Havia algo errado no reino dos céus. Resolvi caminhar para aliviar a tensão dos meus pensamentos. O dia estava lindo, mas não pensava em ir pra rua. Quase quarenta anos, bem casado, um filho lindo, e ainda sim preocupado. Ainda sim com um enorme vazio que me sufocava como uma droga que mata lentamente. Nunca fui religioso, mas rezei. Sempre acreditei que Deus está em todo lugar, que Cristo pode ser aquele mendigo da esquina, se existe uma Pedra, Ele está lá. Por isso rezei. Gostaria de entender os sinais. Pedia impetuosamente uma dádiva. Vi de longe uma luz que, por poucos segundos, me cegou. Sem querer, meio que guiado por forças ocultas, meio sem entender nada, como se tivesse acabado de recuperar a consciência, me encontrava diante da visão mais iluminada da mina vida.
– Seu João. Nasceu. Sua Maria é perfeita…. e linda!
Maria nasceu em Cuiabá, na Clínica Femina. Desde a primeira vez que a vi, sabia que seria incrível. Maria é uma criança inteligente, esperta arteira e muito, mas muito geniosa. Em pleno aniversário, não quer cantar os parabéns.
– Como Mamá é cabeça dura!
– Puxou quem, hein João!
– Não sei, eu não era tão cabeça dura assim! Vem aqui Maria, vamos cantar os parabéns. – pego Maria muito a contra gosto.
Maria é uma menina impressionante linda. Todos se apaixonam. As pessoas se aproximam. Flor ascende a vela do bolo. Nos meus braços, em pleno parabéns, Maria Flor começa a chorar copiosamente. Chora tão duro que até sessa o parabéns, gritando.
– Vovó!!!!! Vovó!!!!! Vovó!!!!! Vovó!!!!!
Ergue os braços em direção da minha mãe. Abraça a veia como se alguém estivesse judiando dela. Dou um grande suspiro. Fiquei triste. Joãozinho me olha preocupado. Uma mão pega no meu braço, suavemente.
– Não liga não João. Você era igualzinho quando era criança. E hoje é um grande pai. – dispara minha avó, no auge da sua sabedoria aos 90 anos de idade.
Dou um sorriso. Engraçado como a gente se reconhece nos nossos filhos.