Após meses de protestos contra seu mandato – com registros de mortes de manifestantes – o presidente Yanukovych assinou um acordo com a oposição em 21 de fevereiro, convocando eleições presidenciais antecipadas em dezembro. Mas ele deixou o país no fim do mesmo dia, provavelmente se escondendo na Rússia, e o Parlamento decidiu manter a votação do dia 25 de maio.
Desde a saída de Yanukovych, a Rússia tem classificado o governo interino de "junta" e, em março, anexou a região separatista ucraniana da Crimeia. A animosidade de Moscou com as autoridades de Kiev alimentou as tensões no leste da Ucrânia, onde ao menos duas regiões declararam independência. Se a Ucrânia conseguir eleger um presidente em um processo eleitoral democrático e transparente, os argumentos russos de que o país tem um governo "ilegítimo" podem acabar.
Vinte e um candidatos concorrem para o novo cargo, mas as últimas pesquisas mostram que o bilionário e empresário do ramo de doces Petro Poroshenko lidera a lista – embora sem maioria suficiente para vencer no primeiro turno. Sua rival mais próxima é a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko, embora ela apareça com apenas 6% dos votos. Se ninguém vencer agora, um segundo turno ocorrerá no dia 15 de junho.
Poroshenko conseguiu muito apoio por seu pragmatismo e uma aparente disposição em se comprometer – qualidades não comuns para um cenário político dominado por figuras veementemente inflexíveis. Ele apoia a aliança da Ucrânia com as 28 nações da União Europeia, mas também diz que reconhece a importância de se melhorar as relações com a Rússia.
Eleição ameaçada
Grande parte do leste da Ucrânia está imersa no conflito. Insurgentes pró-Rússia se confrontam com as forças ucranianas e declararam independência das regiões de Donetsk e Lugansk – uma área que abriga 6,6 milhões de pessoas. Os líderes rebeldes dizem que farão tudo o que puderem para impedir que a eleição aconteça.
O governo já admitiu que a votação não poderá ocorrer em algumas áreas do leste – mesmo com as zonas eleitorais funcionando, moradores são intimidados por ameaças e homens armados.A validade de uma eleição que é nacional, mas que não pode ser conduzida em algumas partes do país é um assunto delicado. A Organização para Segurança e Cooperação da Europa mandou uma missão com vários observadores e o relatório produzido deve ter importante influência, embora a missão não faça julgamentos imediatos sobre a validade de uma eleição.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse na última sexta-feira que reconheceria os resultados da votação e que trabalharia com o novo presidente, mas manifestou esperança de que terminasse a ofensiva militar do governo contra os separatistas.
O longo caminho
O vencedor do pleito enfrentará desafios nada pequenos – desde resolver as dificuldades financeiras da Ucrânia até unificar o eleitorado dividido e pressionar por novas leis em meio a um Parlamento fragmentado.
Seis meses de crise inspiraram os sentimentos extremistas em ambos os lados – aqueles que tomam a Rússia como protetora e os nacionalistas que desprezam sua influência. O ataque da última quinta que matou 16 soldados ucranianos aparentemente mostra que o separatismo do leste está pronto para uma escalada na violência. Manifestantes pró-Europa, ao mesmo tempo, permanecem acampados na principal praça de Kiev, e o partido nacionalista Svoboda tem uma presença substancial no Parlamento.
O presidente também terá que lidar com a economia, prejudicada pela corrupção indiscriminada e por uma dívida de US$ 3,5 bilhões com a Rússia por importação de gás natural. O regime de Yanukovych é acusado de desviar outros bilhões para o bolso de funcionários. O país teve um aumento temporário do pacote de empréstimo do FMI este ano, mas precisará fazer reformas econômicas dolorosas.
G1