Política

Em entrevista a Veja, Maggi diz que vai deixar a política e “ser feliz”

 
Há cinco anos, a revista Forbes o elegeu como um dos líderes mais influentes do mundo. Não é incomum que personagens com uma biografia assim acabem seduzidos pelos encantos da política. 
 
Em 2002, motivado por uma promessa religiosa, o empresário se candidatou ao governo de Mato Grosso, a base territorial de seus negócios. Elegeu-se com facilidade, reelegeu-se em 2006 e, em 2010, conquistou um mandato de senador pelo PR. 
 
O congressista sempre foi próximo ao governo e esteve no topo das listas de ministeriáveis. Alguns colegas do seu partido tinham até planos mais ambiciosos para ele: sonhavam vê-lo como candidato à Presidência da República. A carreira de Blairo Maggi, no entanto, chegou ao fim.
 
Na semana passada, ele anunciou que vai abandonar a política. Motivo: constrangimento. 
 
O empresário admirado deu lugar a um político investigado por envolvimento em crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
 
O senador Blairo Maggi está no centro de uma investigação federal sobre desvios de recursos públicos em Mato Grosso. Na última terça-feira, por ordem da Justiça, a Polícia Federal realizou uma operação que resultou na prisão de ninguém menos que o atual governador do estado, Silval Barbosa, e seu ex-secretário da Fazenda.
 
Eles são acusados de montar um esquema clandestino de arrecadação para campanhas políticas que funcionava assim: empresários amigos contraíam empréstimos bancários e apresentavam como garantia de pagamento da dívida precatórios ou créditos de contratos com o governo do estado — mas tudo não passava de simulação. 
 
O dinheiro sacado no banco era repassado integralmente a alguns representantes do grupo político de Blairo Maggi e Silval Barbosa. No fim, o governo de Mato Grosso é que acabava quitando a dívida com os bancos. 
 
A polícia descobriu que despesas de alimentação, pesquisas eleitorais e transporte de eleitores, entre outros itens de campanha, foram integralmente bancados com o dinheiro dos impostos pagos pelos contribuintes mato-grossenses durante mais de quatro anos.
 
Além do governador Silval Barbosa, que acabou preso por porte de arma com registro vencido durante buscas em sua residência, o senador Blairo Maggi é citado como um dos beneficiários desse esquema fraudulento. Ele é apontado como destinatário de pelo menos dois empréstimos simulados em 2009, um deles no valor de 388.000 reais. 
 
Segundo um relatório assinado pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, os empréstimos revelam “indícios de que pelo menos parte dos recursos se destinava a Blairo Maggi e de que essa parte se destinava a finalidades espúrias no âmbito da política”. 
 
Contra o senador, também consta o depoimento de um empresário que fez acordo de delação premiada com a Justiça. Ele contou à polícia que Maggi, além de articular com os bancos a operação, usou 4 milhões de reais para comprar uma vaga no Tribunal de Contas de Mato Grosso. 
 
Nas buscas feitas, os investigadores apreenderam anotações que também sugerem que a maior parte dos recursos arrecadados ilegalmente pelo grupo beneficiou o então governador Blairo Maggi e seu sucessor, Silval Barbosa.
 
“Vou deixar a política”
 
O senador Blairo Maggi estava na Europa, na terça-feira, quando a Polícia Federal desencadeou a Operação Ararath, em Mato Grosso, e prendeu, entre outros, o governador Silval Barbosa, seu sucessor, amigo e parceiro. Citado como beneficiário de um esquema clandestino de financiamento de campanha, o parlamentar negou envolvimento no caso de corrupção no estado e, dizendo-se bastante constrangido com a situação, anunciou que vai deixar a política assim que terminar seu mandato no Senado, em 2018.
 
As investigações apontam o senhor como destinatário de empréstimos fraudulentos.
 
Maggi: Isso não procede. Eu jamais fiz operação alguma com o intuito de receber recursos. Um amigo meu pediu um aval no banco. Fiz um favor, ele não conseguiu pagar e me cobram a dívida.
 
Mas o relatório do Supremo Tribunal Federal diz que o empréstimo “espúrio” era para o senhor.
 
Maggi: Nosso grupo fatura uns 5 bilhões de dólares por ano. Não precisaria simular um empréstimo de 380.000. Os números são muito desproporcionais. Quem faz esse tipo de acusação deveria ter um pouco de senso para saber que isso não combina conosco. Deveriam antes pedir uma explicação. Mas não, chegam e detonam com todo mundo.
 
O delator do esquema também disse que o senhor era beneficiário do dinheiro.
 
Maggi: Eu nunca vi esse cidadão. De repente ele aparece e diz que teve negócio comigo? De que jeito? O grande problema de tudo isso, além dos custos de defesa, é o risco de imagem que você tem.
 
O senhor é um aliado do governo. Isso cria algum tipo de mal-estar?
 
Maggi: Os órgãos de controle têm de ser independentes. Fiquei oito anos como governador e incentivei todos os órgãos para que tivessem orçamento, mobilidade, para poder fazer as coisas. Não acredito nessa história de perseguição. O cara faz o trabalho dele, ninguém pode prevaricar, por isso que a democracia funciona.
 
O senhor se considera um bom político?
 
Maggi: Os empresários que têm vontade de entrar na política vêm conversar comigo e normalmente falo para não entrarem. Hoje, os sistemas de controle do Executivo acabam sendo falhos, você não consegue implementar as mesmas mudanças que os órgãos de controle. Ser político é uma atividade de altíssimo risco. Não é recomendável às pessoas que têm negócios fazer política. Eu, por exemplo, já marquei a data. Vou deixar a política.
 
Como assim?
 
Maggi: Assim que terminar meu mandato de senador, encerro minha carreira. O Brasil tem muitos desses problemas, os interesses são muito grandes e as pessoas circulam muito próximo do poder. E muito complicado. Para você se enrolar, basta um descuido. Não disputo mais o Senado. Não disputo mais nada. Vou voltar para minha casa e vou ser feliz. Já dei minha participação nesse processo todo.
 
Hugo Marques, Revista Veja 

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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