Além disso, o menino contou que, já na ambulância, quando era levado para o hospital, já sabia que iria perder o braço. Ele foi atacado por um tigre de mais de 200 quilos no dia 30 de julho.Depois da amputação, Vrajamany ficou internado por uma semana, recebendo alta médica na última quarta-feira (6). Ele retornou a São Paulo, onde mora com a mãe, a funcionária pública Mônica Fernandes Santos, no dia seguinte, quinta-feira (7).
Brincar com animais é algo comum na casa em que Vrajamany vive com a mãe, o padrasto e com um dos irmãos. Eles têm dois cães de estimação.No fim do mês passado, o menino viajou com o pai, que também mora em São Paulo. Eles foram visitar o irmão caçula, por parte de pai, no Paraná. No dia 30, os três foram ao zoológico de Cascavel.
Pela primeira vez, Vrajamany falou sobre o ataque.
Pergunta – Quando você chegou, como é que foi? Tinha mais gente olhando?
Resposta – É, quando eu cheguei não tinha ninguém no zoológico.
P – Nem visitante, nem vigia?
R – Nem visitante, nem vigia. Tinha poucas pessoas. Eu já pulei a cerca para ver melhor. Mais de perto.
Segundo ele, nessa hora o pai não estava junto.
R – Meu pai ainda tinha ficado lá para trás, eu estava sozinho.
P – Você foi andando na frente?
R Fui.
O menino buscou o pai e voltou a pular a cerca.
P – É aí que você resolveu dar comida?
R – Não, eu não tinha comida. Eu fui almoçar e voltei de novo.
Vrajamany levou os ossos de frango no bolso. Pela terceira vez, entrou na área restrita. Visitantes filmaram quando ele ofereceu a comida ao leão.
P – Você não ficou com medo do leão?
R – Não.
P – Não achou que ele pudesse te morder?
R – Não, né, até porque ele não passa pela grade.
Depois, ele foi para a jaula do tigre.
R – Meu pai ficou no tronco e eu fiquei brincando com o tigre.
P – Teve gente que falou que o tigre fez xixi ali querendo marcar território. Você percebeu?
R – É, eu esqueci que ele marca território, né?
Ele também contou por que escalou a grade.
P – Teve uma hora que a gente viu que você escalava a grade. Por quê?
R – Para ele chegar perto assim. Porque ele ia para lá e ficava um pouco. Aí, você subia, ele vinha para cá assim.
P – Você não teve medo?
R – Não.
P – Achou que ele pudesse te atacar?
R – Não.
Para ele, era diversão. Mas o tigre reagiu.
R – Ele pegou a minha mão, eu fiquei assim e já não vi mais o que aconteceu.
P – E aí, como é que foi?
R – Aí, meu pai já veio correndo do tronco, pulou a cerca, bateu na cara dele e aí ele soltou o meu braço. O outro homem lá me ajudou a tirar da cerca e aí eu fiquei deitado na grama até chegar o bombeiro.
Vrajamany lembra de ter pedido para não sacrificarem o tigre. Não é culpa dele. Eu que coloquei a mão lá, ressaltou.Os médicos que atenderam o menino no Paraná identificaram duas mordidas do tigre: uma na mão direita e outra na altura da axila. Segundo eles, por apenas dois centímetros, os dentes do animal não atingiram artérias importantes que passam perto do ombro. Nesse caso, o menino poderia ter morrido na hora.
P – Você desmaiou?
R – Não. Estava consciente.
P Lembra de tudo?
R Sim.
O socorro foi rápido, mas os médicos avaliaram que não havia chance de reconstrução. Optaram pela amputação do braço direito.
R – Não tomei choque, não, porque na ambulância eu já sabia que iam cortar meu braço.
P – Você achou que iam cortar?
R – Eu já fiquei triste lá, já.
A Polícia Civil do Paraná investiga de quem é a responsabilidade. E, na última sexta-feira (8), chamou o pai para novo depoimento. Mas ele preferiu o silêncio por orientação do advogado.
Todas as posições que se levantaram, eu entendo e não culpo ninguém. Esses dez dias foram a coisa mais estranha que já vi na minha vida. Temos uma relação de muita cumplicidade e temos uma história que é difícil terem a dimensão sem ter conhecimento, afirmou Marcos do Carlo Rocha, pai do menino.
R – O meu pai não teve culpa. Ele não sabia que ia acontecer.
P – Ele disse que não viu o perigo.
R – É. Nem eu vi.
Atividades que eram simples, agora causam certa dificuldade. Vrajamany é destro. O foco é fazer o braço esquerdo assumir novas habilidades. Assim que ele chegou de viagem, ele foi tomar banho e a mãe foi ajudá-lo a tirar a roupa e ele falou: ‘Não, Para!’ Deixa que eu consigo tirar a roupa, conta Luís Rigamonti, funcionário público, padrasto do menino.
Porque eu quero voltar a fazer as coisas sozinho rápido, né?, justificou o menino.
O próximo desafio do Vrajamany é voltar para a escola. Para isso, ele vai ter de reaprender a escrever com o braço esquerdo. Mas os colegas de sala de aula já disseram que estão dispostos a ajudar.
Eu estou devagar para escrever, disse Vrajamany. A família ainda não sabe se ele vai poder usar prótese. E nem se eles vão ter condições de pagar por uma.
Vamos marcar na semana que vem consulta em um centro de reabilitação. Vamos esperar uma avaliação de médico, afirmou a mãe. O menino faz planos.
R – Ah, quero uma prótese humanoide, né?
P – O que é uma prótese humanoide?
R – É igual a um braço, tem os mesmos movimentos que um braço.
Eu fico feliz porque a vida é uma dádiva. E em momento nenhum ele está pensando em jogar a vida dele fora. Ele está persistindo, sabe que tem que viver e é corajoso.Então, todos sofremos uma transformação, declarou a mãe.
G1