Recentemente assisti a um vídeo postado na internet que me chamou a atenção. Tratava-se de uma produção em que algumas crianças deveriam listar o que pediriam aos pais no Natal. Não sem surpresa, as listas não continham coisas materiais, mas oportunidades para estarem juntos.
Com certeza muitos pais dirão sobre a dificuldade em acompanhar os filhos em seus passos, visto terem jornadas duplas ou triplas, para darem conta, inclusive, das demandas dos filhos.
E quais seriam as demandas deles? Acredito que vários pais se perguntem sobre o que os filhos esperam dos pais, da vida e de si mesmos.
Esse é o cenário de muitas famílias que se questionam: Em que falhei? Por que os adolescentes estão tão insatisfeitos? Por que eles se isolam no mundo virtual acreditando que esse é o mundo real? Por que não buscam a autonomia? Fiz demais e o que não fiz?
Talvez esses questionamentos sejam próprios de todos os pais que possivelmente não quiseram frustrar seus filhos, achando que, se a vida deles fosse facilitada e com mais recursos materiais, seriam mais felizes em seus caminhos.
Acredito que contribuímos para criar uma geração insegura, sem o aparato para enfrentar as dificuldades. Uma geração que tem à disposição uma quantidade enorme de informações, mas que não as assimila, não as converte em conhecimento, dificultando o ser no mundo. Como exemplo, uma geração que busca o resultado positivo imediato às suas tentativas de inclusão no mercado de trabalho e que se esquiva da vinculação afetiva.
Quando acompanho pelas pesquisas as estimativas atuais e perspectivas de futuro da chamada "geração digital" –os nascidos com o advento da tecnologia–, fico me questionando sobre o reflexo destas mudanças no panorama futuro.
No acompanhamento aos pais e aos jovens que fazem uso excessivo da internet e dos aplicativos hoje disponíveis, observo que inúmeros jovens abandonam as suas atividades de rotina, inclusive os estudos, permanecendo conectados horas em demasia –alguns chegando a 18 horas diárias, abdicando de sua saúde, dos propósitos de vida, distanciando-se dos amigos e familiares, vivendo com eles situações de conflito e até violência quando algo os impede de estar frente às telas dos aparelhos. Acredito que o papel da família está bastante fragilizado.
A apresentação cada vez mais precoce das tecnologias aos filhos e o oferecimento de recursos cada vez mais sofisticados que possam atender ao desenvolvimento na área tecnológica e aos prazeres decorrentes deste uso, aliados a um sentimento de que não se percebem suficientes em sua presença, cuidados e afeto no exercício da tutoria e parentalidade, contribuem para que os pais abdiquem desse papel em prol da "felicidade" dos filhos.
Talvez esteja sendo generalista e pessimista nesta visão do mundo jovem, porque também consigo ver muitos que enfrentam as adversidades do cotidiano com garra e motivação. São pessoas que aprenderam com suas experiências a serem resilientes e descobriram as suas competências, tendo como alicerce o modelo paterno e/ou de pessoas significativas em sua vida.
Como poderíamos contribuir para que a geração dos jovens e crianças pudesse aprender com a experiência dos mais velhos, e estes, com eles, uma vez que não temos a suficiência para mudar o mundo?
O que antevejo como possibilidade está descrito no início deste artigo nas cartas das crianças aos seus pais: presença e afeto. Esses aspectos têm desdobramentos e incluem o papel dos pais como modelo, o estabelecimento e a manutenção de limites claros, por mais árduo que isso represente no cotidiano de uma família. São esses pontos que contribuem para que o jovem construa uma identidade positiva de si, identifique suas competências e dificuldades a serem superadas, que aprenda e se responsabilize pelas suas escolhas e possa seguir seu caminho sendo digno diante de si e do mundo, ainda que cheio de contradições.
Fonte: UOL