Em meio à recessão e ao aumento do desemprego e da inadimplência, a fuga de recursos da caderneta de poupança continua batendo recordes, segundo números divulgados pelo Banco Central nesta quinta-feira (5).
As retiradas em abril superaram os depósitos em R$ 8,24 bilhões, maior perda de recursos para o mês desde o início da série histórica, em 1995 (22 anos). De janeiro a abril, a evasão superou os depósitos em US$ 32,29 bilhões e também foi a maior registrada para este período.
Em todo ano passado, R$ 53,36 bilhões deixaram a modalidade de investimentos. Foi a primeira vez em dez anos que mais recursos saíram que entraram da caderneta. Foi também a maior fuga de valores desde o início da série histórica do BC.
Depósitos, saques e saldo da poupança
Em abril, os depósitos em caderneta de poupança somaram R$ 153,25 bilhões, ao mesmo tempo em que os saques de recursos totalizaram R$ 161,49 bilhões. Já os rendimentos creditados nas contas dos poupadores somaram R$ 4,12 bilhões no período.
Com a saída de valores da modalidade de investimentos, o volume total aplicado, ou estoque da caderneta, recuou. No fim do mês passado, ele totalizava R$ 640 bilhões – o menor patamar desde agosto de 2014, quando estava em US$ 638 bilhões.
Ao final de março de 2016, o estoque era de R$ 644 bilhões e, ao final de fevereiro, era de R$ 656 bilhões.
Economia ruim e baixo rendimento
A evasão de recursos da poupança acontece em momento de baixo nível de atividade, com a economia brasileira em recessão. Além disso, outros fatores também têm impactado a renda dos brasileiros, como a alta da inflação, dos juros, do desemprego e de tributos. Para completar o quadro, o nível de endividamento das famílias segue elevado.
Outro fator que tem influenciado a retirada de recursos da poupança é sua baixa rentabilidade frente a outras modalidades. Isso ocorre porque o rendimento dos fundos de renda fixa sobe junto com a Selic. Já o rendimento das cadernetas, quando a taxa de juros está acima de 8,5% ao ano, como atualmente, está limitado em 6,17% ao ano mais a variação da Taxa Referencial (TR).
Segundo cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), com os juros básicos atualmente em 14,25% ao ano (o maior nível em nove anos), as aplicações em renda fixa, como os fundos de investimento, ganham mais atratividade e ganham da poupança na maioria das situações. A poupança continua atrativa somente para fundos com taxas de administração acima de 2,5% ao ano.
Além disso, a rentabilidade da poupança, no ano passado, perdeu para a inflação. A aplicação, que rendeu 8,15% no ano, não alcançou a inflação do período, de 10,67%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Descontada a inflação, a poupança teve uma perda de poder aquisitivo de 2,28%, de acordo com a consultoria Economatica. É o pior resultado desde 2002.
Quando a poupança pode ser uma boa opção
Apesar do baixo rendimento, especialistas avaliam que a caderneta de poupança ainda pode ser uma boa opção, mas somente em poucos casos. Pode ser uma boa alternativa, por exemplo, para pequenos poupadores (com pouco dinheiro guardado), para pessoas que buscam aplicações de curto prazo (poucos meses) ou que procuram formar um "fundo de reserva" para emergências – uma vez que não há incidência do Imposto de Renda.
Nos fundos de investimento, ou até mesmo no Tesouro Direto (programa do governo de compra de títulos públicos pela internet) há cobrança do imposto de renda e, na maior parte dos casos, de taxa de administração. Nos fundos de investimento e no Tesouro Direto, o IR incide com alíquota regressiva, ou seja, quanto mais tempo os recursos ficarem aplicados, menor é o valor da alíquota incidente no resgate.
Menos recursos para casa própria
O menor interesse na poupança também afeta os financiamentos imobiliários, uma vez que a modalidade é fonte de recursos para a casa própria. Pelas regras, os bancos precisam destinar parte dos saldos da poupança (SBPE) para o crédito imobiliário.
Em março, a Caixa Econômica Federal informou que aumentou os juros para financiar a casa própria com recursos da poupança. É a primeira vez no ano que a Caixa sobe os juros para crédito imobiliário. Segundo a Caixa, o novo aumento é "decorrente de alinhamento ao atual cenário econômico". O último reajuste havia acontecido em outubro do ano passado.
Fonte: G1