Ministério Público denunciou ele e policial na ativa por participação nos crimes
A Justiça de Minas decretou prisão preventiva do policial civil aposentado José Lauriano de Assis Filho, de 50 anos, conhecido como Zezé. A Polícia Civil esteve na casa do acusado na última terça-feira (7), mas não conseguiu encontrá-lo.
A prisão preventiva foi decretada sob a alegação de que a liberdade do acusado pode atrapalhar o andamento da instrução criminal. "O simples fato de se tratar de um policial civil incute temor a testemunhas e aos demais envolvidos na sequência de crimes", apontou o juiz Elexander Camargos Diniz, da Vara do Tribunal do Júri de Contagem.
Naquela mesma terça-feira, a comarca de Contagem havia recebido a denúncia (acusação formal) feita pelo Ministério Público de Minas Gerais contra Zezé e Gilson Costa, de 48 anos, que é policial civil ainda na ativa, sob suspeita de participarem do assassinato da ex-amante do goleiro Bruno Fernandes Eliza Samudio, morta em 2010.
Em seu despacho sobre o recebimento da denúncia, o juiz Elexander Camargos Diniz afirmou que há prova da materialidade dos crimes e que existem indícios de autoria dos fatos apontados pelo Ministério Público.
Em relação a Gilson Costa, o magistrado determinou medidas cautelares diferentes da prisão para garantir o andamento adequado da instrução criminal. Costa ficou proibido de se aproximar e de manter contato com testemunhas, vítimas e informantes do processo.
Sigilo Como a ação penal foi proposta com base em elementos colhidos a partir da quebra do sigilo bancário e telefônico dos envolvidos, o magistrado determinou o sigilo do processo, autorizando que apenas as partes e seus respectivos advogados tenham acesso aos autos.
Os acusados têm agora o prazo de dez dias para responder à acusação. Posteriormente, o magistrado poderá determinar que os acusados sejam submetidos a júri popular ou não. Ainda não há uma data para que essa decisão ocorra.
A denúncia
De acordo com o promotor Daniel Saliba de Freitas, Zezé participou no dia 4 de junho de 2010 do sequestro de Eliza Samudio e de seu filho – na época com quatro meses – a mando do goleiro Bruno, e de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão.
Segundo a denúncia, o policial manteve Eliza em cárcere privado, com ajuda do adolescente Jorge Luiz Lisboa Rosa, até o dia 10 de junho, quando ela foi levada para ser assassinada por Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola. A Promotoria também cita a participação de Fernanda Gomes de Castro, Sergio Rosa Sales, conhecido como Camelo, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, e Wemerson Marques de Souza no sequestro.
Zezé, segundo a Promotoria, pode responder por homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho, ocultação de cadáver, corrupção do adolescente Jorge Luiz Lisboa Rosa na participação do sequestro de Eliza e o bebê e no homicídio, corrupção de menores, além de uso de violência ou grave ameaça. Já Gilson Costa foi denunciado apenas por grave ameaça.
Freitas destaca ainda que o policial Assis Filho foi o responsável por apresentar Bola ao goleiro Bruno e a Macarrão. Segundo a Promotoria, o trio arquitetou o plano para assassinar Eliza, cuja execução ficou sob a responsabilidade de Bola.
"José Lauriano contribuiu, de forma determinante, para a privação da liberdade do bebê, mediante sequestro, e para sua manutenção em cárcere privado", declarou o promotor em sua decisão no dia 3 de julho.
Em julho de 2011, Zezé e Gilson Costa teriam ameaçado a testemunha Jaílson Alves de Oliveira dentro do DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa) de Belo Horizonte. Oliveira havia sido companheiro de cela de Bola na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte), e acabou descobrindo os detalhes sobre a morte de Eliza.
Com medo de ser incriminado, Zezé pediu a Costa para pressionar Oliveira. O policial teria dito a Oliveira que ele tinha três opções: mudar o depoimento, fugir ou ter a esposa assassinada. A testemunha chegou a escapar da penitenciária, sendo recapturado posteriormente, vindo a relatar a coação sofrida, de acordo com a Promotoria.
Sete pessoas já foram julgadas pela morte da modelo Eliza Samudio e outros crimes conexos, como sequestro e cárcere privado do filho da vítima. Em 2013, a Justiça condenou Bruno a 22 anos de prisão pela morte de sua ex-amante Eliza Samudio, cujo o corpo nunca fora localizado pela polícia. Atualmente, Bola – condenado há 20 anos de detenção – e Macarrão estão preso na penitenciária Nelson Hungria.
Entenda o caso
O goleiro Bruno Fernandes conheceu Eliza Samudio durante um churrasco no Rio de Janeiro em maio de 2009. Meses depois, Eliza ficou grávida de Bruno Samudio. Segundo a Promotoria, ao tomar conhecimento da gestação, o goleiro "propôs um acordo financeiro" para que Eliza abortasse o feto.
Com a recusa, o goleiro Bruno passou a arcar com algumas despesas de Eliza e, em julho de 2009, ele a ameaçou de morte durante um encontro em um hotel no Rio de Janeiro. Um mês depois, eles se encontraram novamente no Rio e Bruno a agrediu fisicamente -puxando-a pelos cabelos.
Em outubro de 2009, Bruno se encontrou com Eliza e a agrediu com dois tapas no rosto dentro carro. Além de Bruno, Macarrão e um outro indivíduo não identificado entraram no veículo. Segundo a Promotoria, Bruno estava armado e a manteve prisioneira durante algumas horas. Ao deixá-la em casa, na Barra da Tijuca, Bruno a obrigou a ingerir comprimidos e um líquido desconhecido.
Eliza ficou cerca de 12 horas dopada e, quando acordou, registrou o caso na delegacia. Após o episódio, Eliza mudou-se para a casa de uma amiga em São Paulo. Em fevereiro de 2010, Eliza deu à luz Bruno Samudio e voltou a entrar em contato com o goleiro para que ele reconhecesse a paternidade de Bruno e pagasse uma pensão. Na época, Bruno era jogador do Flamengo, um dos principais clubes de futebol do país.
Em maio de 2010, Eliza foi convidada por Bruno para ir até o Rio para que eles conversassem sobre a realização do teste de DNA e sobre o pagamento de pensão alimentícia. Na ocasião, o goleiro também havia prometido dar um imóvel em Belo Horizonte (MG) a Eliza.
Eliza e o filho foram para o Rio e, em junho de 2010, foram sequestrados por Macarrão e pelo adolescente Jorge Luiz Lisboa Rosa (que estava escondido no bagageiro carro). Segundo investigações, o crime ocorreu a mando do goleiro Bruno, após acordo com Zezé e Bola. Macarrão e Rosa foram os responsáveis por buscar Eliza no hotel e levá-la ao encontro de Bruno, na Barra da Tijuca.
Durante o trajeto, Rosa deixou o porta-malas e apontou uma arma para Eliza: "Você perdeu, Eliza". Ao chegar a casa de Bruno, sua amante Fernanda Gomes de Castro auxiliou Macarrão e Rosa a manter as vítimas no cativeiro. Dayane também ajudou a vigiar Eliza no cativeiro até a sua morte no dia 10 de junho de 2010.
Fonte: iG