Alvo de investigação no esquema de grampos clandestinos em Mato Grosso, o cabo da Polícia Militar, Gerson Luiz Correa Junior, foi acusado de ter saído da sede do Batalhão de Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam), em que cumpre prisão preventiva, para ir a boate de shows eróticos em Cuiabá, a Crystal Night Club.
A saída noturna foi descoberta durante inspeção judicial determinada pelo desembargador Orlando Perri, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), responsável pela relatoria do processo de investigação sobre os grampos. A inspeção foi realizada pelos juízes Bruno D’Oliveira Marques, da 11ª Vara Criminal da Justiça Militar, e por Geraldo Fidélis, da 2ª Vara Criminal de Execuções Penais.
Conforme o relatório de inspeção, a vistoria foi realizada em todas as unidades prisionais militares nas quais os investigados na ação estão presos, sendo eles o ex-comandante-geral da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa, o ex-chefe e ex-adjunto da Casa Militar, coronel Evandro Lesco e Ronelson Barros, foram lotados. Inclusives nas prisões onde o tenente Januário Antônio Edwiges Batista e o cabo Euclides Torezan estiveram quando foram presos.
Além da Rotam, no dia 5 de junho, os magistrados também vistoriaram as prisões da Escola Superior de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Esfap), da Academia da Polícia Militar Costa Verde, do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do 3º Batalhão da Polícia Militar e do 4º Batalhão da PM de Várzea Grande.
Foram analisados a situação do local onde os réus estão presos, incluindo os acessos a computadores, notebooks e celulares – uma vez que a motivação partiu de denúncias que apontaram que o cabo Gerson estaria mandando mensagens via e-mail e aplicativos de conversas. Além disso, a rotina carcerária de cada um deles, o monitoramento de eventuais saídas e o recebimento de visitas.
“Além da situações acima por mim relacionadas, ressalto que os magistrados ora designados terão amplos poderes para, verificando qualquer situação que considerarem anômala e irregular, determinar procidências necessárias, para imediatamente saná-las”, complementou Perri em sua determinação.
Saída à boate
No relatório, o monitoramento da rotina de Gerson Correa foi justificado por conta de uma denúncia sobre a saída noturna indevida do investigado, na qual teria ido até a Boate Crystal e ainda teria sido permitido sair para “tomar cerveja”.
Prisão
Gerson foi preso no dia 23 de maio acusado de ser responsável por formalizar os pedidos, prorrogações e relatórios de inteligência dos grampos militares ilegais à Justiça.
Após passar pela audiência de custódia e por um exame de corpo de delito, ele foi encaminhado para a prisão do batalhão da Rotam, no bairro Dom Aquino, onde continua cumprindo a medida cautelar.
Em razão das denúncias de irregularidades, os magistrados sugeriram a transferência do cabo Gerson Correa para o unidade prisional de Santo Antônio de Leverger (34 km ao sul de Cuiabá).
De acordo com informações confirmadas pelo gabinete do desembargador Perri, o cabo Gerson será remanejado para o Centro de Custódia da Capital (CCC). No entanto, não foi definida a data da transferência do investigado.
Especialista em monitoramento
Durante a audiência de custódia, o cabo da PM, ao afirmar ser especialista na área de monitoramento, garantiu que não haveria nenhuma possibilidade de existir os serviços de interceptações na Polícia Militar e negou sua participação no suposto esquema.
“Nunca tive esse acesso, não existe que eu saiba, ali não é lugar de qualquer tipo de investigação. O que é propagado pela mídia são inverdades e muitas irresponsabilidades. Não existe guardião dentro da Casa Militar e nem dentro do Governo”, disse.
“Eu sou especialista, mexi doze anos com isso. Eu posso afirmar categoricamente não existe nenhum software de gravação ou de reprodução de mídia via interceptação telefônica ou outro meio ilícito para realizar grampos”, completou Gerson.
Arapongagem em MT
A existência de suposta central clandestina de grampos telefônicos em Mato Grosso veio à tona no dia 11 de maio, quando o governo do Estado anunciou a exoneração do ex-chefe da Casa Civil Paulo Taques. Sua saída foi anunciada como um acordo entre Paulo e seu primo, o governador Pedro Taques, para que o homem forte do Executivo deixasse o Palácio Paiaguás e cuidasse pessoalmente das investigações envolvendo a suposta “arapongagem”.
O caso até então investigada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), após denúncia do ex-secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), o promotor de Justiça Mauro Zaque, apontou que membros da Polícia Militar aproveitaram uma investigação relacionada ao tráfico de drogas na região de Cáceres (177 km de Cuiabá), para inserir números telefônicos de políticos adversários ao governo, médicos, advogados, jornalistas, servidores públicos e até desembargador aposentado de Mato Grosso, em um pedido de quebra de sigilo.
O requerimento para as interceptações teria sido encaminhado ao MPE, que por sua vez formalizou a solicitação à Justiça estadual. A autorização teria partido do juiz Jorge Alexandre Martins Ferreira, que não teria tido conhecimento de que nem todos os números relacionados pela PM estavam relacionados com o crime tratado no processo.
A prática já é conhecida no mundo da espionagem como “barriga de aluguel”.
As escutas ilegais teriam começado no período das eleições de 2014, quando Silval Barbosa (PMDB) ainda era governador e Taques disputava as eleições. Em 2015, novos nomes foram incluídos nas escutas.
Segundo a denúncia, o esquema de escuta teria o envolvimento direto de pelo menos três policiais militares: os cabos Gerson Luiz Ferreira e Clayton Dorileo Rosa de Barros, e a sargento Andrea Pereira de Moura Cardoso.
Até o momento, o que se sabe é que os contatos supostamente inseridos de forma criminosa foram: a deputada Janaina Riva (PMDB); o advogado eleitoral José do Patrocínio; o jornalista José Marcondes dos Santos “Muvuca”; o atual secretário municipal de Trabalho e Desenvolvimento Humano de Cuiabá, Vinicius Hugueney (PP); o assessor do deputado Wagner Ramos (PR) Eduardo Gomes Silva Filho; o assessor especial da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) Romeu Rodrigues da Silva; a jornalista Larissa Malheiros Batista; Kely Arcanjo Ribeiro Zen, filha do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro; os servidores da Assembleia Legislativa Mario Edmundo Costa Marques e Carlinhos Bergamasco (já falecido); o desembargador aposentado José Ferreira Leite; e a gerente de Inteligência e Contra-Inteligência da Casa Militar, Claudia Rodrigues de Gusmão.
A lista de grampeados é composta, até mesmo, por uma empresária que teria tido um relacionamento amoroso com o ex-secretário-chefe da Casa Civil Paulo Taques, Tatiane Sangalli.
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