Economia

Com pior 2º trimestre em 40 anos, Brasil vai demorar para recuperar perdas

Vai demorar para o Brasil recuperar o que tem perdido com a crise da pandemia do coronavírus.

O país passou pelo pior segundo trimestre de seus últimos 40 anos, mostram estimativas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Os dados apontam para uma queda de 9,8% no Produto Interno Bruto (PIB) do período de abril a junho em relação ao primeiro trimestre. 

A queda recorde em apenas um trimestre é mais elevada que a perda acumulada em cada um dos noves períodos de contração pelos quais o Brasil passou nas últimas quatro décadas.

E, desta vez, a recuperação vai ser ainda mais difícil, indica artigo publicado nesta sexta-feira, 26, pelas economistas do instituto Juliana Trece e Luana Miranda.

A maior queda que a economia brasileira havia registrado até agora de um trimestre para o outro foi no último período de 1990, quando houve retração de 4,7%.

Em março daquele ano, o governo recém eleito do presidente Fernando Collor anunciou o confisco dos depósitos bancários e das poupanças. Nos anos seguintes, o Brasil teve desgaste econômico agravado por malsucedidos planos de combate à hiperinflação. A recessão se estendeu do 3º trimestre de 1989 ao 1º trimestre de 1992, quando Collor passou por um processo de impeachment e deixou o cargo.

Apesar da turbulência, o país levou nove trimestres para recuperar os 8,2% perdidos, dizem as economistas. Após o fim da recessão, em 1992, a economia passou por uma expansão que durou 12 trimestres, durante os quais cresceu 19,4%.

Já no período recente, 12 trimestres após o fim da última recessão, o país ainda teria de crescer 3,4% para retornar ao nível de atividade do primeiro trimestre de 2014, destacam as economistas.

Atualmente, um dos agravantes é que está é uma crise com origem na saúde. A pandemia paralisou atividades e impactou sobretudo o setor de serviços e o consumo das famílias, dois motores para o PIB do Brasil que, historicamente, tendem a ser mais resilientes a períodos de crise, dizem as economistas.

Recuperação mais lenta
A crise econômica da covid-19 é generalizada e todos os países perderam em alguma medida. Mas a profundidade das cicatrizes deixadas pela pandemia vai depender, dentre outros aspectos, das condições econômicas e sociais anteriores à crise. Nesse quesito, o Brasil possui grandes desvantagens.

“Esse cenário de queda profunda do PIB e recuperação lenta é inédito entre as recessões curtas já experimentadas pelo país desde a década de 80. Nas recessões de 1995, 2001, 2003 e 2008, que duraram entre 2 e 3 trimestres, a economia levou, em média, 3 trimestres para retomar ao nível pré-crise. Na recessão atual, estimamos que levaremos mais de 6 trimestres para voltar ao patamar anterior à crise”, dizem as economistas

Foi a primeira vez que o país entrou numa recessão sem ter superado as perdas da anterior. Quando a doença começou a se alastrar aqui, em março, a economia havia recuperado apenas 5,3% dos 8,1% perdidos durante a última grande recessão pela qual passou entre 2014 e 2016.

Pelas estimativas do Ibre e do IBGE, o segundo trimestre será o fundo do poço da crise e haverá um lento processo de retomada no segundo semestre. A estimativa do Ibre é de queda de 6,4% em 2020 com crescimento de 2,5% em 2021.

“Estimamos efeitos devastadores no mercado de trabalho, com forte aumento da taxa de desemprego (18,7% na média do ano) e colapso da massa ampliada de rendimentos (contração de 9%), já considerando todas as políticas adotadas para amenizar a queda de renda das famílias”, dizem.

“Essa piora aguda na atividade econômica em conjunto com o intenso aumento dos gastos públicos aumenta a probabilidade de um cenário de grave crise fiscal, diante da difícil tarefa de reverter o impressionante aumento do déficit primário. Nossos problemas não acabam com o surgimento de uma vacina, teremos ainda um doloroso período de ajuste econômico pela frente”, completam.

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Economia

Projeto estabelece teto para pagamento de dívida previdenciária

Em 2005, a Lei 11.196/05, que estabeleceu condições especiais (isenção de multas e redução de 50% dos juros de mora)
Economia

Representação Brasileira vota criação do Banco do Sul

Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela, além do Brasil, assinaram o Convênio Constitutivo do Banco do Sul em 26