Presos usam aparelhos celulares do alto do pavilhão 5 de Alcaçuz (Foto: Fred Carvalho/G1)
Detentos rebelados de Alcaçuz, maior presídio do Rio Grande do Norte, estão fazendo uso de aparelhos celulares. As ligações são feitas de cima dos telhados do pavilhão 5 da unidade. Do lado de fora, policiais militares da Força Nacional apenas observam. Na manhã desta sexta (20) os presos continuam soltos pelos pavilhões e pelos pátios do presídio.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, os bloqueadores de celular instalados em Alcaçuz foram desligados para não atrapalhar o trabalho da polícia, que reforça o patrulhamento na área externa da unidade.
Este é o sétimo dia de motim na penitenciária, onde pelo menos 26 presos foram assassinados no fim de semana. A PM afirma que outros detentos também foram mortos no confronto ocorrido nesta quinta.
Alcaçuz fica em Nísia Floresta, cidade da Grande Natal. Com capacidade para 620 presos, a unidade possui atualmente 1.150 detentos. A grande maioria dividida em duas facções criminosas. De um lado o PCC. Do outro, o Sindicato do RN, dissidente da facção que nasceu nos presídios de São Paulo. Desde o sábado passado, os rivais se digladiam dentro da unidade
Nos pavilhões 1, 2 e 3, estão presos do Sindicato do RN. Já os pavilhões 4 e 5 são ocupados pelo PCC. O pavilhão 4 foi dominado no sábado, quando aconteceu a matança.
Um cenário de guerra toma conta da penitenciária (veja o vídeo acima). “Está todo mundo armado”, afirmou o major. "A sorte é que eles não estão atirando contra as guaritas, senão teríamos que revidar", acrescentou Franco.
Forças Armadas
Homens do Exército, Marinha e Aeronáutica chegaram a Natal na manhã desta sexta-feira (20) para combater a onda de ataques criminosos iniciada na quarta-feira (18). O emprego dos militares no patrulhamento das principais vias, pontos turísticos e o aeroporto da capital do Rio Grande do Norte foi autorizada pelo presidente Michel Temer. Ao todo, 1.200 homens vão integrar a Operação Potiguar 2, que segue até o dia 30 deste mês.
Natal sem ônibus
Um razão dos ataques, Natal amanheceu sem ônibus. Até o momento, não há previsão de os veículos saírem das garagens.
Negociação
Desde segunda-feira (16) que o governo do Rio Grande do Norte mantém contato com os líderes de facções para tentar retomar o controle de Alcaçuz. A negociação é feita com integrantes do PCC e do Sindicato do RN. O secretário de Segurança Pública e Defesa do Rio Grande do Norte (Sesed), Caio Bezerra, disse que as facções foram informadas de que a polícia não iria mais permitir confrontos entre criminosos.
Inaugurada em 1998 com foco na "humanização", a penitenciária de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, está sem grades nas celas desde uma rebelião em março de 2015. Com isso, os presos circulam livremente e os agentes penitenciários se limitam a ficar próximos à portaria. O complexo, no município de Nísia Floresta, na Grande Natal, tem capacidade para 620 pessoas, mas abriga o dobro de presos (veja como funciona Alcaçuz)
Transferências e onda de violência
Nesta quarta-feira (18), 220 presos ligados à facção Sindicato do RN foram retirados de Alcaçuz e levados para a Penitenciária Estadual de Parnamirim, de onde detentos foram retirados para serem transferidos a outras prisões.
Inicialmente, o governo planejava fazer uma permuta e levar para Alcaçuz 116 detentos sem ligações com facções que estavam Parnamirim. A juíza corregedora responsável pelo presídio, entretanto, impediu. Com isso, esses 116 foram levados para a cadeia pública de Natal. A prisão tem capacidade para acomodar 216 presos, mas com a chegada dos transferidos de Parnamirim passa a abrigar 676.
Segundo a secretaria de Segurança, as transferências são uma estratégia para evitar novos confrontos entre as facções criminosas e uma fuga em massa. Bezerra, o titular da pasta, diz que além da informação sobre os túneis nos pavilhões 1 e 2, o governo soube que os detentos desses locais – ligados ao Sindicato do RN – tinham um plano "bastante avançado" de retaliação contra os presos do pavilhão 5, ligados ao PCC.
Durante as transferências, o estado passou a registrar uma onda de ataques, que se estenderam até a madrugada desta quinta-feira (19). Dezesseis ônibus, dois micro-ônibus, um carro do governo do estado, três carros da secretaria de Saúde de Caicó, duas delegacias e um prédio de uma secretaria de Saúde foram alvos de ataques. Não há informação sobre feridos. Os ataques ocorreram em oito cidades do estado.
Massacres
O Rio Grande do Norte foi o terceiro estado a registrar matanças em presídios deste ano no país. Na virada do ano, 56 presos morreram no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. Outros oito detentos foram mortos nos dias seguintes no Amazonas: 4 na Unidade Prisional Puraquequara (UPP) e 4 na Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoal. No dia 6, 33 foram mortos na Penitenciária Agrícola Monte Cristo (Pamc), em Roraima.
O governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria, classifica o massacre em Alcaçuz como "retaliação" ao que ocorreu em Manaus, onde presos supostamente filiados ao PCC foram mortos por integrantes de uma outra facção do Norte do país.
O governo federal anunciou que as Forças Armadas vão fazer varreduras nos presídios para retirar celulares e armas, sem lidar diretamente com os presos. Amazonas, Rio Grande do Norte e Roraima já solicitaram o apoio.
Segundo o governo federal, as Forças Armadas irão entrar nos presídios para fazer inspeções de rotina e buscar materiais proibidos. A ida de militares para os estados dependerá do aval dos governadores.
“Haverá inspeções rotineiras dos presídios com vistas à detecção e à apreensão de materiais proibidos naquelas instalações. Essa operação visa a restaurar a normalidade e os padrões básicos de segurança dos estabelecimentos carcerários brasileiros”, disse o porta-voz da presidência, Alexandre Parola.
Fonte: G1