A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, chega para o encontro nesta quinta-feira (Foto: Joshua Roberts/Reuters)
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, reconheceu nesta quinta-feira (14) que "sopram ventos muito frios" no Brasil, destacando a necessidade de a política macroeconômica do país voltar a "um terreno estável".
"A situação econômica (do Brasil) é muito preocupante", afirmou Lagarde, segundo a agência EFE, sobre a recessão brasileira, que o Fundo previu que será de 3,8% este ano. Para 2017, o Fundo prevê estagnação da economia.
Sobre a crise política brasileira, a diretora do FMI, que participa da reunião de primavera do fundo e do Banco Mundial, em Washington (EUA) afirmou: "Esperamos que, do modo que for, se elimine a incerteza", e as autoridades devolvam a política macroeconômica a "um terreno estável".
Em seu relatório de "Perspectivas Econômicas Globais", divulgado na terça-feira, o Fundo apontou que "as incertezas domésticas continuam restringindo a capacidade do governo para formular e executar políticas", em referência à crise política que se vive no país e que está dificultando tomadas de decisões.
"A recessão no Brasil é fruto de uma confluência de fatores: queda dos preços de matérias-primas, fraqueza da confiança que vem do atraso no ajuste fiscal", explicou Oya Celasun, chefe de estudos do Departamento de Pesquisa do Fundo.
Países vulneráveis
Lagarde também disse, no evento, que o Fundo fará mais em 2016 para ajudar seus membros a alcançar seus objetivos de crescimento econômico, incluindo a destinação de mais recursos para proteger países vulneráveis, aponta a agência Reuters.
Em um documento da agenda de política econômica lançada nas reuniões do FMI com o Banco Mundial em Washington, Lagarde disse que o Fundo precisa assegurar que tem fundos adequados e examinará reformas, incluindo o fortalecimento dos laços com os bancos comerciais regionais e reexaminar suas ferramentas de crédito.
Entre as reformas a serem consideradas, estará um uso maior dos direitos especiais de saque, unidade de conta do FMI, que vai incluir o iuan ainda este ano na cesta de moedas.
"Os recursos financeiros do Fundo estarão disponíveis para sustentar a implementação de políticas econômicas com mais força, enquanto preserva a estabilidade financeira e protege aqueles que estão vulneráveis ao ambiente atual", disse Lagarde no documento.
Ela acrescentou que o FMI vai trabalhar para ajudar a identificar espaço para política econômica e medidas necessárias para países alcançarem seus compromissos de crescimento, e que vai continuar a analisar as implicações das taxas negativas de juros.
'Brexit'
Lagarde comentou ainda a possibilidade do Reino Unido deixar a União Europeia. Ela afirmou que espera que "o longo casamento entre a União Europeia (UE) e o Reino Unido não termine", e ressaltou que os benefícios para que a "Europa se mantenha unida estão subvalorizados", segundo a EFE.
"Foi um longo casamento e minha esperança pessoal é que não termine", garantiu Lagarde na entrevista coletiva de abertura formal da reunião de primavera do FMI e do Banco Mundial (BM), ao comentar a possibilidade de um "Brexit", como é conhecida a saída do Reino Unido da UE, e que será votada em referendo em 23 de junho.
Lagarde apontou, além disso, que como nos casamentos, os problemas se solucionam "conversando", e reconheceu que "elevamos a saída do Reino Unido da UE como um dos principais riscos para a economia global".
Em seu relatório "Perspectivas Econômicas Globais", o FMI afirmou que o referendo para decidir a permanência do país na UE, previsto para junho deste ano, "já criou incerteza nos investidores".
Para o FMI, as negociações para uma potencial saída do Reino Unido da UE seriam prolongadas, o que provocaria "um extenso período de elevada incerteza que poderia afetar muito a confiança e o investimento e por sua vez aumentaria a volatilidade dos mercados".
Sobre as dúvidas acerca do futuro da Europa, a ex-ministra de Finanças da França disse que "todas as partes deveriam sair do círculo doméstico", já que "manter a Europa unida após o que viveu no século passado e os riscos no horizonte é importante".
Lagarde lamentou neste sentido que "os benefícios de manter a Europa unida estão subvalorizados".
Fonte: G1