Um grupo de defesa dos direitos humanos denunciou que vários ativistas foram detidos na China por expressar apoio às manifestações em Hong Kong.
"Vários cidadãos chineses sofreram represálias por expressar apoio às mobilizações de Hong Kong", denunciou o grupo China Human Rights Defenders (CHRD, Defensores dos Direitos Humanos na China).
A Anistia Internacional (AI) citou 20 detenções e 60 convocações para interrogatórios, segundo a agência AFP. "A repressão de militantes na China explica as razões pelas quais tantos habitantes de Hong Kong temem o crescente controle de Pequim sobre os assuntos da cidade", afirmou William Nee, especialista em China da AI.
Segundo a organização, os manifestantes detidos publicaram fotos online com mensagens de apoio aos manifestantes, rasparam a cabeça em solidariedade ou afirmaram planejar viagens para Hong Kong para participar do protestos.
Sessenta foram chamados para interrogatório pelas autoridades, o que é conhecido na China como "ser convidado para o chá ".
Ainda de acordo com a AI, detenções ocorreram em Pequim, Jiangsu e cidades do sul de Guangzhou e Shenzhen, que ficam perto de Hong Kong. "As autoridades chinesas devem libertar imediatamente todos os detidos por expressar pacificamente seu apoio a manifestantes em Hong Kong", disse William Nee.
Nas ruas
Milhares de manifestantes pró-democracia voltaram às ruas de Hong Kong nesta quarta-feira (1º), dia nacional na China, determinados a fazer uma nova demonstração de força, enquanto cresce o apoio internacional a seu movimento.
As autoridades chinesas e de Hong Kong celebraram o 65º aniversário da vitória dos comunistas sobre os nacionalistas e a proclamação da República Popular da China, no momento em que os ativistas pró-democracia lotavam as ruas da ex-colônia britânica.
Ex-colônia
Hong Kong é uma ex-colônia britânica. Desde 1997 voltou a fazer parte da China. Mas é administrada num sistema diferente, sem tanto controle do partido comunista e com mais liberdade de expressão. Desde domingo, a campanha de desobediência civil ganhou força no território, o que provocou a maior crise política desde a devolução à China.
Os manifestantes denunciam interferências de Pequim, exigem o sufrágio universal sem condições e não aceitam que nas eleições de 2017 as autoridades chinesas mantenham o controle sobre os candidatos ao cargo de chefe de Governo local.
Os jovens querem o direito de realizar eleições livres, daqui a três anos. Eles protestam contra o governo central de Pequim – que decidiu controlar os nomes dos candidatos. No fim de semana teve confrontos entre policiais e ativistas, com 41 feridos e 78 presos.
Na manhã desta quarta-feira, quando as bandeiras da China e de Hong Kong fora hasteadas na praça Golden Bauhinia, no bairro central de Wanchai, os gritos dos manifestantes foram ouvidos.
Depois, os ativistas vaiaram a passagem de dois helicópteros que exibiam uma grande bandeira da China e outra, menor, de Hong Kong.
O chefe do governo local, Leung Chun-ying, não citou de maneira direta o movimento pró-democracia no discurso que pronunciou ao fim da cerimônia, mas apelou a uma cooperação com a China.
"O desenvolvimento de Hong Kong e do continente (China) estão estreitamente vinculados. Devemos trabalhar juntos para que o sonho chinês se torne realidade", afirmou Leung, que teve a renúncia exigida pelo movimento pró-democracia por sua afinidade com Pequim.
O clima era calmo entre a multidão de manifestantes, apesar de alguns apelos para tentar forçar o cordão de isolamento policial perto da praça Golden Bauhinia.
Os militantes da "Revolução do Guarda-Chuva" – como é chamada nas redes sociais – eram mais numerosos que nos dias anteriores graças aos dois dias de feriado (quarta-feira e quinta-feira) da festa nacional chinesa.
Apoio internacional
O apoio internacional ao movimento pró-democracia em Hong Kong cresceu nos últimos dias. No Facebook, um grupo denominado "Unidos pela Democracia: Solidariedade Global com Hong Kong" afirma planejar atos neste sentido, da Austrália aos Estados Unidos.
O sul-africano Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz, expressou apoio aos manifestantes de Hong Kong, ao elogiar a coragem do movimento.
"Rezo para que as vozes do povo de Hong Kong nunca sejam caladas", declarou o líder da luta contra o apartheid e atual arcebispo honorário da Cidade do Cabo.
Na Nova Zelândia, quase 300 pessoas se reuniram na capital Auckland para apoiar os ativistas de Hong Kong, enquanto em Taiwan estão previstas manifestações de solidariedade.
O governo dos Estados Unidos informou que o assunto Hong Kong será abordado nesta quarta-feira em um encontro em Washington entre o secretário de Estado, John Kerry, e o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi.
G1