Cidades

Vereadores gastam R$ 247 mil em empresa que não fica em endereço

Uma análise feita pelo SPTV no site da Câmara Municipal de São Paulo mostrou que a empresa que mais recebeu dinheiro dos vereadores este ano não existe no endereço em que ela está registrada. Os vereadores têm uma verba de quase R$ 20 mil para gastar com assinatura de jornal; comprar material de escritório ou bancar despesas com os Correios, por exemplo.

Quando o assunto é estrutura de trabalho, os 55 vereadores da capital não têm do que reclamar. Para manter seus gabinetes, cada um deles têm direito a uma verba de quase R$ 20 mil. Para saber como esse dinheiro está sendo usado na prática, o SPTV analisou a prestação de contas dos vereadores.
A verba foi usada para pagar aluguel de microcomputadores, notebooks e multifuncionais e também para fazer sites.

A Advance Tecnologia Treinamentos e Comércio LTDA, que mais recebeu dinheiro dos vereadores este ano, R$ 247 mil reais, está registrada em Cangaíba, na Zona Leste, mas no local funciona uma clínica odontológica.

“Eu já estou aqui [no consultório] há 13, para 14, há uns 15 anos, já. Faz tempo”, disse o dentista à equipe de reportagem.
O carimbo no recibo que foi encontrado no site da Câmara Municipal indica o endereço onde a empresa funciona. É o mesmo que está no registro na junta comercial.

Treze parlamentares são clientes da Advance Tecnologia Treinamentos e Comércio LTDA. Um deles é a vereadora Noemi Nonato, Ela não quis dar entrevista e o chefe de gabinete se recusou a falar sobre o assunto.

Os outros vereadores que participam: George Hato (PMDB), Nelo Rodolfo (PMDB), Ricardo Nunes (PMDB), Andrea Matarazzo (PSDB), Conte Lopes (PTB), Valdecir Cabrabom (PTB), Pastor Edmilson Chaves (PP), Alessandro Guedes (PT) e Alfredinho (PT), Toninho Vespoli (PSOL), David Soares (PSD) e Marta Costa (PSD), que agora é deputada estadual.

O dono da empresa, Agostinho Tadeu de Almeida, disse que a empresa funciona na na laje da casa dele. “Eu acabei não conseguindo fazer a alteração para cá ainda. Funcionou [no endereço registrado], tem a documentação aí. Inclusive tenho documento comprovando que até 2003 eu fiquei por ali. A minha empresa sou eu, é um serviço q eu presto e o endereço na minha atividade não é extremamente importante”, explicou o proprietário.

Aluguel de equipamentos
A análise das notas fiscais no site da câmara também revelou o vereador que mais gastou com aluguel de equipamentos foi Eliseu Gabriel (PSB)
A equipe de reportagem foi até Itaquequecetuba, na Grande São Paulo, atrás de uma das empresas que alugam equipamento para os vereadores da Câmara Municipal, porque o recibo não diz exatamente que equipamento foi alugado.

A Bets Informática existe, funciona no endereço que aparece no recibo. Mas foi só puxar conversa sobre o aluguel de computador que o dono, que não sabia que estava sendo gravado, disse que não valia a pena. E que só faz isso pra político.

“Um gabinete hoje político ele não pode ter bens. Um vereador não pode ter nada deles, é tudo alugado. O carro é alugado, os serviços são alugados, os computadores que são para o gabinete são alugados. Agora porque eu não sei”, diz o proprietário da Bets Informática.

Ele mesmo faz a conta para mostrar que não compensa alugar. “Olha, vai dar em torno de uns R$ 300 por máquina, vai, digamos assim. Só que ele vai ficar vai, três meses. Já são R$ 90, já é um equipamento. Então, o tempo que eles vão usar é quase o preço já do que custa, né?”.

O vereador Eliseu Gabriel é o único que tem contrato com a Bets Informática e pagou de janeiro até agosto de 2015 R$ 36.400. Desde o ano passado, a despesa chega a quase R$ 87 mil.Com este dinheiro, daria para comprar 9 computadores na própria empresa.

Em nota, o vereador disse que gasta R$ 5.200 por mês para alugar seis computadores e um servidor de dados. E afirmou que não fez cotação de preços e que precisa alugar porque a Câmara não permite a aquisição dos equipamentos. Eliseu disse ainda que encerrou o contrato com a Bets Informática.

O segundo vereador que mais gastou com aluguel de equipamentos foi Eduardo Tuma (PSDB). Foram gastos R$ 33.950 de janeiro a agosto na CPA Innovations Technologies e Consulting LTDA.

A empresa está registrada em um endereço na Zona Sul da capital, onde a equipe de reportagem encontrou uma lojinha. A dona da loja disse que quem sabia era o filho, Peterson Alves. Ele foi candidato a deputado pelo PRB no ano passado, mas não ganhou a eleição. Por telefone, ele disse que não queria falar sobre o assunto.

Em nota, Eduardo Tuma disse que o aluguel de equipamentos foi feito dentro da lei, que a empresa possui endereço fiscal, mas não loja física, porque não realiza venda direta no varejo de rua.

Vereadores respondem
A reportagem procurou o dono da Bets, em Itaquaquecetuba, mas ele não quis falar.

Os vereadores Toninho Vespoli e Andrea Matarazzo disseram que precisam alugar equipamentos porque não há computadores suficientes na Câmara para os assessores.

Vespoli, George Hato e Valdecir Cabrabom disseram que não visitaram a Advance porque a empresa já trabalhava para outros gabinetes. O vereador Conte Lopes disse a mesma coisa.

Já o vereador Nelo Rodolfo disse acreditar que o endereço da Advance esteja desatualizado e que os recibos e as notas fiscais são legítimos. O vereador Alfredinho disse que a empresa já funcionou naquele endereço registrado.

O vereador Alessandro Guedes informou que apenas continuou com o contrato quando assumiu como suplente.

O vereador Ricardo Nunes disse que não sabia que o endereço era falso e que vai rever o contrato. A agora deputada Marta Costa disse que não checou o endereço da empresa, mas afirmou que a Advance é uma empresa idônea. O vereador David Soares não respondeu.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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