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Morte de aluno bombeiro será analisado pela Justiça Comum

Foto: Reprodução

Com Valquiria Castil

Após o inquérito da Polícia Civil apontar a morte do aluno bombeiro, Rodrigo Patrício Lima Claro, 21, durante treinamento, como tortura cometido pela tenente Izadora Ledur, o caso deve ser julgado pela Justiça Comum, de acordo com o Ministério Público Estadual (MPE-MT).

O promotor de Justiça Allan Sidney Souza, que atua perante a Justiça Militar, considerou, nesta terça-feira (21), a 11ª Vara Militar da Capital como incompetente para a instrução e julgamento do processo.

Segundo Souza, várias testemunhas deram sustentação “sólida e incontestável” atestam que o crime não se trata de um caso militar.

“Não estamos a tratar de um crime militar, senão de um crime de tortura. Logo, em hipótese alguma, tais fatos devem ser processados e julgados pela Justiça Militar”, declarou o promotor.

Com o inquérito policial, de mais de 500 páginas, o promotor de Justiça observou que o soldado Rodrigo Claro foi submetido a constantes e excessivas agressões físicas e verbais, causando-lhe nítido sofrimento físico e mental.

“Antes mesmo do início da fatídica instrução militar, ele (o soldado) já havia confidenciado à sua genitora o medo que tinha de não concluir o curso, máxime, em razão das ameaças já proferidas pela investigada tenente Izadora Ledur”, pontuou Souza.

Caso similar

O promotor de Justiça relembrou ainda um caso que aconteceu com o soldado da Força Nacional da Polícia Militar do Estado do Alagoas, Abinoão Soares de Oliveira, era um dos 25 alunos do 4º Curso de Tripulante Operacional Multimissão (TOM-MT).

Após treinamento de flutuação em um clube de golfe na estrada do Lago do Manso, Abinoão e mais três militares sofreram um mal súbito, receberam os primeiros atendimentos pela equipe do Corpo de Bombeiros que fazia a prevenção no local do treinamento e posteriormente foram levados ao Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC). Abinoão não resistiu e morreu na unidade de saúde da Capital. Os demais militares ficaram em observação no PSMC e fora de perigo.

“Nesse caso, em sede recursal, o Tribunal de Justiça entendeu que a submissão de policiais militares durante instrução de curso, a intenso sofrimento físico, o qual no caso em apreço, levou o aluno a morte, está a caracterizar o crime de tortura”, esclareceu.

Justiça Comum X Justiça Militar

Existem dois inquéritos relacionados à morte do soldado do Corpo de Bombeiros Militar, Rodrigo Claro. O primeiro foi realizado pela Corregedoria do Corpo de Bombeiros Militar e encaminhado para a 13ª Promotoria de Justiça Criminal, que atua perante a Justiça Militar.

Já o segundo foi realizado pela Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP) e encaminhado no final da tarde de segunda-feira (20) à 7ª Vara Criminal de Cuiabá. Neste inquérito foram ouvidas mais de 50 pessoas.

No inquérito, a tenente Izadora Ledur é eximida de homicídio, porém apontada por tortura ao impor ao ex-aluno sob forte pressão para praticar atividades e ter que conduzir a sua moto sem auxílio até o 1º Batalhão dos bombeiros mesmo sem condições.

O caso

No dia 10 de novembro de 2016, aluno do curso de formação do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso, Rodrigo Claro, realizava um treinamento na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, quando ele passou mal e foi liberado.

O jovem foi encaminhado à Policlínica do Verdão para receber os primeiros socorros, mas acabou sendo transferido para o Hospital Jardim Cuiabá. Ele deu entrada no hospital com aneurisma cerebral após ter recebido uma suposta série de afogamentos durante o curso.

Rodrigo Claro permaneceu internado por cinco dias até sua morte.

O soldado já havia relatado a conduta da oficial do Corpo de Bombeiros que comandava o curso de treinamento. Rodrigo afirmou que ocorreram outros casos e que as sessões de afogamento eram comuns. Outros alunos que estiveram no curso, confirmaram a perseguição da tenente com o então aluno.

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Jefferson Oliveira

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