Ela é a única sobrevivente do grupo Subterrâneo Nacional Socialista (NSU), responsável pela morte de vários imigrantes. Junto com os parceiros Uwe Böhnhardt e Uwe Mundlos, a alemã perpetrou dois ataques a bomba contra bairros de imigrantes em Colônia e 14 assaltos a bancos em várias cidades da Alemanha.
A ré compareceu ao tribunal com terno preto, blusa branca, brincos grandes e os cabelos compridos lustrosos – uma imagem bem diferente das grosseiras fotos policiais estampadas na imprensa alemã nos últimos meses. Quatro outros réus são acusados de auxiliarem o NSU, um deles foi ao tribunal escondendo-se sob um capuz.
Em frente ao tribunal, que estava vigiado por cerca de 500 policiais, manifestantes de origem turca e ativistas contra o racismo exibiam cartazes, como o que dizia: “Zschäpe, filha de Hitler, você vai pagar por seus crimes”. Segurando fotos de vítimas, os manifestantes pediam por justiça.
A existência do NSU foi revelada em novembro de 2011, quando os dois parceiros de Beate cometeram suicídio após um frustrado roubo a banco na cidade de Eisenach. Eles incendiaram o trailer e, nos destroços, a polícia achou a arma usada nos dez homicídios e um DVD reivindicando sua autoria. Nas imagens, os cadáveres eram mostrados junto com uma Pantera Cor de Rosa que avisava o número de mortos.
Após os suicídios, Beate teria supostamente incendiado um apartamento que ela dividia com os cúmplices em Zwickau, no leste da Alemanha. Quatro dias depois, entregou-se à polícia em Jena, a sua cidade, dizendo: “Sou quem vocês procuravam”.
Apelidada de a “noiva nazi” pela imprensa alemã, Beate nasceu em 2 de janeiro de 1975. Ela ficou a cargo de sua avó ainda criança, quando seus pais se separaram e sua mãe se mudou para outra cidade com outro homem.
Depois de terminar a escola em 1992, ela se formou como jardineira, mas levou anos para encontrar o seu primeiro emprego. Durante esse tempo começou a fortalecer os laços com a extrema direita alemã.
Ela formou uma espécie de família ideológica nazista e violenta com Uwe Böhnhardt e Uwe Mundlos, chegando a constituir uma quadrilha responsável por assassinatos xenófobos em toda a Alemanha.
Julgamento expõe ‘ponto cego’ da extrema direita alemã
Os homicídios escandalizaram a Alemanha e expuseram a incapacidade ou relutância das autoridades em reconhecer crimes da extrema direita. A descoberta casual do grupo NSU, que passou mais de uma década sem ser detectado, obrigou a Alemanha a admitir que seus grupos neonazistas são mais ativistas e perigosos do que se pensava anteriormente.
O caso agitou um país que acreditava ter aprendido com as lições do passado, e reabriu o debate sobre a necessidade de combater o racismo e a extrema direita.
“Com suas dimensões históricas, sociais e políticas, o julgamento do NSU é um dos mais significativos na história alemã do pós-guerra”, disseram em nota os advogados da família da primeira vítima, o florista Enver Simsek.
Fonte: O Globo