Jovem morreu na Santa Casa de São Carlos nesta quarta-feira (Foto: Silvia Mattos/Arquivo Pessoal)
Uma jovem de 17 anos morreu na quarta-feira (21) na Santa Casa de São Carlos (SP) e a família acredita em negligência médica. Segundo a mãe, antes de ser submetida a uma cirurgia e sofrer cinco paradas cardíacas, a filha teve muita dor e foi atendida pelo menos seis vezes em duas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) da cidade. A causa da morte ainda é desconhecida. Os familiares afirmaram que vão registrar um boletim de ocorrência e entrar com uma ação na Justiça.
A prefeitura informou que será aberta uma auditoria para analisar os prontuários da paciente e abrirá uma sindicância para apurar os atendimentos prestados nas UPAs. Já a Santa Casa informou que cumpriu todos os protocolos de atendimento médico hospitalar com a paciente, dentro do serviço de Urgência e Emergência que o hospital disponibiliza.
Atendimentos
A mãe contou que Jaqueline de Queiroz Mattos Zanquim começou a reclamar de dor na segunda-feira (19), mas não recebeu antendimento adequado nas UPAs dos bairros Santa Felícia e Vila Prado.
“Ninguém pediu exame para ver o que era. Se recusaram até a tentar diagnosticar dengue. Sei que nada vai trazer minha filha de volta, mas eles são médicos e estudaram para isso, eles deveriam saber o que ela tinha. Talvez se tivessem tentado fazer qualquer exame que fosse, ela estaria aqui agora”, desabafou Silvia de Queiroz Mattos.
De acordo com a mãe, durante os atendimentos foram aplicadas altas doses de soro e medicamentos. Ela disse ainda que jovem recebeu diagnósticos variados, como gripe forte, pneumonia, dengue e até mesmo ‘nenhum problema’.
Dores abdominais
Na quarta-feira, a jovem reclamou de dores abdominais e teve febre alta. Com dificuldades para respirar, ela chegou a desmaiar no banheiro, contou a mãe.
Após colocar a filha no carro e levá-la à UPA da Vila Prado, Silvia alegou não ter recebido ajuda de nenhum enfermeiro ou funcionário, mesmo pedindo para que a filha fosse socorrida de imediato.
“Eu buzinei, gritei por socorro e ninguém apareceu. Tive que arrastar minha filha porque não conseguia carregar ela. Ela estava toda gelada, roxa e só dizia que não conseguia respirar. Quando cheguei, uma funcionária perguntou se era ‘droga ou bebida’, foi humilhante para nós. Fiquei desesperada”, disse.
A jovem foi encaminhada no período da noite para a Santa Casa, onde foi atendida e passou por cirurgia, mas quando já estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) sofreu cinco paradas cardíacas e não resistiu.
“Ela só sabia chorar de dor. Disseram que iam colocar uma câmera por dentro para ver onde era a infecção, e como demorou um pouco, fiquei com esperança de que ela estivesse sendo curada, mas então o médico veio até mim e disse que ela tinha morrido. Fiquei sem chão, meu mundo acabou”, contou a mãe emocionada.
‘Menina sonhadora’
De acordo com a mãe, Jaqueline lutava pelo sonho de se formar em arquitetura. Recentemente havia sido aprovada em uma faculdade, mas não conseguiu concluiu a matrícula por falta de dinheiro. Além disso, a jovem também perdeu a formatura do ensino médio.
“Ela foi enterrada com o vestido que compramos para usar na formatura. Ninguém tem ideia do quanto é doloroso perder uma filha, ver ela morrendo e não poder fazer nada. Eu estava de mãos atadas, sem dinheiro, sem gasolina para conseguir socorrer ela e sem atendimento necessário. O posto não tinha remédio que receitaram, ninguém pediu um exame sequer. Se ela tivesse sido diagnosticada nas primeiras vezes, estaria aqui agora”, desabafou a mãe.
Para ela, uma das piores sensações é ainda não saber qual foi a real causa da morte da filha, que sempre foi saudável.
"Parece que todo o meu sacrifício para criar quatro filhos sozinha foi em vão. Aquelas palavras [do médico] não saem da minha cabeça, é minha morte saber que não posso mais ver ela e nem saber porque ela morreu”, contou Silvia.
O corpo da jovem foi sepultado na tarde de quinta-feira (23). A família aguarda o resultado do laudo com a causa da morte.
Sob supervisão de Fabio Rodrigues, do G1 São Carlos e Araraquara.
Fonte: G1