Economia

Mercado consome mais de um terço dos gastos do trabalhador de baixa renda

Mais de um terço (36%) do consumo das classes C e D se concentra em gastos com mercado. A segunda maior categoria da lista, restaurantes, responde por 11% do consumo. Com isso, quase metade dos gastos da base da pirâmide está vinculada à alimentação e, em menor escala, a itens de higiene pessoal e limpeza.

Os dados, levantados pela fintech Superdigital, do Santander, foram obtidos pelo jornal Folha de S.Paulo. A pesquisa foi feita a partir do banco de dados da Superdigital, que abrange 700 mil usuários ativos em todo o país que fazem compras todos os meses com cartão de crédito ou débito. Essas pessoas estão empregadas em regime CLT ou são trabalhadores temporários.

Os resultados reforçam como a inflação dos alimentos está corroendo a renda dos mais pobres –em janeiro, o maior impacto do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) veio do segmento de alimentação e bebidas (0,97%), que acelerou frente ao mês anterior (0,35%).

"Percebemos que as classes C e D estão mais receosas quanto a gastos", diz a CEO da Superdigital, Luciana Godoy. No Natal, por exemplo, as compras se concentraram nos últimos oito dias de dezembro.

"No Natal de 2020, por sua vez, essas compras haviam sido feitas entre novembro e dezembro, já aproveitando a primeira parcela do 13º salário", diz. Além disso, esse público consumiu 13% menos no último Natal em relação a dezembro de 2020.

Na opinião da executiva, o comportamento está relacionado à falta de confiança do consumidor em meio à crise sanitária, econômica e política. "As pessoas estão ressabiadas, com medo de comprar e se endividar. Esperam para saber se aquele gasto vai caber no bolso."

Em janeiro, segundo Luciana, houve um recuo importante nos gastos em relação a dezembro, maior do que um ano antes. "Mas ainda estamos apurando se essa queda está relacionada a uma redução dos gastos ou ao maior uso do Pix, que vem se tornando cada vez mais popular", diz a executiva, ao destacar que a Superdigital não contabiliza os pagamentos eletrônicos instantâneos.

"Estes três primeiros meses são de muita cautela. O trabalho das classes C e D está muito atrelado ao presencial e o avanço da variante ômicron neste início de ano assustou", diz.

Ao mesmo tempo, a postergação ou cancelamento das festas de Carnaval nas grandes cidades compromete parte das expectativas de ganhos desses trabalhadores.

Outra mudança importante apontada pela pesquisa foi a busca das classes C e D por fazer compras presencialmente. A fatia de gastos realizados pela internet recuou de 17% em agosto para 13% em dezembro.

"Esse público circulou mais em dezembro, daí o aumento nos gastos com transporte, que apresentou a maior variação no mês -de 9%- em comparação a novembro", diz Luciana.

Os demais segmentos que mais cresceram em dezembro em relação ao mês anterior foram hotéis e motéis (8%), supermercados (8%), lojas de roupas (7%) e lojas de artigos diversos (5%).

No período, houve queda nos segmentos rede online (que envolve compras por aplicativos ou marketplaces, com recuo de 8% no período), companhias aéreas (-5%) e serviços (-3%).

Em relação às expectativas para 2022, Luciana acredita que o ano será turbulento por conta das eleições, que costumam minar a confiança de empresários e investidores.

"Mas ao mesmo tempo vemos o avanço da vacinação, o que é importante para garantir as atividades presenciais, e a manutenção do nível de contratação em algumas indústrias como a de construção civil, que são fatores positivos."

Redação

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