Dentre os vários escândalos nos quais viu sua gestão ser envolvida, a dos grampos foi a que mais repercussão trouxe ao governador Pedro Taques (PSDB). Pegou especialmente mal as milhares de interceptações telefônicas clandestinas perpetradas por um ex-procurador. O desdobramento mais recente é a convocação de Pedro Taques para depor como testemunha de defesa em corte militar no Fórum de Cuiabá, no processo que julga a prisão do cabo da Polícia Militar, Gerson Correa, que teve novo pedido de relaxamento de prisão negado na sexta-feira (02).
Como praticamente toda a cúpula de seu governo foi alvo do esquema de grampos, mais de um analista considerou os atos capitaneados pelo então chefe da Casa Civil Paulo Taques como um dos agravantes do distanciamento dele com seu vice Carlos Fávaro, que já declarou publicamente o pulo do barco do governador para tentar um lugar ao sol no Senado. Por todo o Brasil, espalhou-se a notícia de que Fávaro contratara um hacker para tentar barrar potenciais invasões virtuais e acabar descobrindo que até o hacker estava sob interceptação da inteligência da PM.
Um mar de ilegalidades que chegou a pelo menos 70.000 interceptações telefônicas somente entre janeiro de 2014 e setembro de 2017, quando o secretário de segurança pública, Mauro Zaque, tornou pública a informação. Trouxe também um agravante, segundo Zaque afirma, ele tentou informar o governador das ilegalidades desde 2015.
Era outubro desse mesmo ano quando Zaque apresentou uma série de documentos comprovando monitoramentos jamais autorizados pela justiça de toda espécie, de jornalistas a adversários políticos, além de advogados. Segundo Zaque, esse foi o motivo dele ter pedido exoneração da Sesp. “Avisei o governador em duas oportunidades. Nada foi feito”, disse à imprensa. As investigações só começaram depois que a Ordem dos Advogados do Brasil apresentou quatro notícias-crime ao Tribunal de Justiça sobre as irregularidades cometidas pelo governo estadual, Ministério Público e Judiciário.
A primeira consequência foi a prisão de Paulo Taques. Na sequência, outras nove pessoas foram detidas sob suspeita de tentar obstruir as investigações. O primo do governador e homem de confiança desde a coordenação da campanha teria pago R$ 50 mil para a compra do equipamento de gravação de ligações telefônicas, além de ter alugado uma sala comercial em um prédio para criação de uma espécie de central Taques dos grampos ilegais. Era lá que trabalhavam, segundo as investigações, os policiais militares agora sob julgamento.
Barrigas de aluguel e uma ex-amante intrépida
Eles interceptavam ligações de políticos, advogados e o jornalista Marcondes Muvuca, num ato chamado no jargão policial de barriga de aluguel – grampear pessoas que não tenham necessariamente envolvimento com o crime que originou esses grampos.Sempre de acordo com as investigações, essas barrigas de aluguel começaram com a ex-amante de Paulo Taques, a funcionária pública Tatiane Sangali sob a justificativa de que ela pretendia chantagear os primos Taques até mesmo com utilização de drogas para fotografá-los em situações constrangedoras, possivelmente nus, para provocar um escândalo político. O caso chegou a ser publicado pelo El País Brasil, na matéria: "Poder, sexo e milhares de grampos ilegais: Mato Grosso mergulha na paranoia política", de outubro de 2017.
Em outra alegação constrangedora que poderia para justificar o acompanhamento telefônico da ex-amante de Taques, Sangali teria bolado um plano de casamento com João Arcanjo Ribeiro, recentemente colocado em prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica, à parte suas penas até agora (ele segue sendo julgado por outros crimes) chegarem a 82 anos de prisão. Esse casamento teria com o objetivo de dar cabo da vida política do agora governador e ex-promotor público responsável pela prisão de Arcanjo.
Nada disso foi comprovado em quase dois meses de escuta legal, segundo outra testemunha de defesa do cabo Gerson, o delegado de Polícia Civil Flávio Stringueta, à época lotado no Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), e portanto, responsável por coordenar as escutas legais. Stringueta também disse mais de uma vez à imprensa que sabia que Sangalli fora monitorada antes, de maneira completamente ilegal e não justificada.
Por força dessas declarações, Stringueta foi removido do grupamento de elite da Polícia Civil e remanejado para uma delegacia modesta, a 2ª DP, localizada no bairro Carumbé. O então chefe do Gaeco sempre apontou o governador Pedro Taques como o verdadeiro responsável pela chamada grampolândia ao questionar publicamente o que para ele seria cortina de fumaça (a história da amante do primo Paulo), já que vários dos ilegalmente monitorados eram adversários políticos de Taques.
No desenrolar das apurações, pedidos de prisão preventiva foram acatados pelo desembargador Orlando Perri, contra o qual, apontaram as investigações, uma trama era urdida pela cúpula da segurança pública do Estado, como o ex-secretário da Segurança Pública, Rogers Jarbas, quatro coronéis da PM (o ex-comandante-geral Zaqueu Barbosa, o ex-chefe da Casa Militar Evandro Lesco, o adjunto Ronelson Barros e o ex-secretário de Justiça Airton Siqueira Júnior), o major Michel Ferronato, o sargento João Ricardo Soler, o já citado cabo Gerson Corrêa Júnior, outro cabo, Euclides Torezan, e a esposa de Lesco, Helen Christy Carvalho, por cumplicidade com o marido para que este se encontrasse com os demais acusados.
O elo mais fraco
Só Gerson Correa Junior permanece encarcerado. Todos os outros estão em liberdade provisória, a maioria com o uso de tornozeleira eletrônica. Quem entregou todos esses homens foi outro oficial da PM, o tenente-coronel José Henrique Soares. Foi ele quem entregou o plano arquitetado para tentar enredar Perri por meio de diálogos criados para o comprometer. Tudo seria gravado por uma microcâmera instalada na roupa do oficial. Ele decidiu, entretanto, abrir o plano ao desembargador.
A intimação
No dia 06 de fevereiro foi a primeira vez que o nome de Pedro Taques foi diretamente associado ao processo que investiga os grampos ilegais. Foi quando o juiz Murílo Moura Mesquita, enviou uma intimação para que o governador seja ouvido na ação. Foram destinadas três datas para que o governador comparece ao Fórum de Cuiabá: 09.03.2018 às 8h:30min , 12.03.2018 às 8h:30min e 16.03.2018 às 8h:30min. Até a tarde desta segunda-feira (6/3), Pedro Taques não havia se manifestado.
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Ofício n. 294/2018/Militar
Cuiabá – MT, 06 de fevereiro de 2018.
Nº DO PROCESSO: 17000-11.2017.811.0042 – código 477158 – VIRTUAL
PARTE AUTORA: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO
RÉU(S): ZAQUEU BARBOSA, EVANDRO ALEXANDRE FERRAZ LESCO, RONELSON JORGE DE BARROS, JANUÁRIO ANTONIO EDWIGES BATISTA e GERSON LUIZ FERREIRA CORREA JUNIOR
Senhor Governador:
Ao tempo em que o cumprimento, sirvo-me do presente para informar que Vossa Excelência figura no rol de testemunhas arroladas pela Defesa nos autos da Ação Penal em epígrafe, razão pela qual, nos termos do art. 350, alínea “a”, do CPPM, solicito que informe data, hora e local onde pretende ser inquirido sobre os fatos apurados na denúncia.
Por oportuno, ficam sugeridas as seguintes datas e horários no Plenário da Justiça Militar: 02.03.2018 às 8h:30min, 09.03.2018 às 8h:30min , 12.03.2018 às 8h:30min e 16.03.2018 às 8h:30min.
Respeitosamente,
MURILO MOURA MESQUITA
Juiz de Direito
Ao Exmo. Senhor
JOSÉ PEDRO GONÇALVES TAQUES