Cultura

Cinema negro será tema do Latinidades em 2015

 
“Queremos discutir o papel da mulher negra nessa cadeia cinematográfica, o seu protagonismo na produção e também como atriz. Na África, por exemplo, as pessoas não conhecem a vasta produção da Nigéria, em obras que se espalham pelo mundo.” Segundo Jaqueline, qe é produtora e jornalista, o objetivo é circular e poder estar em todas as regiões administrativas do Distrito Federal (DF), sede do festival. “Queremos formar cineclubes que possam sair do Plano Piloto [área central do DF], assim como estamos hoje em uma casa de santo na periferia.”
 
As atividades do último dia do Latinidades – almoço coletivo e plantio de um baobá – foram no terreiro Ilê Axé Òyá Bagan. A representatividade das plantas trazidas da África também foi tema de debate e a figura imponente do baobá compôs os ambientes do festival. Os baobás são árvores sagradas e estão presentes em vários aspectos da sociedade e cultura africanas. Segundo Jaqueline, o plantio dessa espécie deve continuar em outros terreiros.
 
Para Jaqueline, quando se pensa em negritude, as pessoas têm em mente cenas que giram em torno de Salvador ou do Rio de Janeiro e, por isso, é importante que o festival seja no Distrito Federal. “Não tem no imaginário a presença de negros em Brasília – as pessoas pensam que são minoria, quando na verdade, uma pesquisa da Codeplan [Companhia de Planejamento do Distrito Federal] diz que a população negra do DF é mais que 50% do total. A pesquisa fala também onde essa população está presente: nas periferias e nas paradas de ônibus do Plano Piloto.”
 
De acordo com a produtra, fazer o festival na capital do país é fortalecer a presença negra, que é maioria, incentivar as pessoas à autodeclaração e à celebração. "Tem pessoas do mundo todo vindo para Brasília discutir igualdade racial e de gênero, debater políticas públicas. É esse o espaço de protagonismo da mulher negra, aqui é a capital e que espera-se que ela seja um espelho para o país”, reforçou Jaqueline.
 
A organização do evento ainda não tem dados concretos sobre a presença do público nos shows e outras atividades culturais, mas estima que cerca de 45 mil pessoas tenham passado pelo Museu da República. As conferências e mesas de debates, para as quais é preciso fazer inscrição, registraram presença de cerca de 4 mil pessoas.
 
Jaqueline destaca que todos os debates tiveram a intersseccionalidade proposta. “Tivemos ali gente discutindo sobre as griôs da diáspora e pontuando diversos saberes. Lançamos um olhar sobre o que é mesmo um griô, essas mulheres incríveis que tem conhecimentos em várias áreas, com práticas em diferentes momentos, oficinas de capoeira, trabalho de benzedeiras, encontro de saberes dentro da academia, da cultura popular e do samba, por exemplo.”
 
O Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra começou no dia 23, em Brasília. Houve conferências, debates, feiras, saraus e shows, além de outras atividades, com a presença de personalidades e artistas de vários estados brasileiros, América Latina, Caribe, Estados Unidos e Moçambique, em prol da promoção da igualdade racial e enfrentamento ao racismo e sexismo.
 
Mais informações sobre o evento, que foi criado em 2008 e se consolidou como o maior festival de mulheres negras da América Latina, estão no site do evento.
 
Agência Brasil

Redação

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