Segundo Oliveira, os dois estudantes de filosofia foram mortos pelo coronel Freddie Perdigão, apontado como um dos criadores do Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi). “Ele se abaixou, quase de joelhos, e deu um tiro na cabeça de cada um”, disse, detalhando que Perdigão usou uma pistola Colt 45.
Oliveira garante ter participado de toda a operação que resultou na execução do casal, desde a captura em uma casa no bairro de Vila Isabel, na zona norte do Rio de Janeiro, até os dois serem levados para um sítio à margem da Via Dutra, onde foram mortos.
Segundo ele, antes da execução, o casal foi torturado em uma chácara em São João do Meriti, na Baixada Fluminense. “Um lugar tenebroso”, descreveu.
Algum tempo depois da execução, Oliveira disse que deixou o Exército por não concordar com aquele tipo de violência, e que chegou a passar um ano no Chile para escapar das perseguições dos militares. Em 1998 foi reintegrado, sendo dispensado no ano seguinte.
A versão oficial da época atribuiu a morte do casal Abi-Eçab à detonação de explosivos que os dois estudantes transportavam enquanto viajavam de carro pela BR-116, no trecho próximo a Vassouras.
Em 2000, porém, o laudo da exumação dos restos mortais mostrou que os dois foram executados. Militantes da Ação Libertadora Nacional, o casal era suspeito de ter participado da execução do capitão do Exército norte-americano Charles Rodney Chandler, em 12 de outubro de 1968.
De acordo com Oliveira, também participou da operação de sequestro e execução do casal o sargento Guilherme do Rosário, que morreu no atentado do Riocentro, quando a bomba que carregava explodiu em seu colo, dentro do carro.
O soldado reforçou a ligação de Rosário com o coronel Perdigão, apontado como mentor do atentado a bomba malsucedido ao Riocentro, onde ocorria o show comemorativo do Dia do Trabalho, em 1981. O coronel Perdigão morreu em 1997.
Em seu depoimento, Oliveira destacou ainda a participação de agentes dos Estados Unidos na doutrinação de soldados brasileiros. Segundo ele, nos treinamentos, foram exibidos filmes de torturas cometidas pelos norte-americanos na Guerra do Vietnã.
Fonte: Jornal do Brasil