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Você ainda será operado por robô

Um dia você ainda vai ser operado por um robô. Essa afirmação é real, diante do avanço da tecnologia médica que busca constantemente fazer cirurgias menos invasivas e que gerem menos dor ou trauma ao paciente. O resultado? Um procedimento mais seguro, preciso e que permite ao paciente sair do hospital com alguns dias de antecedência, diante da recuperação mais rápida.

Mas calma: não é aquele robô com pernas e braços que saem andando pelos corredores e te dizem bom dia, como nos filmes. São instrumentos robóticos que obedecem ao comando de um cirurgião experiente e que escalonam movimentos, evitando aquele tremor que todos os humanos têm – por mais experiente que seja – e permitindo acesso a áreas mais delicadas do corpo humano.

Já usado na urologia, com alguns tipos de cirurgia cardíaca e abdominal – como a retirada de vesícula -, hoje um dos trunfos da robótica foi ter entrado no campo da neurologia. Se há um local em que a precisão é ainda mais do que fundamental, esse lugar é o cérebro e outras áreas neurológicas. O cirurgião neurológico, Paulo Porto de Melo foi aquele que trouxe essa técnica para o Brasil, direto dos Estados Unidos, em 2011. “O primeiro mito que devemos esclarecer é que o robô não opera sozinho”, diz ele, dirigindo-se aos temerosos da substituição do homem pela máquina.

De fato, a robótica é usada como uma extensão da mão do cirurgião. Onde ele não consegue alcançar, muitas vezes o robô consegue e, por meio do escalonamento de movimentos, o cirurgião consegue comandar o aparelho a fazer movimentos milimétricos com pouca chance de erro.

“Ele amplifica a potencialidade do cirurgião e filtra o tremor que todos têm. Mesmo os mais renomados, quando operam em campos muito pequenos, tremem um pouco. É inerente. Além de o robô eliminar esse tremor, o punho dele gira em sete eixos diferentes, 360 graus. O punho humano não gira 360 graus em canto nenhum, por isso o robô consegue maior acesso”, explica Melo.

Ele conta que, se um cirurgião precisa de um movimento pequeno, ele ajustará o robô para um “movimento fino”, mas poderá fazer um maior, já que o robô conseguirá filtrar e fará menor. “Se faço um movimento de 0,5 centímetro, o robô fará de 0,05 centímetro. Isso acaba deixando a cirurgia mais delicada, mais precisa, mais segura, com acesso a regiões que não se conseguiria facilmente, porque o tamanho da mão do robô é muito menor do que a mão humana”, entusiasma-se.

Perícia
O neurocirurgião explica que o robô hoje usado nas cirurgias neurológicas não foi desenvolvido pensando em tal atividade. “Em conjunto com universidades americanas, estamos desenvolvendo uma série de protocolos e técnicas de cirurgia robótica para nos aproveitarmos do robô existente”, diz ele, que também é diretor de neurocirurgia da Sociedade Mundial de Cirurgia Robótica.

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Segundo o médico, em aneurismas cerebrais completos, à mão livre, muitas vezes, não é possível fazer reparos diretamente. “Para fazer um determinado procedimento, precisamos dar pontos na parede da artéria com um fio que tem um décimo da espessura de um fio de cabelo. Eu faço isso, mas são poucos os médicos que conseguem. “Quando colocamos um cirurgião que não tem tanta perícia, com o auxílio do robô ele consegue fazer”, conta.

Melo comenta que isso permite que essa medicina tão minuciosa não dependa apenas da mão de poucos peritos, abrindo assim um caminho para um maior acesso a cirurgias.

Ele conta, no entanto, que se algo der errado no meio da cirurgia, o procedimento pode ser convertido para uma cirurgia convencional. “Se possível, usamos o robô. Se não for possível, podemos converter. Antigamente se operava a vesícula por via aberta, eram dois palmos de incisão. Depois, surgiu a videolaparoscopia. Quando dava errado, convertia-se para vídeo em convencional. À medida que a experiência por vídeo aumentou, a taxa de convencionais foram caindo”.

Telemedicina

Não só cirurgias presenciais podem ser feitas com robô, mas também aquelas à distância. Segundo Melo, isso beneficiaria populações remotas que não têm acesso a um cirurgião experiente na área em que precisa.

“Se um paciente estiver no meio da Amazônia e tiver um robô lá, pode-se operar a quatro mãos”, diz o neurocirurgião. Mesmo que o médico no local não tenha tanta experiência, com a telemedicina é possível conseguir um sistema de tutoria com alguém mais habilitado. Logo, o cirurgião local acompanha a cirurgia e pode intervir em qualquer situação, enquanto o especialista na área opera remotamente.

Melo conta que o maior trunfo da neurocirurgia será quando um instrumento chamado neuronavegador for aprimorado. Esse instrumento funciona como uma espécie de GPS, em que o médico o alimenta com uma ressonância de alguém que tem um tumor e, em tempo real, o neuronavegador vai mostrando na tela onde está o instrumento do cirurgião.

“Quero a integração do neuronavegador com o robô. Quero que o neuronavegador desenhe para o robô os corredores de trabalho seguros. Se o indivíduo, inadvertidamente quiser ir para um lado não seguro, o robô travaria”, conta ele. “Às vezes, acontece de o médico ir para um lado errado, pois uma artéria está 3 milímetros para um lado em que não deveria estar. O robô simplesmente travaria nesses casos”, conta, esperançoso.

Fonte: iG

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