Camarões que rastejam em torno de chaminés de rochas que expelem água quente, no fundo do mar do Caribe, podem ser uma pista essencial sobre os tipos de vida que podem existir em ambientes extremos de outros planetas, segundo a NASA.
A nova espécie de crustáceo, batizada como Rimicaris hybisae, vive em bando, aglomerada, em fontes hidrotermais submarinas a 2.300 metros de profundidade, onde as temperaturas chegam a 400 graus Celsius e é muito, muito escuro. A água ao redor das fontes, no entanto, é morna o suficiente para que o camarão possa viver nela. Já a água extremamente quente que sai das aberturas é onde cresce o alimento desses animais. Esses camarões-vagalume, que brilham no escuro, se alimentam do carboidrato produzido pelas bactérias que vivem dentro das fendas. Eles são cegos, mas têm sensores térmicos na parte de trás de suas cabeças.
E o que isso tem a ver com os alienígenas? Se esssas bactérias podem sobreviver em condições tão extremas na Terra, talvez outros seres também sejam capazes de viver em ambientes semelhantes, em outros planetas, como, por exemplo, na gelada lua de Júpiter, Europa, que tem um oceano subterrâneo.
— Durante dois terços da história da Terra, a vida existiu apenas como vida microbiana”, diz Max Coleman, pesquisador sênior do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, na Califórnia, em entrevista ao próprio site da agência espacial americana. “Na [lua] Europa, a melhor chance para a vida seria microbiana”.
Se os camarões comem o carboidrato produzido pelas bactérias, o que esses seres microscópicos comem então? Os cientistas explicam que as bactérias obtêm sua energia por meio de reações químicas, uma vez que o sulfeto de hidrogênio é abundante nas fendas submarinas, através de um processo chamado quimiossíntese, que funciona na ausência de luz solar. Elas utilizam o gás — que tem odor de ovos podres e carne em decomposição — para produzir matéria orgânica.
— Se um animal como este poderia existir na Europa depende muito da quantidade real de energia que é liberada lá, através de fontes hidrotermais — explica Emma Versteegh, uma estudante de pós-doutorado no laboratório.
Porém, se os camarões, que vivem na costa oeste de Cuba, não conseguem encontrar bactérias para produzirem carboidrato, eles não morrem. Se tornam carnívoros ou até canibais. Os pesquisadores encontraram pedaços de crustáceos nas entranhas dos camarões e, já que não há uma grande oferta de animais da família dos crustáceos nessa região, os cientistas acreditam que eles comem seus semelhantes quando necessário.
O Globo