Com temática existencialista, a obra segue uma das mais populares do mundo, mesmo 70 anos após seu lançamento – no Brasil, ela chegou somente em 1945, pela Agir, mas a estreia mundial ocorreu dois anos antes, em 6 de abril de 1943, nos Estados Unidos.
"Exupéry traz o reencontro do adulto com olhar perdido de criança e também o encontro da criança com questões da vida adulta", analisa Verónica. A temática a um só tempo densa e acessível, que encontra identificação em diferentes faixas etárias, é um dos pontos indicados pela professora para explicar o sucesso persistente da obra. "Também não podemos deixar de lado o fenômeno editorial dos anos 1980, quando o livro chegou a ser lido como autoajuda", acrescenta.
Definida pelo filósofo alemão Martin Heidegger como uma das maiores obras existencialistas do século 20, O Pequeno Príncipe é um dos livros mais traduzidos do mundo, mas não há consenso sobre o número exato: no site oficial da obra, Le Petit Prince, fala-se em 257 idiomas e dialetos, e há edições no Camboja e no Japão, por exemplo. No país nipônico, o sucesso foi tanto que há um museu dedicado ao Pequeno Príncipe na cidade de Hakone.
Desde a publicação, a trama já foi contada em diversas plataformas, como na série de desenho animado As Aventuras do Pequeno Príncipe, lançada no final da década de 1970. Mais recentemente, o livro inspirou uma animação computadorizada homônima, exibida no Brasil pelo canal de TV por assinatura Discovery Kids, e uma série em quadrinhos publicada pela Editora Amarilys.
O autor
Exupéry, assim como um dos personagens do livro, também foi piloto. No final da década de 1920, o francês, que ficou conhecido como "o poeta da aviação", foi designado para trabalhar em Buenos Aires e chegou a pousar algumas vezes no Brasil. Um dos pontos de abastecimento estabelecidos pela empresa francesa de correio aéreo Latécoère, onde ele trabalhava, localizava-se na cidade de Florianópolis, em Santa Catarina. Ali, ele ficou conhecido entre os habitantes como "Zeperri", e passou a fazer parte da história da cidade – hoje, a capital catarinense conta com uma avenida nomeada em homenagem à principal obra do autor, Pequeno Príncipe, na praia do Campeche.
Além da América do Sul, Exupéry participou de missões em diversas localidades, da América do Norte à Europa. Ele foi visto pela última vez em 1944, quando decolou de uma base aérea no Mar Mediterrâneo e não retornou. Um bracelete com seu nome foi resgatado do Mar de Marselha, na década de 1990, e conduziu aos destroços do avião pilotado pelo francês. As circunstâncias da sua morte, contudo, não foram esclarecidas.
Na sala de aula
O Colégio Mater Amabilis, em Guarulhos (SP), ainda hoje adota a leitura de O Pequeno Príncipe. O livro foi trabalhado na escola entre 2007 e 2010, e voltou à sala de aula em 2013. A obra, que conta a história de um piloto que se perde no deserto e encontra um "pedacinho de gente" vindo do asteroide B612, é apresentada aos alunos do 7º ano do ensino fundamental, que têm, em média, 12 anos.
De acordo com a instituição, o livro é escolhido por abordar aspectos da relação humana e do próprio ser humano, o que faz com que os alunos pensem nas suas atitudes através das metáforas. Além disso, o colégio aproveita para fazer uma relação com o nome de sua escola de educação infantil, Pequeno Príncipe, que mantém esse nome desde sua fundação, há 44 anos.
Para André Valente, professor de literatura do Cursinho da Poli, O Pequeno Príncipe não deve aparecer em grandes vestibulares como os da Fuvest, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) ou da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pois as instituições tendem a trabalhar mais sua própria lista de livros. "No Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é mais provável, mas também é difícil. Se cair, é possível que a questão esteja mais voltada à filosofia do que para a literatura", explica, ao mencionar que o exame costuma trabalhar com questões humanísticas.
Enquadrado pelo site PublishNews na categoria infanto-juvenil (categorização questionada por alguns críticos literários), foi o segundo livro mais vendido em fevereiro de 2013 e o quinto no segmento em todo o ano de 2012, segundo o ranking. Desde 2002, quando a editora Agir foi incorporada pela Ediouro, o livro vende uma média de 300 mil exemplares por ano, e está na 48ª edição no País.
Fonte: Terra