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Doleira diz que fará acordo e canta em depoimento

Condenada a 18 anos de prisão em um dos processos da Operação Lava Jato, a doleira Nelma Kodama disse, em depoimento na CPI da Petrobras, na manhã desta terça-feira, em Curitiba, que está negociando um acordo de colaboração com a Justiça para tentar reduzir a pena. Assim, Nelma se recusou a responder algumas das perguntas feitas pelos deputados na sessão de hoje com o argumento de que essas questões seriam esclarecidas caso homologado esse acordo.

Nelma foi condenada pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos do caso, a 18 anos de prisão e multa por liderar um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria movimentado de forma fraudulenta R$ 221 milhões em dois anos e enviado para o exterior outros de U$S 5,2 milhões por meio de 91 operações de câmbio irregulares.

“Eu sou doleira, comprava e vendia moedas no mercado negro. E isso vai constar no termo de colaboração que estou firmando”, afirmou a doleira. Ela confessou evasão de divisas num esquema pessoal que movimentava US$ 300 mil, por dia, e relações financeiras com outros dois doleiros presos na Lava Jato (Alberto Youssef e Raul Srour).

A doleira culpou o sistema financeiro nacional pelos casos de corrupção envolvendo contratos de câmbio, citando que milhões de dólares eram enviados e recebidos do exterior, em contratos de importação sem que nenhuma mercadoria fosse entregue e nenhum órgão de fiscalização nunca flagrasse o crime e com os bancos e corretoras facilitando as operações, Nelma questionou: “Qual o maior doleiro: eu, o Banco Central ou as instituições financeiras? Enquanto não tirar o mal pela raiz, que está no sistema, isso não vai acabar", declarou. "Tudo que o senhor está falando tem a participação do Banco Central, das instituições financeiras, e se as brechas para essa prática não forem encontradas, a corrupção não vai acabar. As instituições financeiras lucram muito com a corrupção", acrescentou. “O problema é que o Brasil vive da corrupção. Agora que estourou a Lava Jato, que quebrou-se um dos elos da corrupção, o das empreiteiras, o Brasil vive uma crise econômica”, concluiu.

Amada Amante 
Intigada a explicar que relação tinha com Alberto Youssef, a doleira Nelma Kodama cantou trecho de uma música de Roberto Carlos, “Amada Amante”. Ela contou aos deputados que o conheceu no dia 20 de agosto de 2000. O deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) a questionou se ela era amante de Youssef. “Sob meu ponto de vista, eu vivi maritalmente com Alberto Youssef do ano de 2000 a 2009. Amante é uma palavra que engloba tudo, né? Amante é esposa, amante é amiga”, disse. “Tem até uma música do Roberto Carlos: a amada amante, a amada amante. Não é verdade? Quer coisa mais bonita que ser amante? Você ter uma amante que você pode contar com ela, ser amiga dela.” Em seguida, a doleira cantarolou a canção.

Quando cantarolava, ela foi interrompida pelo deputado Hugo Motta (PMDB-PB). “Senhora Nelma, como presidente dessa CPI, nós não estamos aqui em um teatro. Peço que Vossa Senhoria se detenha a responder as perguntas, mantendo a ordem e o respeito ao Congresso Nacional, que neste momento está aqui fazendo uma apuração”, disse, fazendo cessar a cantoria.

Nelma também colocou dúvida sobre a delação premiada do doleiro Lucas Pace. “Lucas Pace fez uma delação parcial e mentirosa e atribuiu à Iara Galdino os crimes que quem cometeu foi ele”.

O segundo depoente programado para esta terça-feira, Rene Luiz Pereira, condenado por lavagem de dinheiro do tráfico, disse que permaneceria calado. Disse que foi condenado injustamente e que sofreu ameaças dentro da Polícia Federal. Questionado pelo relator, Luiz Sérgio sobre que ameaças havia sofrido, disse que não revelaria, porque não teria provas. O relator insistiu que a CPI seria um canal para que se investigasse, inclusive, eventuais excessos da Polícia Federal, ele respondeu: “Por que eu deveria confiar nessa CPI se fui condenado por algo que não fiz?”

Por volta de 14h15, tiveram início as oitivas da tarde, com o ex-deputado Luiz Argôlo sendo o terceiro depoente do dia. Argôlo, no entanto, também preferiu manter o silêncio. “Estou preso há 33 dias, já prestei depoimento, o processo não caminhou, meu habeas corpus foi negado, assim, com todo o respeito à CPI e à Câmara do Deputados, não vejo motivos para responder aos questionamentos, exercendo meu direito constitucional de permanecer em silêncio”. Argôlo contou, no entanto, que tinha uma relação privada com o “empresário” Alberto Youssef, por conta dos investimentos feitos por Youssef em hotéis em Salvador, Porto Seguro e outras cidades da Bahia.

Mesmo provocado, quando o deputado Onyx Lorenzoni (DEM) disse que, quando deputado era um falastrão e hoje está “caladão” para não se enrolar ainda mais, Vargas permaneceu em silêncio. Questionado por Ivan Valente (Psol) se sentiu=se traído pelo PT, disse “isso é uma questão de valores, que será tema de um livro no futuro”.

Vargas também quebrou o silêncio para explicar a Ivan Valente sua relação com Alberto Youssef. “Conheço o Alberto Youssef a mais de 30 anos, porque moramos na mesma cidade, o conheci vendendo coxinha no aeroclube de Londrina. Acompanhei a delação premiada dele, a Justiça o autorizou a ser empreendedor, ele se tornou o proprietário do maior hotel de nossa cidade, se tornou proprietário de um hotel em Aparecida do Norte, em sociedade com a igreja católico. Então, tive uma relação a luz do dia com o empresário Alberto Youssef. Não reconheço nenhum repasse financeiro de Alberto Youssef para mim, porque não ocorreram”.

Pedro Corrêa não respondeu às perguntas. "Vou permanecer em silêncio, primeiro, porque estou aqui na condição de bi-preso, estava preso em Pernambuco, agora, vim a estar preso aqui no Paraná. Estou recorrendo ao TRF e ao STF contra a legalidade desta prisão". Mas rebateu a informação de que teria recebido dinheiro de propina para sua campanha eleitoral. “Fui cassado em 2005, perdi meus direitos políticos, como que recebi dinheiro para minha eleição?”

Fonte: Terra

Redação

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