Uma lembrancinha oferecida durante uma festa infantil de aniversário em Guapé (MG) virou polêmica nas redes sociais. Pequenas caixas de madeira com pintinhos dentro foram distribuídas entre os convidados como parte da temática da festa, baseada no personagem "Galinha Pintadinha". Mas o que era para ser um presente, causou indignação entre muitos internautas.
"Isso é um absurdo! Cadê a lei que dá proteção aos animais? Que covardia!", escreveu uma internauta. "Tem hora que fico desanimada com certas coisas que vejo! O povo é criativo, mas não precisa ser de mau gosto! Presentear com pintinhos??? Poderia ser de pelúcia, 'né', 'gentemmmm'!", observou outra.
Caiu na rede
A festa em comemoração ao aniversário de dois anos de um menino de Guapé foi organizada no dia 19 de abril por um buffet sediado em Ilicínea (MG). Na data da comemoração, uma funcionária da empresa divulgou fotos dos preparativos. No dia seguinte, o fotógrafo contratado pelo buffet fez a mesma coisa. Internautas então começaram a questionar a escolha das lembrancinhas.
A postagem foi compartilhada até chegar à página de uma organização batizada de "Direito dos Animais", que se manifestou contrária ao uso de animais como presente. Os seguidores da página levantaram, inclusive, a intenção de denunciar o buffett pela inciativa.
A proprietária da empresa foi procurada pelo G1, mas não quis comentar o assunto.
Em outro número de contato com o buffet, um homem, que não quis se identificar, repetiu a resposta dada pela proprietária, mas disse ao G1 que não compreende o porquê da polêmica. "Não houve maus-tratos. Havia água e comida suficientes para eles [os pintinhos]", disse. "A caixinha era apenas um meio de transporte, utilizado cinco minutos antes dos convidados deixarem a festa", explicou antes de desligar o telefone.
Internautas e protetores dos animais, no entanto, não acham que a lembrancinha de aniversário seja tão simples assim. Questiona-se o confinamento dos filhotes de galinha em um espaço tão pequeno, como aparenta ser o da caixa em que estavam. Além disso, o uso dos animais como presente tem sido duramente criticado.
Debate
Bacharel em Direito com atuação em grupos de proteção animal, Carla Viviane Fernandes Sousa, de 33 anos, vê com preocupação a iniciativa do buffet.
"É uma questão mais de mentalidade e posição das nossa sociedade", diz Carla. "Imagina as condições em que os pintinhos estavam. Mas além da questão ética existe a questão legal. Há leis ambientais que protegem os animais e o Brasil é signatário da Declaração Universal dos Direitos dos Animais", observa.
Segundo a declaração, proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1978 em Bruxelas, na Bélgica, os animais devem ser protegidos pelo homem e não podem ser submetidos a situações consideradas humilhantes e degradantes.
No entanto, a protetora reconhece que a legislação existente abre brecha para interpretação.
"A Constituição protege os animais e o Ministério Público pode até atuar em questões como essa, mas o problema é que nossa sociedade e nosso sistema judiciário enxergam os animais como uma coisa", avalia.
Para Carla, que tem uma filha de seis anos, associar o animal à noção de brinquedo reproduz na criança a ideia de que ele é um objeto que pode ser descartado.
"A criança não tem noção do que é criar uma galinha. E quem hoje tem condições de criar uma galinha dentro de casa?", questiona. "Eu acredito que é preciso ensinar noções de cidadania, de respeito à vida", acredita a protetora.
Fonte: G1