A saída de Whelan ocorre menos de 24 horas depois da liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal. O ministro argumentou que o inglês não deveria ficar preso antes do julgamento. Ele escreveu que a regra é apurar para, selada a culpa, prender.
Esta é segunda vez que o inglês consegue um habeas corpus. Na primeira vez que foi detido, em 7 de julho, ele passou menos de doze horas na prisão.
Depois de ter a prisão preventiva decretada pela Justiça do Rio no dia 10 de julho, passou a ser considerado foragido ao deixar o Hotel Copacabana Palace, onde estava hospedado. O executivo saiu por uma portaria destinada a funcionários, acompanhado do advogado, Fernando Fernandes. No dia 14 de julho, ele se apresentou ao Tribunal de Justiça do Rio e foi levado para Bangu.
Defesa
O advogado de Raymond Whelan, Fernando Fernandes, disse em nota que o habeas corpus prova que a prisão de Whelan é ilegal e, portanto, a saída dele do hotel não pode ser considerada fuga. Fernandes afirmou ainda que vai pedir o arquivamento das denúncias contra o executivo.
Para o Ministério Público, o entendimento é que mesmo com o habeas corpus a prisão do inglês foi legal e que nada impede o andamento das investigações.
“As investigações continuam, independente da soltura do Whelan. Nós iremos provar judicialmente todas as acusações que foram formuladas com a competente ação penal”, afirmou o promotor Marcos Kac.
O esquema
No dia 1º de julho, policiais da 18ª Delegacia de Polícia, da Praça da Bandeira, prenderam 11 pessoas na operação "Jules Rimet". Na segunda-feira (7), Raymond Whelan chegou a ser preso também, mas foi solto na madrugada de terça-feira (8) depois de obter um habeas corpus na Justiça do Rio.
Com a listagem de celulares da Fifa em mãos, um dos agentes policiais digitou no aparelho celular apreendido do argelino Lamíne Fofana o prefixo 96201, que precede os telefones da entidade. Apareceu, então, o nome "Ray Brazil", para o qual havia 900 registros entre telefonemas e mensagens. Ao todo, a operação está lendo e escutando 50 mil registros telefônicos, dos quais mais de 50% já foram apurados.
Segundo as investigações, três empresas de turismo localizadas em Copacabana, interditadas pela polícia, faziam contato com agências de turismo que traziam turistas ao país e vendiam ingressos acima do preço.
Eram ingressos VIPs, fornecidos como cortesia a patrocinadores, a Organizações Não Governamentais (ONGs) e também destinados à comissão técnica da Seleção Brasileira – desde bilhetes de camarotes até entradas de assentos superiores. Uma entrada para a final da Copa no Maracanã chegava a custar R$ 35 mil e a quadrilha faturava mais de R$ 1 milhão por jogo.
Segundo a polícia, Fofana também conseguia entradas vendidas pelos agentes oficiais da categoria "hospitalidade", pacotes de luxo, controlados pela Match Hospitality. Até carro forte foi usado para abastecer a quadrilha que vendia entradas para todos os jogos da abertura à final do torneio.
Segundo o delegado Fábio Barucke, responsável pelo caso, os presos já atuaram em pelo menos quatro mundiais e estimativas apontam que a quadrilha poderia movimentar cerca de R$ 200 milhões por Copa do Mundo.
Os presos
Além de Fofana e Whelan, estão presos o policial militar reformado Oséas do Nascimento; Alexandre Marino Vieira; Antônio Henrique de Paula Jorge, um dos contatos de Fofana no Brasil (antes de ser preso, Henrique tentou retirar de um banco R$ 177 mil em dinheiro vivo); Marcelo Pavão da Costa Carvalho; Sérgio Antônio de Lima, que teria tentado subornar um dos agentes; Ernane Alves da Rocha Júnior; Júlio Soares da Costa Filho; Fernanda Carrione Paulucci e Alexandre da Silva Borges. O advogado José Massih responderá ao processo em liberdade por ter colaborado com as investigações.
G1