Cidades

Corpo de Dom Paulo será sepultado hoje na cripta da Catedral da Sé

O corpo do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de São Paulo, é velado há 36 horas na Catedral da Sé, no Centro de São Paulo. Ele será sepultado na tarde desta sexta-feira (16), na cripta da igreja. 

Arns morreu na quarta (14) em decorrência de uma broncopneumonia, aos 95 anos. O cardeal se destacou na luta pelos direitos humanos durante a ditadura militar. 

O velório começou na quarta na própria catedral, onde são celebradas missas de duas em duas horas em memória do arcebispo. Nesta quinta, estiveram na cerimônia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, parentes do cardeal, amigos, além de fiéis que lotaram o templo. 

“O amor dele pelo próximo sempre foi muito grande”, disse Otília Arns, irmã do cardeal. A emoção tomou conta de Clarice Herzog, viúva do jornalista Vladimir Herzog, assassinado sob tortura pela ditadura militar. Clarisse se despediu em silêncio do amigo que abriu as portas da igreja quando muitos viravam as costas. 

Secretária do arcebispo durante 40 anos, Maria Ângela Borsoi contou que aprendeu com ele a não ter medo de nada. “Ele viveu 95 anos de uma vida maravilhosa e graças a fé cristã”, disse. “Ele já sonhava a hora do encontro final com deus por causa da fé na ressurreição e na vida eterna.” 

No início da noite, o ex-presidente Lula participou de uma das missas. Ao sair, afirmou que Dom Paulo era um homem de coragem. “A carne dele se vai, mas a ideia de Dom Paulo, a dedicação aos pobres, o amor que ele dedicava ao povo de São Paulo e ao povo brasileiro vai continuar sempre”, disse o ex-presidente. 

Luta pelos direitos humanos
Quinto de 13 filhos de imigrantes alemães, Dom Paulo Evaristo Arns nasceu em 1921 em Forquilhinha, Santa Catarina. Ingressou na Ordem Franciscana em 1939, e iniciou seus trabalhos como líder religioso em Petrópolis, no Rio de Janeiro. 

Formou-se em teologia e filosofia em universidades brasileiras. Ordenado sacerdote em 1945, ele foi estudar na Sorbonne, em Paris, onde cursou letras, pedagogia e também defendeu seu doutorado. 

Foi bispo e arcebispo de São Paulo entre os anos 60 e 70. Teve uma atuação marcante na Zona Norte da cidade, região em que desenvolveu inúmeros projetos voltados para a população de baixa renda. Em julho deste ano, foi celebrado os 50 anos de sua ordenação episcopal. 

Ao longo de sua trajetória, trabalhou como jornalista, professor e escritor, tendo publicado 57 livros. Durante a Ditadura Militar, destacou-se por sua luta política em defesa dos direitos humanos, contra as torturas e a favor do voto nas Diretas Já. 

Ganhou projeção na militância em janeiro de 1971, logo após tornar-se arcebispo de São Paulo, e denunciar a prisão e tortura de dois agentes de pastoral, o padre Giulio Vicini e a assistente social Yara Spadini. 

No mesmo ano, apoiou Dom Hélder Câmara e Dom Waldyr Calheiros que estavam sendo pressionados pelo regime militar. 

Em 1972 criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo e, como presidente regional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), liderou a publicação do “Testemunho de paz”, documento com fortes críticas ao regime militar que ganhou ampla repercussão à época. 

Presidiu celebrações históricas na Catedral da Sé, no Centro de São Paulo, em memória de vítimas da Ditadura Militar. Dentre eles, do estudante universitário Alexandre Vannucchi Leme, assassinado em 1973, e o ato ecumênico em honra do jornalista Vladimir Herzog, assassinado no DOI-CODI, em São Paulo, em 75. 

Atuou contra a invasão da PUC em 1977, em São Paulo, comandada pelo coronel Erasmo Dias, à época secretário de Segurança, e a operação para entregar ao presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, uma lista com os nomes de desaparecidos políticos. 

Também teve papel importante em favor das vítimas da ditadura na Argentina, em 1976. O ativista de direitos humanos argentino Adolfo Perez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980, disse que foi "salvo duas vezes" por dom Paulo Evaristo Arns durante a ditadura no Brasil. 

Em 1980, acompanhou a primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil, em 1980. Em São Paulo, João Paulo II falou no estádio do Morumbi para 200 mil operários. 

Em 1983, foi um dos criadores da Pastoral da Criança, com o apoio de sua irmã, Zilda Arns, que morreu no terremoto de 2010 no Haiti, onde realizava trabalhos humanitários. 

Em 28 anos de arcebispado, criou 43 paróquias, construiu 1200 centros comunitários, incentivou e apoiou o surgimento de mais de 2000 comunidades eclesiais de base (CEBs) na capital paulista. 

Por seus feitos, recebeu inúmeros prêmios e homenagens no Brasil e no exterior. Dentre eles, o Prêmio Nansen do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), o Prêmio Niwano da Paz (Japão), e o Prêmio Internacional Letelier-Moffitt de Direitos Humanos (EUA), além de 38 títulos de cidadania. 

Sua biografia foi relatada em dez livros, sendo o mais recente lançado em outubro deste ano, no Tuca, teatro da PUC, na Zona Oeste de São Paulo, durante uma homenagem pelos 95 anos de Dom Paulo. 

Arns organizou o Projeto Brasil: Nunca Mais desenvolvido ao lado do rabino Henry Sobel, Pastor presbiteriano Jaime Wright e equipe, no qual reuniram informações em 707 processos do Superior Tribunal Militar (STM) revelando a extensão da repressão política no Brasil e sistematizada em um livro. 

Dom Paulo era corintiano fanático e escreveu o livro "Corintiano Graças a Deus". 

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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