A um dia da eleição britânica, a brasileira Paula Dolphin, de 44 anos, atende à ligação da BBC Brasil após duas tentativas. "Me desculpa, mas o telefone não para de tocar. Estou falando com eleitores a manhã inteira". Nascida em São Paulo e filha de pai inglês, Paula concorre a uma vaga no Parlamento britânico pelo partido Liberal Democrata.
O último dia de campanha dela não lembra em nada os grandes comícios e carreatas feitas no Brasil. Além de atender a telefonemas – o número de seu celular fica no site da campanha -, o plano era entregar, de porta em porta, entre 2 mil e 3 mil panfletos explicando as propostas de sua campanha e conversando com os moradores sobre elas.
Paula não está à frente nas pesquisas, mas tem chances de ganhar. A cadeira da região de Torridge e West Devon, no sudoeste da Inglaterra, foi de seu partido de 1997 a 2005. Em 2010, os liberais democratas perderam por uma margem pequena de votos (2.957). A região tem 77 mil eleitores.
Ironicamente, a chance de Paula é que o UKIP – partido que defende a bandeira anti-imigração – tire votos do candidato do Partido Conservador, que está na frente, e a favoreça."Mas essa história de falar que imigrante rouba nossos empregos não têm sentido, eles trabalham duro. Existem certos imigrantes que abusam de benefícios, mas são uma minoria", diz ela.
Paula concorre pelo partido Liberal Democrata e gastou cerca de R$ 115 mil. Ela afirma que costuma dizer aos eleitores que nasceu no Brasil quando faz campanha porta a porta. Segundo ela, desde que iniciou sua carreira política, há 12 anos, "só três ou quatro" disseram para ela voltar a seu país.
Mas o tema imigração não é o mais citado pelos eleitores que aborda, segundo ela. Os ingleses perguntam se ela vai trabalhar em tempo integral no Parlamento, querem saber como irá melhorar o acesso às ruas e fazer a internet chegar em todas as regiões.
Financiamento
A campanha de Paula foi feita sem doações de terceiros. Das 25 mil libras usadas (aproximadamente R$ 116 mil), metade saiu de seu bolso e metade foi bancada pelo partido. O dinheiro serviu, de acordo com ela, para pagar os panfletos, duas pessoas que trabalham na campanha e o envio de correspondências. No Reino Unido, há um limite de gastos em campanha – podem ser gastas 50 mil libras entre dezembro e março e 30 mil de abril a maio, explica.
"Usei menos porque não tenho todo esse dinheiro. Não quero ter… como se fala no Brasil? Ter rabo preso com ninguém", diz, com português perfeito mas um leve sotaque britânico.
Paula nasceu em São Paulo e cresceu em Campinas, onde fez faculdade de Administração. Com cidadania britânica, decidiu emigrar aos 25 anos para trabalhar. Ao se mudar para uma região de praia, se envolveu com assuntos da comunidade e acabou entrando para a política. Foi eleita vereadora em Bude em 2004 e, em 2012, virou prefeita da região.
Diz, porém, que já se interessava por política no Brasil. Chegou a frequentar reuniões do PSDB – que guarda pontos de semelhança ideológica com seu partido no Reino Unido – mas não se filiou. "O que ajuda aqui é que temos o sistema do Parlamento (parlamentarismo), as decisões são mais transparentes, o poder é mais diluído", diz.
Para ela, o limite de gastos nas campanha também ajuda a democratizar a política. "Não é elitista, uma pessoa de classe média pode concorrer".
Nesta quinta-feira, Paula não poderá fazer campanha. Mas vai circular pelos locais de votação – sem santinhos ou camisetas, mas usando uma espécie de broche com uma fita das cores do partido. "Quem sabe não consigo mais uns eleitores indecididos para votar em mim?"
Fonte: Terra