Cultura

Como encontrar coisas que não existem

Todos devem ver, questionar e aprender com esta seleção. O fotógrafo João Viana, cuiabano, radicado em São Paulo apresenta a Bienal de São Paulo, em ensaio fotográfico especialmente para o site do Circuito Mato Grosso

Fotos e Texto João Viana 

A 31ª Bienal parece vazia. Imediatamente no hall de entrada o painel gigante de Bik Van der Pol traz uma narrativa para a exposição. Com a máxima "Quanto maior a mentira, mais crível ela é" (título: "Turning a blind eye"), o espectador é convidado para preencher o espaço em branco com a sua interpretação. 

Passo a catraca e entro na instalação de Yochai Avrahami, ("Small Word"/"Pequeno Mundo" 2014) que me leva por um caminho em formato de caracol onde várias vitrines e estruturas dão a sensação de que ali havia objetos sendo expostos. Não tem objeto nenhum, está cheio de nada. Quando finalmente chego ao centro da obra vejo uma platéia perplexa. No caminho de saída, uma surpresa: estou no palco principal. Saio sem saber o porquê eu estava ali no foco.

Lá fora volto a ser espectador de alguns painéis imensos pintados por Éder Oliveira. São rostos de rapazes desconhecidos. Tenho a impressão de que estão desconfortáveis. Descubro depois que Éder se utilizou das fotos de envolvidos em delitos estampados nas colunas policiais do Pará, onde mora o artista. Entendo o desconforto da mega-exposição indesejada dos sujeitos. 

No piso de cima do pavilhão sou atraído por uma multidão pintada no quadro de Bruno Pacheco. A obra se chama “Ponto de Encontro" (2014). Não fica muito claro onde eles querem chegar, mas pelo visto eles andaram muito por algum propósito nobre. Fico esperançoso.

Outra instalação: um OVNI todo grafitado (AfroUFO 2014 de Tiago Borges e Yonamine) nos leva a desfrutar do objeto negro não identificado que deixa rastros por onde passa, por causa do seu interior que é fonte de luz, carregada de cores, imagens, palavras e música. A negritude também é uma crítica à falta de luz há mais de 10 anos em Luanda, depois de 26 anos de guerra.

Um vídeo em outra sala leva o título "Inferno"(2013). Já imaginava o que me esperava ali: um banho de sangue tomou conta da tela em poucos minutos. Saí rapidinho dali.

Outra instalação impactante é um tríptico,"Os Não Contados: um tríptico" (2014), obra onde 3 espaços articulados se desdobram, testemunho as várias perspectivas de uma festa que chegou ao fim de maneira misteriosa e violenta, parece uma cena de crime. 

Em um dos corredores do prédio os painéis de Suha Trabolsi pintados em 1933 fala da visão pessimista do artista que vê a cultura árabe indo para a sombra. As obras foram restauradas depois de terem sido encontradas recentemente no porão de um hospital.

A última sala que entro é escura e elegante. Alguns pontos de luz, cores e formas estão suspensas em forma de escultura e surgem tímidas no meio do no meio das sombras. Edward Krasinski (1925-2004) viveu a maior parte da sua vida na Polônia e era um fabricante de objetos e artista da sua comunidade.

Acabo de ver toda a Bienal e as formas do lindo prédio branco e sinuoso que me ajudam a pensar naquilo tudo que acabei de ver. Lembro também das outras bienais. Aquele pavilhão que parecia tão vazio fez a minha cabeça lotar de idéias, opiniões e perspectivas. Me encontrei com tudo isso que não existia no momento em que entrei ali.

Redação

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