Cidades

Polícia indicia por fraude os 5 PMs que alteraram cena de crime

O delegado André Leiras da Divisão de Homicídios (DH) vai indiciar por fraude processual os cinco policiais militares envolvidos na alteração da cena de um homicídio, no Morro da Providência, no Centro do Rio. Ele analisou melhor o vídeo feito por moradores e por volta das 2h, desta quarta-feira (30), e constatou que os cinco teriam participação na cena do crime. Eles foram presos em flagrante e deixaram a delegacia por volta das 5h, em dois carros da Corregedoria da PM e foram para o Batalhão Prisional.

Inicialmente, dois deles, o Éder Ricardo de Siqueira e o Gabriel Julião Floriado, seriam presos em flagrante, e três policiais – Riquelme de Paulo Geraldo, Paulo Roberto da Silva e Pedro Vítor da Silva –  seriam apenas testemunhas. Os cinco vão ser presos em flagrante. Os policiais prestaram depoimento na delegacia durante aproximadamente quatro horas.

No momento, da fraude, os policiais já estão sem armas, coletes e sem distintivos. O advogado que acompanhou os PMs disse que a arma estava travada, a munição engatilhada e que foi preciso disparar para evitar um acidente.

Moradores do Morro da Providência flagraram nesta terça-feira (29) policiais militares alterando a cena do homicídio de Eduardo Felipe Santos Victor, de 17 anos, em um beco da comunidade. Nas imagens (veja no vídeo acima), PMs aparecem mexendo na cena do crime e um deles coloca uma arma na mão do jovem baleado e faz dois disparos para o lado, aparentemente simulando um confronto. Antes, um outro policial já havia feito um disparo com sua própria arma, para o alto.

O moradores que gravaram o vídeo narram a cena e dizem que ouviram o jovem ainda teria gritado de dor. "Eu ouvi o moleque falando: 'Ai, ai, ai, para, ai, ai, ai, para'", diz uma testemunha. "Eu levantei no primeiro tiro. Ele botou à queima-roupa. Olha lá o garoto cheio de sangue", narra.

Outra testemunha contou ao RJTV que, após a morte, os PMs ainda insultaram moradoresque se aproximaram. "Chamou o morador de lixo. Quem mora no morro é lixo. Então, isso está errado", disse.

Os cinco policiais que teriam participado na ação foram presos administrativamente. Segundo o porta-voz das UPPs, major Ivan Blaz, eles podem ser expulsos da corporação.

"As imagens são de uma flagrância chocante, saltam aos olhos. E o bem maior é a credibilidade do processo. Uma medida imediata tem que ser tomada (…) Hoje houve confronto na Providência entre traficantes e PMs. Houve a morte em decorrência de intervenção policial. O comandante da UPP recebeu o vídeo pela associação de moradores, o que mostra a confiança da comunidade", disse Blaz.

Inicialmente, o caso foi registrado como auto de resistência. Com o vídeo nas mãos, no entanto, a Polícia Civil foi à favela para encontrar o policial que fez o registro e deu início à investigação. As armas dos PMs foram apreendidas. A morte também será investigada, pela Divisão de Homicídios.
No início da noite, equipes da DH e policiais militares voltaram ao Morro da Providência para realização de perícia.

Em nota, o secretário de Estado de Segurança, José Mariano Beltrame, informou que "repudia atos como esse" e determinou "rigor nas investigações com punição exemplar dos responsáveis".

O comando da Polícia Militar disse que avalia como "gravíssima a atitude dos policiais e não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta". "A Corregedoria Interna da Polícia Militar determinou a abertura de um Procedimento Administrativo Disciplinar para analisar a permanência dos policiais na corporação. A apuração ficará a cargo da 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM)", diz o texto.

Em sua defesa, os PMs disseram que foram encontrados um rádio transmissor, uma pistola 9 mm e munições com o jovem.

Uma testemunha disse, em entrevista ao RJTV, que Eduardo tinha ligação com o tráfico e estava armado, mas tentou se render e não reagiu.
"Eu estava dormindo. Acordei assustada com os tiros. Muito tiro. Fui, olhei da janela. De repente eu deparei com o menino. Ele estava armado, mas ele se rendeu", contou.

Segundo moradores que flagraram a ação, os policiais estariam forjando uma reação de Eduardo, que teria sido morto por eles momentos antes. No Instituto Médico Legal (IML), familiares disseram ao G1 apenas que têm certeza que o adolescente foi confundido com um traficante, mas não quiseram dar mais declarações.

Protesto
Moradores fizeram uma manifestação na região da Pedra Lisa, em um dos acessos que dão na parte de trás da Central do Brasil. Segundo a Coordenadoria de Polícia Pacificadora, os policiais da própria UPP Providência contiveram o protesto e a situação se acalmou sem feridos. O policiamento foi intensificado.

À noite, na porta da delegacia, muitos moradores da Previdência xingavam policiais de "assassinos". O Batalhão de Choque da PM foi chamado para evitar protestos violentos.

Fonte: G1

Redação

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