O patrimônio declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelo deputado estadual Zeca Viana (PDT), candidato à reeleição em Mato Grosso, aumentou 1644% em quatro anos. Entre 2010 e 2014, a declaração de bens dele cresceu de R$ 5 milhões para R$ 87 milhões. São R$ 82 milhões a mais em apenas quatro anos. É o candidato parlamentar mais rico de Mato Grosso. A curva da evolução patrimonial do deputado, que é fazendeiro, chama a atenção, ainda mais se comparada a dos demais parlamentares do País que também pleiteiam a reeleição.
Basta ir à página do TSE para conferir. Os dados são públicos. Em 2010, o então candidato Zeca Viana declarou um patrimônio exato de R$ 5.012.094,69. Os bens mais caros indicados por ele eram um crédito milionário decorrente de empréstimo, no valor de R$ 1,9 milhão, propriedades rurais que mantém até hoje e ações, principalmente provenientes de linhas telefônicas. Este ano, o valor pulou para R$ 87.451.499,75. Neste período, o deputado comprou cinco aeronaves, que juntas somam R$ 3,5 milhões, e maquinário agrícola, como sete colheitadeiras, no valor de R$ 2,5 milhões, e um trator agrícola, de R$ 212 mil.
Perguntado se o enriquecimento tem a ver com os negócios que vão bem ou com a vida política, o deputado se irritou: “Eu teria que ter uma placa de burro na testa”, disse ele, se referindo à declaração de bens. “Há candidatos que têm milhões e declaram tostão. Tem colegas meus que têm milhões e milhões e veja a declaração deles: não dá um milhão de reais. O meu dinheiro é quente, meu anjo, como que o cara vai declarar dinheiro frio?”. Segundo ele, faltou ainda declarar mais uma fazenda, que comprou há pouco tempo no Vale do Araguaia, mas não havia a necessidade, pois o negócio foi feito fora do prazo exigido pelo TSE.
O deputado argumenta que o que parece um enriquecimento exacerbado foi apenas o reajuste do valor dos bens. “Mais de 70% dos valores declarados em 2014 foram reajustados”. Ele explica ainda que das quatro aeronaves adquiridas, somente uma é executiva. As outras três são agrícolas: “Não estou na política para fazer nada de errado, senão eu tirava os bens do meu nome e não declarava tudo certo como fiz”.
Zeca Viana é um dos fundadores da cidade de Primavera do Leste, uma região agrícola promissora de Mato Grosso, Estado reconhecido pelo agronegócio. “Quando cheguei lá tinham 25 casas no máximo”, conta. Ele diz não se sentir incomodado por ser associado à riqueza que acumulou. “Muito pelo contrário. Eu me orgulho de ter um patrimônio, embora não possa dizer que é líquido, porque estou devendo essas máquinas agrícolas todas”. A dívida do deputado com os maquinários, segundo ele, é de R$ 170 milhões.
Ainda de acordo com Viana, entre a atividade agrícola e a política, fica com a primeira. “Eu gosto é da atividade agrícola! Na política, eu sou um aborto da natureza. Na vida, nunca fui candidato a nada. Mas fui forçado por companheiros e amigos a me candidatar”.
Perguntado como alguém entra na política forçado, o deputado explica que tinha um irmão prefeito e o candidato a deputado estadual para a sua região não era uma referência.
Na eleição de 2010, teve 16.695 votos, com o slogan a “Nova Força do Estado de Mato Grosso”. Na biografia, disponibilizada no site do deputado, informa que trabalha “na frente ruralista, defendendo, cobrando e propondo soluções aos grandes e pequenos produtores rurais”.
Nascido de pais pobres, que tiveram 13 filhos em Ampere (PR), Viana vive em Mato Grosso há 26 anos. Na infância, conta que passou necessidades básicas. Estudou em escola rural e aos 17 anos começou a trabalhar como servente. Foi motorista e vendedor de produtos agropecuários. Em 1983, seguiu para o Norte, estimulado pelo governo federal. No Pará, iniciou a vida de agricultor, morando por um tempo com a família em um barraco improvisado.
Na região de Primavera do Leste, onde mora há mais de duas décadas, é tido como um empresário de sucesso. “O Mato Grosso nos proporcionou muita riqueza na valorização imobiliária. Na época em que vim para cá, com cinco hectares no Sul a gente comprava mil aqui. Hoje, isso inverteu. A terra em Mato Grosso atualmente vale muito”.
Keka Werneck – Especial para o Terra