasceu no Mato Grosso do Sul e hoje reside em Brasília.