Cidades

O inimigo atual da saúde pública

Nunca se ouviu e se falou tanto em Aedes Aegypti. O mosquito transmissor do vírus da Dengue, agora, transmite também o vírus Zika e a febre Chikungunya. As duas últimas doenças são novas para a população brasileira, mas já tem números alarmantes. São 2.923 casos de dengue, 33 casos de febre Chikungunya e mais de mil casos suspeitos de Zika registrado apenas no primeiro mês de 2016 em Mato Grosso.

Isso porque, com as chuvas provenientes do Verão, aliadas ao descuido da população com os ambientes favoráveis à criação do mosquito, o número de poças de água parada crescem, e o mosquito se alastra.

Na medicina são raros os registros de mortes devido ao Zika e Chikungunya, sendo em sua maioria relacionados a outros tipos de doenças que abalam o sistema imunológico. Portanto, a epidemia de Zika só conseguiu chamar atenção do poder público após suspeita de causar má-formação congênita, em especial a microcefalia. 

Em novembro de 2015, o que era apenas suspeita, foi confirmado pelo Ministério da Saúde: o Zika Vírus tem relação direta com o aumento de casos de microcefalia no País. São mais de 3.893 casos no Brasil e quase 200, em Mato Grosso, de bebês com má formação congênita até o momento. Em 2014, foram 147 casos de bebês nestas condições – o que representa um aumento de mais de 2.000%.

A má formação acontece porque o vírus da Zika tem predileção pelo Sistema Nervoso Central. “O Zika Vírus ‘gosta’ do sistema nervoso central. Se a gestante pega a doença na 20ª ou 22ª semanas de gestação – que é a fase de formação do feto- o quadro pode ser dramático e grave. Agora, nós já estamos vendo casos de crianças com problemas oculares, porque o olho também é um órgão que pertence ao sistema nervoso central”, revela a pediatra e patologista clínica, Natasha Slhessarenko.

Sem planejar a gravidez, a recepcionista e operadora de caixa Rafaella Muzzi disse que ficou apavorada ao saber do surto da Zika, e a relação do vírus com a microcefalia nos fetos. “Para quem engravidou atualmente, como disse minha médica, ‘você escolheu um mau momento para ter filho’. Agora, é cuidar ao máximo. Ter repelentes dentro da bolsa, do carro… Em todo lugar”, conta a gravida de 13 semanas.

O Ministério da Saúde orienta as gestantes a manterem o acompanhamento e as consultas de pré-natal, realizando todos os exames recomendados pelo médico, e pede ainda para evitar contato com pessoas com febre ou infecções.

É importante também que as gestantes adotem medidas que possam reduzir a presença de mosquitos transmissores de doença, com a eliminação de criadouros, não só em suas residências, e proteger-se da exposição de mosquitos, como mantendo portas e janelas fechadas ou teladas, usando calça comprida e camisa de manga comprida e utilizar repelentes permitidos para gestantes.

A médica Natasha Slhessarenko também recomenda aplicar repelentes à base de Icaridina (substancia que se mantém no corpo por até 10 horas), vestir roupas que cubram o corpo, fechar as portas, telar janelas e dormir sob mosquiteiros. “Existem umas receitas caseiras para afastar o mosquito, que são testadas e dão certo. Uma delas é cortar limões pela metade, e cravar seis cabecinhas de cravo no limão e espalhar pela a casa para afastar o mosquito”, indica a médica.

COMO DIFERENCIAR AS DOENÇAS?

As doenças transmitidas pelo mosquito se assemelham em alguns sintomas. Febre, manchas vermelhas na pele e dores no corpo, são os pontos em comum. Entretanto, cada quadro se manifesta de forma diferente. 

“Na Dengue, o paciente começa apresentando febre, mal estar, dores ao redor e atrás dos olhos e muita dor no corpo. Parece que está com uma gripe forte. Por volta do terceiro ou quarto dia, pode aparecer manchinhas vermelhas no corpo. Já na Zika, as manchas aparecem já no primeiro dia e coçam muito”, informa a pediatra Slhessarenko.

A médica ainda explica que a Chikungunya tem como sintoma principal dores nas articulações, como mãos, calcanhares, joelhos e ombros. “As doenças transmitidas pelo Aedes Aegypti levam de quatro a cinco dias de tratamento, no máximo uma semana, mas a Chikungunya pode evoluir para um quadro maior, e o paciente ficar meses com dores nas articulações”, revela a médica.

O paciente ainda deve ficar alerta, porque esses tipos de doenças virais não possuem tratamento, apenas medidas para prevenção. A tão repetitiva dica de tirar quaisquer objeto que possa acumular água de chuvas dos quintais e arredores é a dica de ouro. 

A Vigilância Sanitária liberou a vacina contra a dengue, como modo de prevenção da doença, mas a pediatra faz um alerta. “O Zika e o Chinkungunya continuam descobertos, e a vacina tem uma eficácia de apenas 60%. Ou seja, a cada 100 pessoas que tomam a vacina, apenas 60 vão produzir os anticorpos, mas já é alguma coisa”.

NÚMEROS    

No Estado foram 29.396 casos de dengue em 2015, um aumento de 150% em um ano, se comparado ao mesmo período de 2014, quando 11.729 casos foram notificados. Segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), foram 207 casos de Chikungunya e 4.053 casos do Zika Vírus apenas em 2015.

Contudo, a Zika pode ter afetado mais gente do que se imagina. Isto porque, cerca de 80% das pessoas que contraem o vírus da Zika não desenvolvem sintomas, e ainda há pessoas que tiveram a doença, mas não procuraram os postos de saúde e os casos não são catalogados. Sendo assim, a Secretaria de Estado de Saúde estima que mais de 90 mil pessoas em Mato Grosso tenham contraído o vírus.  

No boletim lançado pelo Estado, janeiro de 2016 já registra 2.923 casos de dengue, quando, em 2015, houve 821 notificações no mesmo período. Os dados representam um aumento de quase 256%. 

Já os casos suspeitos de microcefalia notificados em Mato Grosso subiram para 147, segundo boletim da Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde (SES). Desse total, 110 casos estão em investigação, entre eles está a notificação de dois óbitos, e 37 casos foram descartados.

A microcefalia é um quadro em que bebês nascem com o cérebro menor do que o esperado (perímetro menor ou igual a 32 cm) e que compromete o desenvolvimento da criança em 90% dos casos.

INVESTIMENTO – MATO GROSSO

Em uma das primeiras ações na saúde do ano, o Governo de Estado lançou o Plano Emergencial de Enfrentamento à Dengue, Chikunguia e Zika vírus. Nele, o governador Pedro Taques (PSDB) se compromete a investir R$ 20.170.548,08 em ações de vigilância e controle do mosquito Aedes Aegypti. Além disso, dará um incentivo financeiro de R$200 adicional aos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes de Combate às Endemias (ACE) de Mato Grosso, pelos próximos quatro meses.

Os valores serão transferidos do Fundo Estadual de Saúde para os Fundos Municipais de Saúde, sendo os R$ 20 milhões em parcela única. A distribuição desses valores será realizada de forma linear, sendo que deste montante cerca de R$ 13 milhões serão divididos igualmente entre os 141 municípios, de modo que cada um vai receber o equivalente a R$ 92.487,35. 

Esse valor deverá ser destinado para aquisição de veículos automotores e equipamentos para atender a área da vigilância em saúde. O restante, cerca de R$ 7 milhões, será divido entre os municípios de acordo com o valor per capita e poderá ser aplicado em ações de controle e combate ao mosquito Aedes aegypti, conforme a demanda e necessidade de cada município.

UM CASO DE SUPERAÇÃO

Com todos esses novos casos de microcefalia, fica a pergunta das quase quatro mil mãe e pais que tiveram bebês em 2015 e início de 2016 com a má formação: “Como isso pode impactar na vida do meu filho?”.  Não há respostas, mas há esperança.

“Eu não sou o que me aconteceu. Eu sou o que escolho me tornar”, diz umas das publicações da jornalista Ana Carolina Cáceres, há 24 anos diagnosticada com microcefalia na cidade de Cáceres, Mato Grosso. À época, os pais travaram uma luta em busca de tratamento e de melhores condições para a menina.

Desenganada pelos médicos, Ana passou por cinco cirurgias e sofreu com convulsões na infância e parte da adolescência. “No dia em que nasci, o médico falou que eu não teria nenhuma chance de sobreviver. Tenho microcefalia, meu crânio é menor que a média. O doutor falou: 'ela não vai andar, não vai falar e, com o tempo, entrará em um estado vegetativo até morrer”, conta.

Ana Carolina se formou como jornalista no fim de 2015. No Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) ouviu cinco pessoas com diagnóstico de microcefalia, e produziu o livro-reportagem “Selfie: em meu autorretrato, a microcefalia é diferença e motivação”. Ao final do TCC, concluí que "Não importa a barreira que tenhamos que quebrar, somos capazes”.

Cintia Borges

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