Dica da Academia

Crepúsculo dos ídolos

Friedrich Wilhelm Nietzsche foi um filólogo, filósofo, crítico cultural, poeta e compositor alemão do século XIX, tendo escrito sobre religião, filosofia, ciência, moral e cultura contemporânea com uso de metáfora e aforismo, além de uma ironia refinada. É dele o famoso enunciado “Deus está morto”, sendo ele por ironia da vida o filho de um pastor luterano, que na adolescência passou a rejeita os dogmas religiosos.

A sua obra “Crespúsculo dos ídolos” é uma síntese de suas teorias, onde são reunidos os principais temas de seu percurso intelectual, com uma retrospectiva de acordo com suas premências e anseios que estiveram na base de sua concepção.  É uma declaração de guerra, que é travada no âmbito da transvaloração de valores, proporcionando uma genealogia dos ideais e da moral.

Nela é empreendida uma análise psicológica e fisiológica da civilização ocidental, ao mesmo tempo em que confirma um projeto que leva ao nascimento da tragédia como acesso ao mundo grego. Daí surge o seu viés negativo com a proposição de que “há mais ídolos do que realidades no mundo”, onde Nietzsche vai ouvir os barulhos internos dos “ídolos ocos” de seu tempo, partindo da filosofia clássica grega ao sistema educacional alemão.

“Crepúsculo dos ídolos” já traz ironia no seu título e se dirige a Richard Wagner, compondo a tetralogia wagneriana. Wagner era um ídolo alemão para os alemães cultos e Nietzsche vem assim ironizar sugerindo os deuses como ídolos ocos, pois segundo ele devemos pensar por nós mesmos, evitarmos engolir qualquer conteúdo de ídolos conceituados pela academia. Afinal, “também o mais corajoso entre nós raras vezes tem a coragem de afirmar o que ele propriamente sabe…”.

Enfim, elaborado em 1888 com o material reunido para sua obra jamais realizada “Vontade de potência”, o “Crespúsculo dos deuses” é uma obra essencial para aqueles que procuram compreender um panorama da filosofia nietzschiana, com exacerbado senso crítico e defesa corajosa das próprias posições do filósofo alemão.

 

Crepúsculo dos ídolos: ou como filosofar com o martelo

Friedrich Nietzsche. Tradução, introdução e notas de Saulo Krieger.

São Paulo: Edipro, 2020 

 

Antonio Horácio da Silva Neto

About Author

Antonio Horácio da Silva Neto é juiz de direito do Tribunal de Justiça de Mato Grosso e presidente da Academia Mato-grossense de Magistrados. Colaborador especial do Circuito Mato Grosso desde 2015.