Se alguém ainda tinha alguma dúvida, agora é mais do que oficial: Anderson Silva vai voltar às suas origens, treinar taekwondo e lutar por uma vaga dentro do cronograma para os Jogos Olímpicos do Rio 2016 . Sem medo de ser feliz. "Estou disposto a enfrentar esse desafio e até mesmo a passar vergonha", disse a lenda do MMA , que, por enquanto, focará sua rotina de treinamentos estritamente na modalidade em que iniciou a carreira de lutador, ainda aos sete anos.
Suspenso preventivamente pela Comissão Atlética de Nevada por ter sido pego em dois exames antidoping – um antes e outro no dia do combate contra o americano Nick Diaz, na luta que marcou o seu retorno após longo período se recuperando de uma fratura na perna –, Anderson confessou que "essa era uma ideia que eu sempre tive, mas que a rotina do UFC me impedia".
"Não estou aqui para roubar a vaga de ninguém", fez questão ainda de ressaltar ele, que tentará um dos dois lugares masculinos disponíveis para o Brasil por ser o país-sede da Olimpíada – também há duas vagas femininas. Se a Comissão pedir o seu afastamento de qualquer tipo de competição junto à Agência Internacional Antidoping (Wada), o lutador já disse que vai "respeitar".
"As seletivas serão colocadas em prática a partir de janeiro, para todos. Temos quatro vagas a serem conquistadas, e vamos deixar correr. A chapa vai esquentar, e o interesse é que vá o melhor", explicou o presidente da Confederação Brasileira de Taekwondo, Carlos Fernandes. Ele não nega que a atenção que Anderson Silva está trazendo para o esporte "é como uma Mega Sena, ganhamos na loteria".
Atualmente, o Brasil tem apenas a lutadora Íris Tang Sing no considerado ranking internacional que garante vaga automática nos Jogos de 2016, por ser uma das seis melhores do mundo na categoria até 49 kg. Desta forma, restariam ao país-sede outros três lugares, se mantida a posição de Íris até 2016: dois no masculino e um no feminino.
"Primeiramente, eu tenho que voltar aos treinos. Eu sou realista, sei que as condições que eu tenho hoje de participar de qualquer competição estão muito longe. Eu tenho que ganhar velocidade, aprender a usar o equipamento, totalmente mudado hoje. As regras mudaram, mas a expectativa é grande. Você não pode deixar de acreditar nos seus sonhos. Não vai ser agora que eu vou deixar de acreditar", disse Anderson Silva.
A campanha do marketing
Anderson Silva fez muito o uso da palavra "companheiros" na coletiva de imprensa, mas vai ter que não só sobressair na parte técnica para ser merecedor de uma vaga como ainda lidar com as críticas de quem vê a sua atitude como uma jogada de marketing.
Em entrevista ao Terra na semana passada, Diogo Silva, maior mome do taekwondo masculino brasileiro, afirmou que a CBTKD terminou os Jogos Olímpicos de 2012 falando em renovação, e agora "querem colocar alguém que tem 40 anos para lutar".
"Nossa maior preocupação era não transformar os Jogos Olímpicos, que envolvem muitos sonhos e dedicação, em um comércio. O boxe teve essa experiência com os irmãos Nogueira no Pan-Americano de 2007. Agora, abre uma brecha para muitos lutadores tentarem fazer a mesma coisa. Esse sempre foi meu maior medo", explicou ainda.
A CBTKD já afirmou que uma das vagas a que o Brasil tem direito em 2016 ficará com um lutador masculino acima de 80 kg, ou seja, a categoria de Anderson Silva. No entanto, Guilherme Dias, por exemplo, medalhista de bronze no Mundial de 2013 na categoria até 58 kg, não bateu o peso neste ano e não participará da competição de 2014. Desta forma, ficará sem um lugar no ranking internacional que premia com uma vaga os seis melhores do mundo.
Sendo assim, fatalmente a confederação teria que dar uma vaga para Dias, o que poderia preterir atletas de alto rendimento, como Guilherme Félix, que vem galgando espaço e é uma esperança na modalidade. A CBTKD, no entanto, nega qualquer tipo de favorecimento a qualquer atleta.
Já Anderson Silva, que disse que a idade não vai pesar "para quem é atleta e não tem vícios", o sonho de participar de uma Olimpíada, um sonho pessoal seu, falou mais alto após toda a polêmica do seu doping no UFC. "Qualquer atleta que tivesse a mesma oportunidade que eu, com isso em mente, de coração, tentaria fazer isso. O principal é você ter verdade", afirmou.
"As pessoas não vão gostar de algumas coisas que você vai fazer. Eu sempre treinei não só para ganhar, mas para provar para quem estava assistindo que tudo é possível. Isso incomoda um pouco as pessoas. Principalmente um cara que saiu do nada, atendente de lanchonete, e conquistou tudo o que conquistou. Se você não tentar, você nunca vai saber", concluiu.
Fonte: Terra