Cultura

Paulo Pires estreia Amor de Pedra na Casa do Parque

A subjetividade do ser humano é a matéria-prima do escultor e artista plástico Paulo Pires, de 43 anos.  Uma das etapas de seu processo criativo é observar as pessoas, tentar desvendar  sentimentos e desejos, para transmiti-los às pedras de arenito.

O resultado são sequências de corpos que se entrelaçam em abraços e espasmos. “É um jogo de formas, nem tudo é o que parece ser. Gosto de brincar com a imaginação da pessoa e de desafiar o olhar. Depois a pessoa acaba percebendo que a forma não era aquilo que ela imaginou”, relata Pires.

Para criar, o artista primeiro observa a multidão. “Gosto de sentar em praças e locais públicos e ficar analisando as pessoas nas ruas. Tento entrar no pensamento delas e sentir o que elas sentem. Minhas esculturas sempre tratam do desejo. Esse desejo impresso na pedra sempre é a questão do desejo do outro, como uma viagem ao corpo alheio”, explica.

A pedra de arenito é a base de suas esculturas e define inclusive a moradia do escultor, que hoje vive próximo à região de Rondonópolis. “Aqui tem bastante arenito, mas penso, em um futuro próximo, em ir morar em Pontes e Lacerda, pois é uma região que me atrai muito e também tem muito arenito. Estar perto desse material é muito importante para mim”.

Paulo Pires começou no mundo das artes ainda criança. O artista autodidata  foi um talento revelado por uma professora do ensino fundamental. Curiosa com a ausência do aluno, ela decidiu buscar a família da criança para questionar porque o menino passava tanto tempo alheio às aulas. Ao chegar na casa da família Pires, em Rolim de Moura (Rondônia), para onde sua família mudou na infância, a professora deparou-se com várias madeiras pintadas pelo garoto e encantou-se. Foi ela quem o estimulou a seguir pelo mundo das artes plásticas.             

“Eu já tinha reprovado a segunda série por me sentir desestimulado. Hoje, vejo que isso foi até algo bom. Se eu não tivesse encontrado essa professora, não sei se teria seguido pelas artes. Ela me incentivou, me ajudou a fazer a primeira exposição e a vencer o primeiro salão de artes”, diz.

Ainda criança o escultor participou de quatro salões, nos anos de 1980/90, em Rondônia, vencendo todos na categoria juvenil. O seu primeiro quadro, pintado aos nove anos, com a ajuda da professora, já trazia os elementos de subjetividade tão característicos da obra de Pires.

“Era um grupo de crianças soltando pipas, mas não dava para vê-los. Era uma cena bem da minha infância, aquela  gurizada soltando pipa no breu. Ninguém via o rosto, era apenas uma escuridão e o colorido eram as pipas e a segunda parte eram as casas de lona”, relembra.

A escultura entrou na vida do artista quando ele regressou a Mato Grosso. Já em Rondonópolis, Pires decidiu aventurar-se pela técnica de escultura em madeira, até que descobriu o arenito. “Foi uma questão de desafio. Eu adoro pintar, mas achava que estava me repetindo muito, então queria experimentar novos materiais”, diz.

Uma das grandes incentivadoras desse caminho foi a crítica de arte Aline Figueiredo. Em 2003, veio a exposição Desejo de Pedra, no Museu da Universidade Federal de Mato Grosso e novas premiações. O último salão de Paulo Pires foi o 13º Salão de  Artes Plásticas de Rondônia (Sart), no qual ficou em terceiro lugar.

 A idealizadora d'A Casa do Parque, Flávia Salem, celebra a chegada desta exposição que vem de encontro aos seis anos de abertura da Casa do Parque; “A obra de Paulo Pires inspira. São formas extremamente sensuais, que despertam todos os sentidos sem vulgaridade alguma. Como diz o artista – cada um pensa o que quiser. Gosto  muito”.

Para quem quiser conferir de perto o trabalho do escultor, a exposição Amor de Pedra começa quinta-feira (26), na Casa do Parque (rua rua Major Severino de Queiroz, 455 – Duque de Caxias II) a partir das 19h.  A classificação indicativa é de 16 anos. A entrada é franca.

Redação

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