Em 2013, como mostra o Fiplan, a Secopa pagou R$ 587,7 milhões ao consórcio e já se apressou em empenhar R$ 726.893.091,00 em 2014 para a obra, que só deve mesmo ser concluída em 2016. Isto segundo previsões do engenheiro Luiz Miguel de Miranda, especialista em trânsito e transporte urbano, membro do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
E são vários os motivos elencados pelo especialista para prever que o modal só ficará pronto daqui a três anos. Um deles é a ausência de projeto executivo. “Mesmo havendo recursos, não seria possível iniciar a implantação do modal sem saber os detalhes do projeto”, pondera o especialista.
Outro ponto bastante importante, de acordo com o engenheiro, são os erros de execução que o projeto tem apresentado e que agravam transtornos ocasionados pelas insistentes chuvas que caem sobre a região. Para Luiz Miguel de Miranda, se devidamente planejada, a obra teria sido acelerada na seca, evitando atrasos por conta da lentidão inevitável do período chuvoso.
E levando-se em consideração que até o momento foram implantados cerca de 50 metros de trilhos, as 13 composições – de um total de 30 – já entregues devem permanecer no pátio de estacionamento do Centro de Manutenções do VLT, localizado próximo ao Aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande, por bastante tempo.
As obras estão em ritmo lento e há indícios de que isso também estaria ocorrendo pelo fato de não haver recursos para pagar as empreiteiras, suspeita o especialista, sugerindo que, diante desse quadro, a Auditoria do Estado, o Ministério Público Estadual e Federal e o Tribunal de Contas da União acompanhem mais de perto os pagamentos das medições das empreiteiras.
“Não se pode admitir adiantamentos num processo que começou errado, está eivado de denúncias de corrupção, intromissão indevida de decisões políticas e má aplicação de recursos públicos”, pondera o especialista.
Waldir Teis aplaude fiasco do VLT
Apesar de ser do conhecimento público que já foi empenhado o montante de R$ 1,3 bilhão para pagamento da obra de instalação do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) entre Cuiabá e Várzea Grande – e que promete ser o maior insucesso das planejadas para a Copa 2014 na Capital mato-grossense – o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Waldir Teis, não poupou elogios esta semana ao governador Silval Barbosa (PMDB) durante reunião para tratar da retomada dos relatórios das obras que estão sendo construídas para o Mundial.
Além disso, somente esta semana o governador autorizou a transferência de R$ 122 milhões de outras áreas (estradas, habitação, esportes) para injetar nas obras da Copa, o que também não foi cobrado durante a reunião. “O Executivo está demonstrando comprometimento”, enalteceu o presidente do TCE ao apresentar ao governador a Comissão de Acompanhamento das Obras Copa do Mundo 2014.
VLT será um grande mico segundo especialista
Sem economizar adjetivos para criticar a opção pelo VLT em detrimento do BRT, o professor Luiz Miguel de Miranda critica a opção do Governo do Estado de Mato Grosso na escolha do modal. “Cuiabá não tem demanda pra o VLT, já o BRT nos atenderia por mais de 30 anos. Nós não temos sequer condições energéticas para fazer o VLT funcionar e, é claro, ninguém pensou nisso antes de gastar milhões com a escolha, que pra mim foi um cinismo dos gestores”, desabafa.
Apesar de o modal escolhido pelo governo ser mais tecnológico, silencioso e confortável, ele não é viável. Quatro motivos principais embasam a teoria do especialista. Em primeiro lugar ele explica que a Capital não tem demanda para tal transporte – a mobilidade urbana é pensada em escala de necessidade e, sendo assim, uma cidade começa pelo ônibus comum, passa para o BRT (ônibus articulado), VLT, metrô e por fim trem suburbano.
Caso houvesse a implantação do BRT, ao invés de contemplar 22 km com o transporte alternativo, seriam 40 km de BRT expansível, que também poderia ser estendido às outras rotas subjacentes.
Em segundo lugar está a viabilidade econômica: ao invés do investimento de R$ 1,4 bilhão no VLT, o BRT seria implantado sem custo para os cofres públicos, já que os ônibus, articulados ou não, são feitos através da iniciativa privada, ou seja, uma economia de 100%. Outro detalhe importante: diferentemente do VLT, o BRT já tinha um projeto técnico.
Em terceiro lugar o custo operacional do modal, que mais uma vez esbarra no custo, primeiramente para o povo. “É totalmente mentiroso afirmar para a população que o valor da passagem será semelhante à do coletivo. É pensar que o povo é analfabeto e sem noção. Não há como o custo ser o mesmo. E dizer que terá subsídio da passagem é balela. Para ter um subsídio é necessário um plano de governo, não para um mês e sim para 10, 20 ou 30 anos. Você acha que um governo que está a cerca de nove meses para terminar vai fazer este projeto? Não vai”, afirma Miranda.