A madrasta e uma das acusadas pela morte do menino Bernardo Boldrini, Graciele Ugulini, foi ouvida na segunda-feira (7) pela Polícia Civil. Ela está presa no Presídio de Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre, desde abril de 2014, depois que o corpo do garoto foi encontrado enterrado em uma cova rasa no interior de Frederico Westphalen, no Norte do Rio Grande do Sul.
O depoimento faz parte da investigação da morte de Odilaine Uglione, mãe de Bernardo, reaberta em maio. Mais de 50 pessoas já foram ouvidas desde que a Justiça determinou uma nova investigação. Foi solicitada uma perícia na arma do crime e na carta de suicídio supostamente deixada por Odilaine. O corpo dela também foi exumado.
A mãe de Bernardo foi encontrada morta em 2010, dentro da clínica do marido, o médico Leandro Boldrini, na cidade de Três Passos, no Noroeste, onde ele morava com o filho. A apuração, concluída no mesmo ano, foi reaberta após uma perícia questionar a hipótese de suicídio, como havia concluído o inquérito policial realizado na época.
Outra acusada no caso Bernardo, Edelvânia Wirganovicz, citou em uma entrevista entrevista a suposta participação de Graciele e da delegada Caroline Bamberg Machado, responsável pela investigação na época, na morte da mãe do menino. Edelvânia disse que a delegada foi subornada para interromper a apuração sobre o que aconteceu com Odilaine Uglione. Ela afirmou que a delegada recebeu dinheiro de Leandro Boldrini, pai de Bernardo, para arquivar a investigação da morte de Odilaine.
"Eu respeito esses servidores da polícia. No entanto, essas informações que foram trazidas pela Edelvânia devem ser investigadas. A própria outra ré lhe disse que o pai do menino havia pago valores para a delegada para arquivar esse primeiro inquérito sobre a morte da mãe”, diz o advogado de Edelvânia, Jean de Menezes Severo.
Uma semana após a reabertura da investigação, ainda no mês de maio, outra denúncia chegou na delegacia de Santa Rosa. Uma testemunha disse que a delegada Caroline começou a construir um prédio no centro de Três Passos, e que o valor da mão de obra teria sido financiado por Leandro Boldrini em troca do arquivamento das investigações da morte de Odilaine.
A denunciante disse que, por diversas vezes, tentou levar os fatos ao conhecimento das autoridades. E somente com a nova investigação, pode revelar o que sabia à polícia.
O delegado Marcelo Mendes Lesh, responsável pela nova investigação da morte de Odilaine disse que todas as informações serão apuradas e levadas ao judiciário no inquérito policial. A partir da denúncia feita por Edelvânia, Marcelo ouviu ela novamente e solicitou à Justiça o novo depoimento de Graciele Ugulini. A ideia do delegado é confrontar as versões das duas.
O advogado da família de Odilaine espera que tudo seja devidamente investigado. "Existem documentos públicos no próprio inquérito que corroboram aquilo que a Edelvânia disse”, afirma Marlon Taborda.
O próximo passo da investigação será a reconstituição da morte de Odilaine, nos dias 15 e 16 de dezembro na clínica de Leandro Boldrini, em Três Passos. O prédio deverá ser isolado. A Justiça já autorizou a participação do médico e pai de Bernardo.
Boldrini também é réu no processo que investiga a morte do garoto. O corpo dele, então com 11 anos de idade, foi encontrado enterrado em um matagal na área rural a cerca de 80 quilômetros de Três Passos, onde ele morava com a família. Ele estava há 10 dias desaparecido.
Também são réus no processo a madrasta Graciele e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz. Os quatro estão presos desde abril de 2014 e respondem por crimes como homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Eles irão a júri popular.
Sobre a morte de Bernardo
– O corpo de Bernardo foi encontrado pela polícia no dia 14 de abril de 2014, enterrado em um matagal de Frederico Westphalen, a cerca de 80 km de Três Passos, onde a família residia. Ele estava desaparecido desde o dia 4 de abril.
– Bernardo Boldrini foi visto vivo pela última vez no dia 4 de abril de 2014 por um policial rodoviário. No início da tarde, Graciele foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. A mulher trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
– Um vídeo divulgado em maio do ano passado mostra os últimos momentos de Bernardo. Ele aparece deixando a caminhonete da madrasta, Graciele Ugulini, e saindo com ela e com a assistente social Edelvânia Wirganovicz. Horas depois, as duas retornam sem Bernardo para o mesmo local.
– Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e, depois, teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo. A denúncia do Ministério Público apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita. A defesa do pai nega.
– Em vídeo divulgado pela defesa de Edelvânia, ela muda sua versão sobre o crime. Nas imagens, ela aparece ao lado do advogado e diz que a criança morreu por causa do excesso de medicamentos dados pela madrasta. Na época em que ocorreram as prisões, Edelvânia havia dito à polícia que a morte se deu por uma injeção letal e que, em seguida, ela e a amiga Graciele jogaram soda cáustica sobre o corpo. A mulher ainda diz que o irmão, Evandro, é inocente.
Fonte: G1