Economia

Cenário de preços para o boi gordo em 2017 é desafiador

Os analistas do segmento pecuário estão prevendo um ano desafiador, difícil. Especialmente pela possível queda no consumo de carne pelas dificuldades econômicas da população brasileira, inclusive o alto desemprego.

O mercado externo ainda é uma incógnita,mas as previsões não apontam crescimento no volume de compras. Há quem considere muito bom se o mercado externo permanecer estável, como está finalizando 2016.

CENÁRIO DESAFIADOR

O cenário para os preços do boi gordo em 2017 parece bastante desafiador. Isso porque a oferta deve voltar a subir e ainda há riscos para a demanda tanto no mercado doméstico quanto no internacional. A opinião é do analista sênior de Agronegócios no Itaú BBA, Guilherme Melo.

Conforme o estudo realizado na diretoria do banco, do lado da oferta, já há indícios de que se vive uma virada do ciclo pecuário. A redução das margens observadas da cria na esteira da queda do preço do bezerro sugere que podemos voltar a ter um aumento do descarte de vacas. De fato, os preços do bezerro já começaram a apresentar quedas ao longo de 2016. Além disso, a retenção de vacas que ocorre desde 2014, combinada com um aumento da produtividade da pecuária no Brasil, também nos faz prever que teremos já em 2017 aumento da disponibilidade de bois para o abate.

Esse movimento de aumento de oferta de animais para o abate pode ser acompanhado de um aumento do peso médio da carcaça, dada a perspectiva de boas condições climáticas para o desenvolvimento das pastagens e, em grande parte, dos principais cinturões de produção e da redução dos custos da ração.

Não se pode deixar de comentar que, durante a entressafra em 2017, o volume de animais confinados/semiconfinados deverá voltar a crescer diante dos preços mais moderados da reposição e também da provável queda dos custos da ração (milho e farelo de soja).

CONSUMO INTERNO DEVE SER MENOR

O cenário para a demanda doméstica tende a ser ligeiramente melhor do que o observado em 2016, tendo em vista a provável redução de produção de carne de frango – que parece já estar contratada para o primeiro semestre de 2017 – e também da volta do crescimento do PIB. Porém, o elevado nível de endividamento da população e a alta taxa de desemprego, que deve perdurar por pelo menos mais um ano antes de inverter a tendência, tende a limitar o espaço para um aquecimento do consumo.

No mercado internacional, a carne brasileira deve se beneficiar em 2017 de um cenário de câmbio um pouco mais desvalorizado, oferta limitada de importantes países exportadores – notadamente a Austrália – e de uma recuperação parcial dos preços médios do petróleo, que deve ajudar a recuperar o nível de renda de importantes países compradores da carne brasileira. Boas notícias poderão vir também de uma possível habilitação dos estados de Rondônia e Tocantins para exportar para a União Europeia.

EXPORTAÇÕES PODEM SER MENORES

Porém, há ainda alguns riscos para que as exportações decolem. O primeiro deles pode vir do aumento da oferta de carne bovina dos EUA – que devem aumentar 4% em 2017 – e de uma reabertura do mercado chinês para as carnes desse país. Em setembro passado, o Ministério da Agricultura da China retirou a barreira às importações impostas ao produto americano em 2001 após casos de vaca louca serem deflagrados. No entanto, para que os negócios de fato se restabeleçam ainda é preciso que os dois países negociem um protocolo de exportação.

Outro fator que merece atenção é a elevação da produção e exportação global de carne de frango. De acordo com o Usda, a expectativa é que em 2017 o comércio global desse tipo de carne cresça 5% frente ao ano anterior. Embora ainda careça de um estudo mais detalhado sobre as relações de causalidade entre os preços de tais produtos, não se pode descartar a hipótese de que preços mais baixos da carne de frango no mercado internacional exerça alguma influência sobre as cotações da carne bovina exportada pelo Brasil. É válido ressaltar que em 2016 continuamos a observar fechamentos de plantas frigoríficas no Brasil e, consequentemente, do tamanho do mercado de abate. Para 2017, embora o aumento da oferta pudesse sugerir a volta às atividades de parte dessas operações, o cenário incerto de demanda atrelado às restrições de crédito deixa pouca possibilidade para que isso ocorra.

OUTRAS ANÁLISES

Da Scot Consultoria, o analista Gustavo Aguiar, em recente entrevista, também demonstrou não acreditar em melhora do mercado bovino no próximo ano, focando principalmente no primeiro trimestre de 2017. Questionado sobre o que não tem permitido o preço do boi gordo reagir, ele lembrou que “a demanda tem regulado bastante o mercado. Com o escoamento em ritmo lento, os frigoríficos saem com muito menos agressividade às compras, o que tem deixado o mercado com esse tom de estabilidade”.

Perguntado sobre as exportações, que ao invés de subirem neste final de ano tem caído mês a mês, o analista disse: “Dois fatores foram importantes. O primeiro foi o dólar, que recuou significativamente desde o começo do ano. Mesmo diante de uma cotação de atual próxima de R$3,50, a forte alteração de patamar (saiu de R$4,16 ao fim de janeiro para R$3,12 ao fim de outubro) exerceu uma mudança na dinâmica dos embarques. O segundo ponto é a própria produção, em queda este ano face à diminuição dos abates”, explicou.

E por fim, sobre as perspectivas para o novo ano, Gustavo acha que “é bem possível que tenhamos um mercado mais pressionado no primeiro trimestre. Três fatores podem entrar em ação: o encolhimento adicional da demanda, que ocorre sazonalmente; um deslocamento da oferta de bovinos que não foram confinados para os primeiros meses de 2017 e maior oferta de fêmeas que, como já foi falado, tende a acontecer pela alteração do ciclo pecuário.

Correio do Estado

Redação

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