Um monte de papéis espalhados pela mesa, milhares de fotos de inspiração grudadas nas paredes e uma coleção enorme de bonecas Barbie enfileiradas na prateleira superior. Este é o escritório da figurinista americana Janie Bryant, responsável pelo estilo do seriado "Mad Men". "Meu escritório é uma bagunça, mas gosto de ter várias fontes de inspiração por perto, como revistas, catálogos e muitas fotos para criar os figurinos", contou Janie durante palestra sobre o livro "The Fashion File", escrito em parceria com a jornalista Monica Corcoran Harel. As duas vieram ao Rio a convite do RioMarket, evento de palestras e workshops que acontece paralelamente ao Festival do Rio.
O trabalho de Janie em "Mad Men" já rendeu três indicações ao prêmio Emmy. O seriado, que começou em 2007, está na sétima e última temporada, cuja segunda parte será exibida apenas em 2015. Durante o tempo que está no ar, o figurino dos personagens Don Draper, Betty Francis, Peggy Olson, Joan Harris e Roger Sterling, entre outros, é tido por muitos como uma das razões para a retomada do estilo retrô na moda.
"Quando a coleção do Michael Kors foi lançada [em 2008], as roupas eram tão inspiradas em 'Mad Men' que ficamos todos incrédulos. Ele foi o primeiro estilista a claramente se inspirar no seriado. Depois dele, aconteceu o mesmo na Prada, Louis Vuitton, Vera Wang, todas principais grifes, até chegar às redes de massa, como Target. Me senti incrível e extremamente honrada, até porque sempre achei que o figurino era uma das estrelas da série, então foi incrível receber esse reconhecimento de tantas pessoas".
Desde então, o sucesso foi tanto que a própria Janie assinou coleções especiais em parceria com marcas como Brooks Brothers, Banana Republic e a fabricante de roupas íntimas Maidenform. "'Mad Men' me deu a possibilidade de fazer coisas que jamais imaginei, como escrever o livro e criar coleções paralelas, por exemplo".
Na hora de criar os figurinos para o seriado, Janie conta que o trabalho começa quando recebe a primeira versão do roteiro de gravação. "Leio umas duas ou três vezes e anoto o número de personagens, a quantidade de troca de roupas e tento entender a história e o tom dos diálogos das cenas. Tenho determinadas cores que imagino para personagens específicos e, com isso, começo a fazer o croqui dos looks. O problema é que na TV você tem de trabalhar muito mais rápido do que no cinema. Em 'Mad Men', por exemplo, o normal é termos quatro dias de preparação antes de as gravações começarem para aprontar todas as roupas", contou a figurinista.
Engana-se quem pensa, no entanto, que o trabalho de Janie é apenas criar looks, da mesma forma que um estilista, por exemplo. "O figurino não é sobre moda, é uma ferramenta para desenvolver e dar profundidade aos personagens. Não crio apenas para mulheres magras e altas, crio figurino para personagens de todas as idades e biótipos diferentes". No caso de "Mad Men", a figurinista costuma pesquisar referências em revistas de moda dos anos 1960 e 1970, época em que se passa o seriado, além de catálogos e fotografias antigas. "Nunca tive a intenção de dar um ar fashion aos personagens. 'Mad Men' é sobre mostrar visualmente o dia a dia desses personagens através do figurino", explicou.
No caso de Don Draper, interpretado pelo bonitão John Hamm, Janie disse que o foco sempre foi manter o figurino o mais sóbrio possível. "Sempre achei Don um personagem misterioso e cheio de segredos, então criei uma cartela de cores bem mínima, sóbria e elegante", comentou ela. "No caso dos atores, acho que a única coisa que eles acharam estranho é a cintura da calça ser tão alta e chegar quase no umbigo. No começo eles adoravam reclamar disso, mas depois entenderam que era importante se manter fiel ao figurino para ajudar a compor melhor o personagem."
Quanto às mulheres, o motivo de reclamação constante eram as lingeries. "Elas reclamavam dos sutiãs desconfortáveis e dos espartilhos, mas o importante não é apenas o que os telespectadores estão vendo: eles mudam a postura e modificam a maneira de andar. A única que reclamava do figurino em si era Elizabeth Moss [que interpreta Peggy Olson], porque ela odiava ter de usar roupas na cor mostarda, que é um dos tons principais da personagem dela", contou.
Ego