Para o engenheiro civil e especialista de trânsito da Universidade Federal de Mato Grosso Luiz Miguel de Miranda, algumas obras nem em 2017 devem ser concluídas – como aponta estimativa nacional na semana passada. Isso porque o estudo não levou em consideração as questões políticas.
Ou seja, não avaliou como vai ficar a situação das obras atrasadas caso o novo governador eleito em outubro próximo não seja da mesma corrente político do governador Silval Barbosa ou da base de sustentação do presidente da República que tomará posse em janeiro de 2015.
Já para o analista político João Edison, independente do governador que assumir Mato Grosso, o Estado irá enfrentar uma fase de processos na Justiça para investigar os atrasos e superfaturamentos das obras, e isso pode se estender por vários mandatos.
“Os principais empecilhos que temos é o descumprimento do calendário das obras e a grande quantidade de dinheiro que já foi empenhada. Então o novo governo poderá simplesmente não continuar as obras, caso contrário estará assumindo a responsabilidade da gestão anterior”, diz João Edison.
Ou seja, o próximo governador poderá abrir processo administrativo para apurar os atrasos e inclusive levar o caso à esfera judicial para se livrar do problema. “Acionar a Justiça será a melhor escolha para o governador que não quiser assumir uma cassação, mas como a Justiça do nosso país é morosa é possível que nos próximos anos nenhuma obra seja concluída e o Estado já tem alguns exemplos de construções paradas há mais de 20 anos”, lamenta.
Além disso, o especialista pontua a questão de obras que necessitam de mais empréstimos para a sua finalização. “O Estado está longe de alcançar o seu teto de endividamento, contudo se o próximo governo optar por esse caminho, a população irá passar por mais uma fase no qual a área social foi abandonada”, afirma Edison.
VLT é exemplo de obra que poderá ficar apenas no sonho
Entre as construções que não devem ser concluídas até o final do mandato do próximo governador está o Veiculo Leve sobre Trilhos (VLT), o mais claro exemplo da falta de governança, especialmente por se tratar do maior investimento de Mato Grosso para a Copa: R$ 1,4 bilhão.
Desse montante, as parcelas eram para ser pagas de acordo com os trechos que iam sendo entregues, contudo 90% já foram empenhados em nome do Consórcio VLT, enquanto menos de um terço da obra foi finalizado.
Sobre essa questão o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, afirmou ao Circuito Mato Grosso que o VLT foi mal planejado desde o inicio, quando foi alvo de disputa com o Bus Rapid Transit (BRT).
“Eu sou admirador e defensor de Mato Grosso, mas infelizmente temos uma situação lamentável, pois as obras da Copa em Cuiabá foram realizadas sem planejamento antecipado e adequado, por falta de governança”, desabafou Nardes.
Maquiagem vai dobrar valor inicial
Às vésperas do início dos jogos, e sendo que apenas a Arena Pantanal recebeu reforços para ser finalizada, muitas obras que não estão nem na metade de terminar estão passando por uma ‘maquiagem’ para que os turistas não sintam tanto o caos. Contudo, retomar essas construções pode custar o dobro do valor original devido ao trabalho de refazer o serviço inicial.
O investimento em jardinagem foi alvo de criticas até em jornais de circulação nacional, contudo o que não foi estimado ainda é o custo para se retirar novamente essas árvores para dar continuidade às obras.
Segundo o engenheiro Luiz Miguel de Miranda, toda a maquiagem que está sendo realizada em Cuiabá vai representar, no final, o dobro do valor da obra em relação ao custo inicial, pois leva tempo para refazer o serviço.
“Se uma obra está orçada em R$ 200 mil e já foi realizada a escavação e agora estão tampando, depois quando retomarem os serviços, terá de ser investido mais um montante de R$ 200 mil, pois o trabalho será repetido. É isso que nós apontamos como falta de planejamento, que no final quem paga é a população”, explica Miranda.
Já Luiz Miguel de Miranda levanta outra preocupação que será uma certeza em 2017, e envolve a reforma das construções que foram entregues ou parcialmente entregues até o momento: “Não houve qualidade tecnológica nessas obras e a prova são os defeitos que já começaram a surgir. Em 2017, se o governo conseguir entregar tudo para a população, ele terá o trabalho de refazer muitos projetos que estão sendo realizados sem planejamento, e o melhor exemplo que posso citar é o asfalto, que nos próximos três anos será intransitável”.