Política

Pedro Taques tornou-se um monstro, diz deputado Zeca Viana

José Antônio Gonçalves Viana, 61 anos, é mais conhecido por sua alcunha política: Zeca Viana. Paranaense de Ampere, o deputado estadual era empresário do agronegócio antes de entrar na política. Em 1985 mudou-se para Primavera do Leste. Foi eleito deputado estadual pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) com 16.695 votos em 2010. Em 2014, foi reeleito com mais que o dobro de eleitores: 35.300. Zeca Viana também foi um dos maiores apoiadores e contribuidores para que o atual governador, Pedro Taques (PSDB), chegasse ao comando do Palácio Paiaguás: “éramos amigos nessa campanha”. Mas a coisa virou divergência política e descambou depois para a antipatia. O Circuito Mato Grosso falou com o parlamentar ao final da sessão desta quarta-feira (16). Leia abaixo as principais declarações de Zeca, que respondeu também se ele mesmo tem vontade de ser governador.

Circuito Mato Grosso: A decepção com Pedro Taques chegou ao lado pessoal?

Deputado Zeca Viana: Não, a decepção que o Pedro Taques causou não foi pessoalmente para mim, foi uma decepção generalizada para o Estado e todos os eleitores. Mais de 80% da população está muito decepcionada com ele. O meu caso com Taques foi político, se transformou depois em um caso pessoal, do qual foi feita uma montagem. Fui acusado de ser o mandante de matar pessoas e fui investigado durante seis meses pela própria Polícia Civil, mas não descobriram nada.

CMT: O senhor sabia dessas denúncias de representação judicial que o senhor diz terem partido do governador?

Zeca Viana: Não sabia. Tive conhecimento quando o desembargador do caso me notificou dizendo que tinha arquivado o inquérito.  Eu perguntei: “que inquérito?; não estou sabendo de nada”. Mas era um inquérito montado pelo Pedro Taques de um e-mail de Chapada do Guimarães, que veio para a Casa Civil, em nome do secretário José Arlindo de Oliveira Silva.

CMT: Por que acha que o governador montou esse inquérito?

Zeca Viana: Ele quer ter todos na mão dele, quer saber de alguma falha, de algum erro para poder chantagear. Este é o perfil dele, de pessoa que usa dessa autoridade. Eu não consigo entender por que ele faz tanta falcatrua e coisas erradas dessa forma.

CMT: O senhor ainda fala com ele?

Zeca Viana: Converso sim, quando a gente se encontra em evento, sempre com todo o respeito, mas é apenas “bom dia”, “boa tarde” e “tudo bem”. Às vezes brinco um pouquinho, mas sem qualquer tipo de relação mais próxima. Depois de todos os inquéritos, nunca fui ao Palácio Paiaguás, apenas duas vezes, em janeiro, e outra vez na vice-governadoria, mas nunca mais entrei lá [no gabinete dele].

CMT: O senhor acha que Taques foi capaz de conduzir as reformas prometidas em campanha?

Zeca Viana: Não, não. Nada, negativo! Ele não conduziu a reforma, não conduziu o Estado e nem conseguiu honrar com 20% do que prometeu na campanha. Taques foi uma negação total.

CMT: Tem alguma teoria sobre o que teria ocorrido?

Zeca Viana: Incompetência em gerenciar, falta de visão administrativa, gastou mal o dinheiro, inchou a máquina pública. Diante disso, vimos, nos três anos de governo Taques, um aumento de mais de 10% da arrecadação, mas ele não soube aplicar os recursos. Além disso, deixou a desejar nos setores primordiais, faltou com pagamentos, tem dívida batendo na casa dos R$ 3 bilhões.

CMT: Por que então o senhor ajudou a vender a ideia de que ele tinha uma boa visão administrativa?

Zeca Viana: Eu lembro que na época da pré-campanha o candidato Lúdio Cabral o chamou de “santo do pau oco”. Eu não entendia o que era e rebati a crítica do dele, mas há pouco tempo eu entendi o que era o santo do pau oco e, de fato, Pedro Taques realmente é o legitimo santo oco, porque vende uma imagem que ele não é. 

CMT: Como tudo começou a dar errado?

Acho que nada deu certo pela vaidade do Pedro Taques. Nunca quis ouvir ninguém, chegou com aquela ganância, ansiedade ao poder, se achando absoluto, se achando professor de Deus. Depois montou uma equipe de pessoas jovens, pessoas que não tinham conhecimento da máquina do Estado. Não é que essas pessoas jovens sejam incapazes, mas a falta de conhecimento em suas devidas pastas causou um atraso muito grande para começar a rodar a máquina, e neste atraso ele entrou no desgaste. Ele assumiu o governo com toda aquela confiança da população e todo o apoio da Assembleia Legislativa, tinha tudo para dar certo, tinha tudo na mão para fazer as grandes reformas necessárias que Mato Grosso precisava, mas pela vaidade em não ouvir quem gostaria de ajudar, simplesmente deixou para trás e causou todo este prejuízo para o Estado. Ele sozinho não tinha e não tem visão administrativa nenhuma.

CMT: Na época da campanha o senhor acreditava mesmo no governador Pedro Taques?

Zeca Viana: Acreditava muito, sempre defendia, porque pensei que ele iria fazer o grande governo que este Estado necessitava, mas infelizmente o Pedro se transformou, ele não é aquela mesma pessoa que eu conheci de 2014 para trás. Taques se transformou depois que assumiu a cadeira e virou governador de Mato Grosso. Transformou-se em um monstro.

CMT: O que levou seu grupo a acreditar que ele era a melhor pessoa para comandar Mato Grosso?

Zeca Viana: Eu o conheci em 2010, na eleição para o Senado, ele se elegeu pelo PDT e eu para deputado estadual. Com isso, fizemos uma amizade muito próxima, comecei a andar em Mato Grosso com ele e acabei enxergando uma pessoa com condição de ser o governador. Naquela época, a gente vinha de um governo desgastado, cheio de movimentos de corrupção e o senador Pedro Taques sempre falava o contrário disso nos discursos dele, sempre aquilo que a sociedade queria ouvir. Além disso, ele sempre demostrou ser uma pessoa de bem e honesta. Eu acreditei em tudo aquilo, mas logo nos primeiros 30 dias de gestão dele foi possível perceber que não era mais a mesma pessoa. Devido a toda essa situação, eu me afastei, sem contar que teve todo o processo criado contra mim. Ele foi um grande ator. Antes da eleição, Pedro Taques foi uma pessoa, depois se transformou em outro personagem.

CMT: O governador o procurou para explicar a situação ou se justificar?

Zeca Viana: Não, absolutamente nada. O Pedro Taques não pede desculpas a ninguém, ele não dá um passinho atrás, só tem visão pra frente; por isso foi um mau gestor. Até porque um bom gestor tem que saber avançar, tem que saber recuar, precisa ter uma boa flexibilidade, e isso ele não teve e não tem.

CMT: Caso Mauro Mendes e Otaviano Pivetta acordassem ser candidatos a vice e governador, respectivamente, o senhor concordaria?

Zeca Viana: Otaviano Pivetta eu acredito que sim e o Mauro Mendes também. O perfil do Mauro é de empresário, então é uma visão administrativa totalmente diferente, saiu da prefeitura de Cuiabá com mais de 80% de aprovação. No caso do Otaviano, ele é um exemplo na administração do município de Lucas do Rio Verde, então são pessoas que sabem gerir uma máquina pública e sabem administrar muito bem.

CMT: O senhor concordaria mesmo com o DEM ao governo e o PDT como vice?

Zeca Viana: Sem sombra de dúvida. É meu sonho colocar essa dupla já para essa eleição de outubro. Otaviano é nosso pré-candidato já definido, mas o Mauro ainda tem dificuldade em definir, tem a questão do DEM, que não definiu se é oposição ou situação, mas nós já decidimos nosso rumo: Otaviano Pivetta é o nosso pré-candidato ao governo.

CMT: O senhor tem articulado para convencer os dois a serem candidatos?

Zeca Viana: Nós estamos conversando. O Mauro, independente de o DEM vir conosco, apoia Otaviano Pivetta. Com DEM ou sem. Eles são amigos. Já declararam isso.

CMT: Acredita que eles têm condições de resolver os problemas que Taques não conseguiu?

Zeca Viana: Os problemas maiores são aqueles que o Taques está deixando para Mato Grosso. Ele conseguiu bagunçar, fazer uma lambança nas contas públicas e nas instituições. Eu não tenho dúvida. Com o conhecimento do Pivetta, antes de assumir o governo, ele vai chamar todos logo após a eleição, pessoas e servidores, para fazer uma força-tarefa já nos primeiros dias. A gente precisa colocar este Estado nos trilhos e fazer Mato Grosso rodar, colocar tudo no lugar certo, o lugar que todos os mato-grossenses merecem.

CMT: Taques argumenta que pegou a casa muito bagunçada, com muitas dívidas. Já teria dado tempo de resolver todas essas pendências?

Zeca Viana: O problema não é a conta, não é a divida do Estado. Mato Grosso tem uma capacidade enorme de buscar mais financiamentos. O problema é a forma como Taques conduziu o Estado, ele tem uma recomendação da Secretaria do Tesouro sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal, à qual ele não vem obedecendo. Está extrapolando nos cargos comissionados, todos os contratados tiveram um aumento de 40% no Judiciário, 38% no Ministério Público, mais 30% no Tribunal de Contas, e na Assembleia Legislativa ele aumentou apenas 4%. Todo gestor, quando vai para uma disputa eleitoral, sabe que precisa e que tem que pegar a casa e consertar, não adianta ficar olhando pelo retrovisor. Este foi o defeito de Taques: só fica culpando a gestão passada, mas quando você casa com a viúva tem que assumir os filhos.

CMT: O senhor acredita em uma reeleição?

Zeca Viana: Jamais, jamais. A rejeição do governador é a pior possível, ele não tem chance de reeleição. A gente não pode subestimar nunca os adversários, o voto dele é para curar câncer, é difícil de encontrar.

CMT: O senhor tem interesse em ser governador de Mato Grosso?

Zeca Viana: Não. A oportunidade não estava distante, mas a gente precisa ter aquela disposição para assumir qualquer desafio que seja. Porque sem disposição não tem como haver boa gestão.

 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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