O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quinta-feira (23) não ter conversado com ninguém a respeito da entrevista concedida à Folha de S.Paulo pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), na qual ela fez críticas ao aliado.
"Não discuti o assunto dessa notícia com ninguém. Eu não li essa entrevista, nem vou ler", disse Bolsonaro à CNN Brasil.
A deputada federal, bolsonarista e apoiadora da pauta armamentista, deu entrevista ao jornal criticando a postura de seu aliado após a derrota nas eleições presidenciais do ano passado, e levantou a bandeira branca ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Ela afirmou que Bolsonaro deveria ter repudiado veementemente os atos antidemocráticos pelo país antes de deixar a presidência, e disse que o esforço da oposição deve ser no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Na live que Bolsonaro fez em 30 de dezembro, ele tinha que ter deixado claro o que pensava. Ele seria um remédio [contra o golpismo] se tivesse dito que era para as pessoas saírem dos quartéis."
"Tenho dito que, como deputada, minha briga não pode ser a mesma da legislatura passada. Eu tinha o papel de defender Bolsonaro e o governo, qualquer um que os atacasse tinha que virar um alvo meu. Nesta legislatura, Bolsonaro não é mais presidente, então nosso alvo tem que ser Lula, seus feitos e desfeitos", disse Zambelli.
"A gente está em outro patamar, agora não é hora de bater no STF", completou a deputada.
Mesmo assim, a entrevista gerou repercussão entre o círculo de Bolsonaro. Segundo reportagem da coluna Monica Bergamo, o ex-presidente afirmou a interlocutores mais próximos que foi traído por Zambelli, acreditando em um possível acordo feito por ela com Moraes para retornar às redes sociais e evitar a possibilidade de prisão.
A tese teria sido reforçada com a entrevista e com a decisão do ministro da Suprema Corte brasileira permitindo a reativação das redes sociais da parlamentar, antes suspensas.
Já deputados mais próximos a Bolsonaro desaprovaram as opiniões de Carla Zambelli, entendendo a entrevista como uma forma de autopromoção e de confirmação de uma suposta infidelidade ao ex-presidente.
No círculo bolsonarista, a deputada federal vem sendo chamada de "nova Joice", em referência à Joice Hasselmann, fiel aliada do ex-presidente que passou a ser uma opositora.
Para esses deputados, a parlamentar está aderindo ao pragmatismo político pelo medo de ser presa e, atualmente, é consenso que os ataques têm que ser concentrados em Lula em vez do STF.
A relação do ex-mandatário e da deputada federal se estremeceu desde o episódio protagonizado por Zambelli às vésperas do segundo turno, quando ela apontou uma arma e perseguiu um homem negro no Jardins, bairro nobre da cidade de São Paulo.