Quinze anos após a chegada do seu marido e ex-presidente Néstor Kirchner à Presidência da Argentina, em 2003, a presidente reeleita Cristina Kirchner tenta manter o legado do kirchnerismo em um momento delicado da economia do país.
Viúva de Kirchner, que morreu em 2010, ela passará a faixa ao sucessor no dia 10 de dezembro, após as eleições presidenciais de outubro – ou de novembro, caso seja realizado um segundo turno. Cristina definiu a chapa presidencial, mesmo antes das eleições primárias de agosto, e escolheu os principais candidatos governistas ao Congresso Nacional, segundo a imprensa local.
Nas listas de candidatos a deputado estão, por exemplo, o ministro da Economia, Axel Kicillof, o secretário-geral da Presidência, Eduardo "Wado" de Pedro, e o filho da presidente, Máximo Kirchner – aos 38 anos e sem ter ocupado cargos no Executivo, ele pela primeira vez disputa uma cadeira política.
Apesar do mau momento econômico e das implicações politicas da morte do promotor Alberto Nisman, em janeiro, Cristina recuperou popularidade nesta reta final de governo, segundo diferentes pesquisas de opinião, registrando em torno de 35% a 40% de aprovação.
Seu futuro é, porém, uma incógnita já que ela não será candidata a uma cadeira no Parlamento do Mercosul (Parlasul) ou ao Congresso.
"Cristina preferiu seguir exemplo (do ex-presidente brasileiro) Lula e da (presidente chilena) Michelet Bachelet e não quis buscar um cargo de menor hierarquia após ter sido presidente", escreveu o colunista Carlos Pagni, do jornal La Nación.
Analistas dizem que o destino do kirchnerismo dependerá, principalmente, de a chapa governista conseguir sair vencedora do pleito de outubro, já que opositores questionam as medidas econômicas atuais, como as duvidosas estatísticas de inflação.
No entanto, a oposição teria maior dificuldades no Congresso, de acordo com cálculos preliminalres dos especialistas.
Outros analistas especulam que Cristina espera realizar informalmente a articulação política do governo servindo de conselheira a políticos kirchneristas.
Sem primárias
Quanto aos candidatos kirchneristas, o ministro Kicillof é hoje apontado nos bastidores das conversas dos negociadores brasileiros como "responsável pelas maiores dores de cabeça na relação bilateral". "Com ele não tem diálogo e é difícil chegar a um acordo, não importa o tema", disse um deles.
Nesta semana, em meio a rumores de que poderia continuar como ministro, mesmo que seja eleito deputado, Kicillof disse ao Canal CN23: "Meu mandato (de ministro da pasta) termina em dezembro, junto com o da presidente".
Política da Frente Para a Vitória (FPV), Cristina chamou a atenção dos políticos opositores, dos analistas, de setores da imprensa, críticos do governo, e de eleitores nas redes sociais quando definiu a chapa presidencial – antes das primárias.
Carlos Zanninni, auxiliar de longa data do kirchnerismo, foi convocado para ser vice na chapa presidencial. Pouco conhecido do público, Zannini é atualmente secretário legal e técnico da Presidência, esteve preso na ditadura (1976-1983) e foi deputado e presidente do Tribunal de Justiça da província de Santa Cruz, na Patagônia, o berço político do kirchnerismo.
A escolha de Zannini pode ter sido, segundo o jornal El Cronista, o motivo para o aumento do dólar paralelo nesta semana – a moeda foi cotada acima dos 13,40
Fonte: UOL