Circuito Maçônico DESTAQUE 4

Ano novo e um excerto de mitologia

Ao sistema de crenças decorrentes de narrativas chamadas de mito, com histórias buscam explicar tudo o que existe e é importante para uma sociedade, convenciou-se chamar de mitologia. Do grego mythos significando relato, narrativa ou fábula com logia significando ciência, a mitologia estuda as histórias extraordinárias que buscam explicar a existência de elementos da natureza, bem como o comportamento humano, formando o imaginário coletivo de um determinado povo.

No que se refere ao ano novo, a mitologia romana se vale de Jano, divindade enigmática que aborda o físico, mas transcende ao simbólico do tempo e das transições. Do seu nome se origina o mês de janeiro, onde se inicia o novo ano, com as novas passagens e mudanças esperadas por sociedade e indivíduos. É por isso considerado como o deus das portas, pois protege e facilita as transições, com uma dualidade representativa das ambiguidades da vida e da morte, do começo e do fim.

Jano, por sua dupla face, sendo uma olhando simultaneamente para o passado e outra para o futuro, simbolizava para os romanos a compreensão do tempo como um ciclo contínuo de renovação e encerramento. A face voltada para o passado significa a revisão, encerramento e reflexão do que passou. A face voltada para o futuro significa a antecipação, os novos começos e a esperança no porvir.

O Templo de Jano sediado no Fórum Romano era igualmente um importante indicador do estado de paz ou guerra em Roma, conforme as portas do templo estivesse postadas, uma vez que se estivessem abertas o tempo era de guerra e se estivessem fechadas o tempo era de paz. Fechadas para significar a proteção de Jano e as bençãos sobre Roma na paz. Abertas para Jano observar e guiar os romanos na guerra.

Mas Jano não é o único a traçar um limiar para pessoas e sociedades na mitologia mundial, lembrando que nas mitologias grega e celta existiam as divindades de Hécate e Cernunnos para guardar portas e portais, bem como as transições. Hécate era a protetora das encruzilhadas e transições. Cernunnos era o senhor dos animais, passagens e submundos. Isso demonstra não apenas a diversidade das representações desses guardiões de limiar, mas também a semelhança em suas funções essenciais, que são proteger, guiar e mediar transições, seja entre mundos, estações do ano ou fases da vida.

O Kalendas romano de Janeiro, o primeiro dia do ano novo romano, tratava-se de festival dedicado ao deus Jano, sendo marcado por celebrações e rituais, solicitando suas bênçãos para o ano que se iniciava. Com isso os romanos buscavam alcançar com suas graças os projetos e empreendimentos do novo ano, refletindo a importância de Jano como deus, mas igualmente como um guardião do tempo, onde a bênção servia para assegurar a prosperidade e a sorte no futuro.

Assim, se calendário vem do latim calendarium, com o significado de “livro de registro”, que, por sua vez, deriva de calendae, que indicava o primeiro dia de um mês romano, devemos refletir bem sobre o início do ano solar, que é o período de tempo decorrido para completar um ciclo das estações (primavera, verão, outono e inverno), para saber o que queremos e iremos registrar nas nossas vidas durante esse período na nossa efêmera passagem nesta vida terrena. E isso começa agora com o ano novo, mas lembre-se que depende apenas de nós mesmos.

Carpe diem, ou melhor, carpe annum.

Antonio Horácio da Silva Neto

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Antonio Horácio da Silva Neto é juiz de direito do Tribunal de Justiça de Mato Grosso e presidente da Academia Mato-grossense de Magistrados. Colaborador especial do Circuito Mato Grosso desde 2015.