No âmbito internacional, um dia após a posse de Bachelet, Santiago vai sediar uma reunião de chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) para discutir a crise na Venezuela. A Nova Maioria – coalizão de partidos de centro-esquerda que elegeu Bachelet – está dividida. Os mais conservadores criticam o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, pela violência, que resultou em 21 mortes, após os protestos populares contra o desabastecimento e a inflação. A ala mais liberal acredita que o descontrole é fruto de um complô da direita para derrubar Maduro do poder.
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"O maior desafio de Bachelet vai ser baixar a expectativa do eleitorado: ela poderá fazer algumas mudanças, mas nenhuma tão rápido como muitos esperam", disse em entrevista à Agência Brasil o analista politico Patricio Navia. Um dos empecilhos é a própria Constituição, herdada da ditadura de Augusto Pinochet, que só permite mudanças drásticas com o apoio da grande maioria.
"Bachelet tem maioria simples na Câmara dos Deputados e no Senado, que lhe permite aprovar uma reforma tributária, para arrecadar mais impostos dos ricos e distribuir melhor a riqueza do país", disse Navia. "Mas ela não tem os dois terços necessários para reformar a Constituição".
Em comparação aos países vizinhos, o Chile é um exemplo: a economia tem crescido, em média, 5% ao ano, o desemprego é baixo e a inflação praticamente inexistente. Nos últimos 25 anos de democracia, o índice de pobreza baixou de 40% para 10%. Mas os chilenos estão muito mais exigentes hoje do que há quatro anos, quando Bachelet entregou a faixa presidencial a Sebastian Piñera – o primeiro presidente de direita desde o retorno à democracia.
Os líderes estudantis, que foram às ruas em 2011 pedindo educação gratuita e de qualidade para todos, já avisaram que vão pressionar até conseguir o que querem.
Uma reforma assim vai levar tempo, diz Patricio Navia, porque o Estado vai ter que assumir demasiados gastos de uma só vez – justamente agora que a economia mundial está crescendo menos. Mas uma reforma que Bachelet pode fazer – e que tem o apoio da oposição – é a reforma tributária.
"O Chile tem uma carga tributária baixa: cobramos cerca de 20% dos lucros das empresas. A ideia é aumentar até 25%, nos próximos anos, e usar o dinheiro para melhorar a situação de quem menos tem", disse Navia.
Agência Brasil