Meses após ser alçada ao posto de maior exportadora do mundo, a cotonicultura brasileira segue rumo à descarbonização de sua cadeia. Produtores brasileiros de algodão tiveram, de forma pioneira, a mensuração de sua pegada de carbono realizada a partir de dados primários graças à Footprint PRO Carbono — calculadora desenvolvida para as particularidades do sistema agrícola brasileiro pela Bayer e Embrapa — e à parceria estratégica com a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão).
O cálculo foi feito com dados de produtores de soja do Mato Grosso, já integrantes do programa PRO Carbono Commodities, que também plantam algodão representando uma área de aproximadamente 77 mil hectares — e é a primeira pegada da cultura do algodão calculada no país. Ela marca a evolução da calculadora Footprint PRO Carbono, cujos primeiros módulos foram apresentados em maio de 2023 e liderada pela pesquisadora Marília Folegatti, da Embrapa Meio Ambiente. Agora, a ferramenta, que utiliza metodologia internacionalmente reconhecida de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) para quantificar emissões e medir a pegada de carbono dos cultivos de soja e milho, passa a integrar também a cultura do algodão.
Utilizando dados primários dos cotonicultores parceiros a pegada de carbono mensurada pela Footprint PRO Carbono para a pluma do algodão é de 329 kg CO₂ eq/t (quilogramas de dióxido de carbono equivalente por tonelada de algodão), com potencial de redução de até 32% no estado, baseado na performance de alguns dos talhões usados no cálculo.
“Este é um ponto de partida para entendermos a dinâmica das emissões no cultivo do algodão, o impacto de intervenções e as particularidades entre regiões, contribuindo para estabelecer uma média nacional para a cultura. Assim, estamos desenvolvendo soluções para escalar a agricultura regenerativa e endereçar os principais desafios do ecossistema de carbono no Brasil”, afirma Marina Menin, diretora da Bayer para a América Latina.
Se junta a esta cooperação técnica entre Bayer, Embrapa e Abrapa, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) que vai tratar. Trata-se do plano de trabalho para ajudar a criar uma referência típica nacional da pegada de carbono na cadeia do algodão, algo inédito no mercado brasileiro. A iniciativa busca detalhar os perfis ambientais do algodão e seus derivados (pluma, óleo e biodiesel), com referência nacional da pegada e entender as particularidades de cada região, com dados de agricultores do MT e incluindo agricultores dos estados da Bahia e Goiás nesta fase inicial.
“O resultado esperado da cooperação técnica é gerar referências nacionais confiáveis de emissões de gases de efeito estufa para melhor posicionar a fibra e o óleo de algodão no mercado, incluindo no Renovabio. Temos a convicção que a eficiência produtiva do sistema brasileiro de algodão será refletida nos números.” Alexandre Schenkel, presidente da Abrapa.
“Acreditamos no potencial de crescimento da cadeia produtiva do algodão e a ABIOVE tem a satisfação de participar dessa cooperação técnica que ressaltará os atributos ambientais dos produtos dessa agroindústria que contribui para a produção de alimentos, rações, fibras e bioenergia” destacou André Nassar, presidente da ABIOVE.
Mensuração de carbono da cadeia de soja
A Cooperalfa, uma das maiores processadoras de grãos de Santa Catarina, com cerca de 22 mil famílias associadas, terá seus grãos de soja mensurados com a pegada de carbono calculada pelada Footprint PRO Carbono. Na primeira fase, que terá início em 2025, participam cerca de 5.000 hectares de cultivo de soja no estado.
Este é um importante passo para agregar valor às commodities de baixa emissão de carbono e rastreáveis, afirma Antônio Everaldo, gerente-executivo do Negócio de Carbono da Bayer para a América Latina. “A ideia é acompanhar a pegada de carbono em toda a cadeia, chegando o mais próximo possível do que está na mesa do consumidor, visando reduzir ao máximo o impacto durante o ciclo produtivo, e recomendando intervenções para reduzir das emissões de gases de efeito estufa. Com a calculadora, será possível medir o impacto desde os cooperados, até a indústria.”
Na sojicultura, a média nacional da pegada de carbono em bases internacionais é de 1.526 kg CO₂ eq/t, patamar superior aos 643 kg CO₂ eq/t mensurados a partir de dados primários com a Footprint PRO Carbono, na Safra Verão 2023/2024. Ainda é possível chegar a 383 kg CO₂ eq/t, com um plano de intervenção de melhorias de práticas agrícolas.
“Esta iniciativa é um ponto de virada para a sojicultura catarinense. Nosso principal objetivo é promover uma atividade sustentável e um produto com pegada de carbono. Em breve, esperamos expandir a mensuração para mais associados, cobrindo maior área plantada”, pontua Cládis Jorge Furlanetto, vice-presidente da Cooperalfa. Ao ampliar sua participação no setor e em vários elos da cadeia, a Bayer colabora para evidenciar a sustentabilidade da agricultura brasileira.
Inovação para estimular acúmulo de carbono em solo
Participantes do evento acompanharam a primeira demonstração do Modelo Preditivo PRO Carbono. Anunciada na última edição do Carbon Science Talks, a ferramenta, em fase final de desenvolvimento, é uma parceria da Bayer com a Embrapa Agricultura Digital. A previsão é que ela passe a ser disponibilizada a partir do próximo ano no portfólio de serviços PRO Carbono.
Encabeçado pelo pesquisador Luis Gustavo Barioni, da Embrapa, o modelo simula a dinâmica do aporte e da decomposição do carbono no solo para diversas culturas agrícolas, a partir da adoção de práticas de agricultura conservacionista, considerando as características únicas do solo e clima brasileiro. Um dos objetivos da solução é reduzir o número de análises de solo e consequentemente os custos para medições do estoque de carbono, sem prejuízo à precisão das estimativas, impulsionando projetos de remoção de carbono futuramente em larga escala na agricultura tropical.
Fonte: Assessoria