Depois de um ano muito movimentado, em que o Brasil se viu em meio a crise econômica e política, a expectativa para 2016 é de mais dificuldades em meio a muitas incertezas, de acordo com economistas. Veja abaixo a avaliação de especialistas sobre os principais pontos da economia para 2016.
Especialistas afirmam que 2016 começa envolto de incertezas políticas e econômicas, tornando muito difícil fazer estimativas sobre o crescimento da economia no ano.
No final de novembro, o governo piorou sua expectativa em relação ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016, prevendo um encolhimento de 1,9% da economia no ano – contra 1% de queda na estimativa anterior. A previsão do FMI é de queda de 1%, enquanto o mercado financeiro espera queda de 2,8%.
O professor Tharcisio Souza Santos, das Faculdades de Economia e de Administração da FAAP, afirma que tudo depende de o governo federal recuperar a "governabilidade". "Não se trata de dizer que a culpa é de A, B ou C”, diz. "O governo conseguiu uma coisa fantástica que é ficar completamente desacreditado no cenário político, sem o mínimo de governabilidade. […] Não custa nada lembrar: nós temos um regime presidencialista parlamentar. Precisamos de presidente que consiga se entender adequadamente com o parlamento."
Se a crise política for solucionada, segundo Santos, o cenário se torna menos pessimista para a economia, mas ainda assim "o ano vai ser muito difícil". "Nesse cenário, o PIB deve decrescer alguma coisa como 1,5%", afirma, estimando que "vamos ter então um ano de recuperação em 2017 e, em 2018, as coisas ficam bastante melhores, com crescimento ao redor de 2,5%".
O professor Judas Tadeu Grassi Mendes, da EBS Business School, aponta que o PIB deve recuar entre 2% e 2,5% em 2016. "O próprio governo já disse que é queda de 1,9%. Quando o governo diz que é 1,9%, esqueça, vai vir queda maior", afirma ele, apontando contudo que 2016 pode "ter um crescimento negativo um pouco menor que em 2015, e talvez essa seja a notícia boa".
Já o Pedro Rossi, Professor da Unicamp e diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica, diz esperar uma recessão mais branda, "até porque a base de 2015 é muito baixa". "Adoraria dizer que a gente vai crescer zero, ou seja, não vai ter um crescimento nem negativo nem positivo. Mas essa suposição está envolta por muita incerteza."
Inflação
O ano de 2015 foi marcado por forte pressão dos preços no Brasil. A inflação oficial bateu os maiores patamares em vários anos.
Para 2015 e 2016, a meta central de inflação é de 4,5%, mas o IPCA, que serve de referência, pode oscilar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida. O governo prevê que a inflação fique em 6,47% em 2016. A previsão do FMI é de 6,3%. Já o mercado espera um IPCA de 6,87%.
O professor Rossi não espera uma inflação tão alta em 2016 como foi em 2015. "A inflação neste ano em particular está alta por conta das próprias escolhas do governo, que optou por um choque de preços administrados, quando muitos preferiam um ajuste gradual. Essa inflação que está excessivamente decorre desse choque, que tem um poder de difusão alto", explica. "A gente vai ter algum resquício dessa inflação no ano que vem, mas ela deve se dissipar nos próximos anos."
Santos também espera inflação mais perto da meta que a de 2015, em torno de 6,5% a 7%, porém considerando que a crise política seja atenuada e alivie assim a pressão sobre os fatores econômicos. Já Mendes espera que a inflação siga pressionada. "A inflação na melhor das hipóteses no ano que vem vai ser o dobro da meta dos 4,5%", diz.
Juros
Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que decidiu pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 14,25%, foi sugerido que a taxa de juros pode voltar a subir.
Rossi acredita que isso de fato deva ocorrer em 2016, embora avalie que não seja a decisão mais acertada. “O BC continua com ideias extremamente conservadoras e tomando decisões com base em diagnósticos errados. A inflação brasileira não é de demanda", diz.
" O aumento da taxa de juros não vai combater a inflação. Pode provocar recessão e desemprego, mas não vai resolver a inflação, porque a inflação é um problema de choque de preços administrados – o que a taxa de juros não afeta. É um problema de oferta, de custos. Não adianta reduzir a taxa de juros.”
Mendes concorda. “Quando nós subimos a Selic de 2013 até agora em 7 pontos percentuais, de 7,25% para 14,25%, a pretexto de combater a inflação, o que aconteceu? A inflação subiu. Ninguém está consumindo. Se o consumo está caindo e a inflação ainda está alta, não é de demanda, é de custo, de oferta.”
Ajuste fiscal e contas do governo
Em meados de 2015, o governo anunciou um pacote de R$ 64,9 bilhões para aliviar as contas públicas. Porém, com Joaquim Levy à frente do Ministério da Fazenda, o governo teve dificuldades para aprovar medidas de corte de gastos públicos e aumento de impostos no Congresso.
Após a troca do comando do Ministério, que passou ao comando de Nelson Barbosa, a relação entre o governo e o Congresso continuará como ponto central para o ajuste fiscal. Economistas ouvidos pelo G1acreditam que a troca de ministros não alivia essas dificuldades.
“O que adianta uma pessoa bem intencionada e bem preparada se não tem apoio nenhum ao presidente? O que adianta um governo que a presidente da República e o seu staff mais próximo não conseguem fazer coisa nenhuma com o Congresso?”, questiona Santos.
Rossi acredita que o ajuste fiscal foi a principal preocupação em 2015, e "e em meio a essa preocupação a gente viu a economia descambar". Ele afirma que se o ajuste continuar sendo o plano central para recuperar a economia em 2016, a recessão será aprofundada. "O ajuste fiscal ocorreu, e foi muito forte. O gasto público passou de uma taxa de crescimento de 4% a 5% para 2% do PIB. Houve tem uma redução grande do crescimento do gasto público. O gasto com investimento público caiu em torno de 40%", diz.
"Evidentemente a arrecadação caiu muito porque o crescimento caiu. Essa história de que o ajuste fiscal gera crescimento só existe em modelos hipotéticos e não se configura como verdade. O que gera crescimento são expectativas de renda. O empresário só vai investir se tiver renda no futuro, ele vê demanda, ele não vai investir porque o governo fez o ajuste fiscal."
Câmbio
Os economistas esperam volatilidade no câmbio em virtude da estabilidade política, mas não apontam possibilidade de o dólar voltar a patamares mais baixos.
"O câmbio vai continuar extremamente volátil para cima e para baixo. Se a gente chegar a um equilíbrio econômico, tende dar uma equilibrada num patamar um pouco abaixo do que estamos hoje. Porém, quanto mais tempo demorar para isso acontecer, menor vai ser a redução entre a taxa que estiver vigorando e a taxa que vai vigorar depois do equilíbrio – ou seja, o dólar vai cair menos", explica Santos. "Eu não espero nenhum absurdo de subida a não ser que aconteça uma desgraça completa."
Rossi cita ainda como fator que tende a deixar o câmbio volátil em 2016 o cenário internacional, com o mercado de olho no ritmo do aperto monetário nos Estados Unidos após a primeira subida da taxa de juros em quase uma década. "A situação internacional não se definiu, a política americana ainda não está claramente definida nos seus objetivos", diz. "A incerteza com relação a esse movimento de juros internacional provavelmente vai ditar uma volatilidade grande na taxa de câmbio."
Mendes afirma que "o dólar não subiu muito em 2015, e sim voltou ao equilíbrio". "O câmbio de 2015 apenas corrigiu a inflação de 1994 até agora, a inflação dos Estados Unidos menos a do Brasil."
Cenário externo
O ano de 2015 foi marcado por preocupações com a desaceleração da economia chinesa e com a recuperação da Europa e dos Estados Unidos, além da queda do preço das commodities nos mercados internacionais. Para os economistas, essas questões devem permanecer sob as atenções em 2016.
"A China tem uma notícia um pouquinho melhor porque parece que vai deixar de andar pra trás. Se não é uma maravilha de crescimento em termos de números fantásticos como tinham antes, pelo menos não é tão ruim como vinha sendo", avalia Santos. "Mas eu acho que a situação de commodities em geral é ruim e alguém vai ter que dar uma reduzida na oferta para conseguir subir o preço. O minério de ferro, negócio da Vale, está muito feio. Para alimentos o Brasil tem condições de competir por conta da produtividade, mas na realidade não é um cenário como foi de 2003 a 2007."
Já Rossi menciona resquícios da crise de 2008 na economia internacional, com eleitos para o Brasil. "A gente ainda vive uma crise mal resolvida, a grande crise financeira de 2008 se arrasta ao longo dos anos. A gente ainda continua com ajustamento das economias centrais e com e redirecionamento da economia chinesa por conta dessa crise internacional,"
"Portanto, eu não sou otimista com relação a uma saída exportadora, que o Brasil volte a crescer por conta das exportações com a taxa de câmbio desvalorizada. Essa saída é muito improvável porque a economia internacional continua andando de lado, com muita dificuldade", diz Rossi.
Mendes discorda que dificuldades internacionais estejam puxando a recessão do Brasil de forma relevante. "O mundo não é o problema do Brasil. É o Brasil que está puxando a América Latina para baixo. Nós é que estamos encolhendo", afirma o economista.
"Os EUA estão crescendo acima de 3% e gerando novos empregos todo mês. Da própria Europa já está se falando menos. A China parou de crescer a 10 ou 11%, agora vai crescendo próximo de 7%, por isso a demanda dela por commodities vai ser menor e os preços estão caindo. Mas o Brasil, nos últimos 35 anos, só em 2 cresceu 7%. Ou seja, o mínimo da China é o máximo nosso. O problema é que aqui dentro.”
Fonte: G1